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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

Análise: Afinal, tudo é design!

Luciano Deos, fundador e CEO do GAD’ e presidente do júri de 2011, avalia a queda das distinções entre disciplinas, formatos e meios, “e de quem faz o que”, e nota que 14 dos 21 Leões de Ouro em Design, incluindo o Grand Prix, são voltados a temáticas e causas socias


24 de junho de 2017 - 4h55

Luciano Deos

Por Luciano Deos, fundador e CEO do GAD’, foi jurado de Design no Cannes Lions em três edições, incluindo a presidência do júri em 2011

Chego a Cannes mais uma vez com grande expectativa sobre a categoria de design, até porque, sem querer puxar a brasa pro meu assado, como se diz na minha terra, considero a categoria mais interessante de ver e apreciar no festival, em função da sua diversidade de expressões, formatos e meios. Marcas, posters, livros, peças promocionais, digital, som, ambientes, ilustrações, tipografia, filme, engajamento, tá tudo aqui… e talvez até demais. Este ano também completa 10 anos desde que Design foi incluído em Cannes e que nós, não nativos da publicidade, começamos a frequentar e participar deste ambiente tão excitante, quanto intrigante. Portanto, Design hoje é uma categoria madura e consolidada no Cannes Lions, sendo já umas das mais relevantes em termos de inscrições e que já deu até frutos, gerando a jovem categoria de Product Design.

Depois de ter participado como júri por três edições, e portanto ter vivido a categoria muito intensamente no passado, encontrei o Design este ano mais parecido com as outras categorias. Não sei se isto é uma sensação de quem olha como espectador e portanto consegue olhar mais o todo do festival, ou talvez seja por não ter vindo a Cannes nos últimos anos, o que faz que esta sensação de tudo estar mais parecido ser ampliada. Talvez de fato a categoria esteja refletindo a própria evolução da nossa atividade, onde distinção entre disciplinas, formatos e meios, e de quem faz o que, não existem mais.

Mas, talvez, o que mais me chame a atenção, além desta quase inexistente distinção entre categorias, seja que 14 dos 21 Leões de Ouro em Design, incluindo o Grand Prix “The unusual football field”, que diga-se de passagem é espetacular e merecido, são voltados pra temáticas e causas socias, o que me leva a conclusão de que verdadeiramente o design esta contribuindo para a sua agenda maior que é a de transformar a vida das pessoas numa vida melhor. Certamente uma grande evolução e sem dúvida uma abordagem inquestionável, pois tenho certeza que ninguém questiona a relevância e urgência destes temas. Mas, ao mesmo tempo, me pergunto se aquele design “comercial”, que fizemos todo o dia e o dia todo para os nossos clientes e suas marcas, pouco reconhecido aqui em Cannes este ano, tem ainda espaço na nossa agenda e no nosso business, já que no festival não tem mais.

Quando me detive a olhar os premiados, mais precisamente os Leões de Ouro, esta sensação se confirma, pois cases como “The Refugee Nation”, “Meet Graham” e “Fearless Girl”, que veem ganhando tudo no festival, também arrebentaram em Design, ganhando juntos 1/3 dos 21 Ouros da categoria. Afinal, são realmente cases espetaculares, que reúnem tudo; uma grande ideia, uma execução primorosa, resultados espetaculares e principalmente engajamento social, já que são cases que tratam de questões socias relevantes, que é o grande “must” desta edição do festival.

Além destes, destaco em particular os cases “One book for Peace”, dos Emirados Árabes, Dubay, uma ideia genial de juntar e comparar num mesmo livro as mensagens e significados da Bíblia e do Al Corão. Além deste, o “Art beats hate”, da Alemanha, que se propôs a mobilizar grafiteiros a redesenharem em cima de pichações de ódio contra imigrantes, criando mensagens e imagens de paz, amor e esperança e gerando um material de alta qualidade estética visual e de grande engajamento social, e por último a “Nike Lunar Epic”, de Singapura, em retail pop up design, um case pra uma marca comercial, que foca em traduzir a proposta de valor da marca e de um novo produto, de forma inovadora, com alto impacto urbano e de grande conexão com os seus usuários.

Já o Grand Prix, “The Unusual Football Field”, da Tailândia, premiado na categoria “spatial brand instalation & experience”, que se propôs a dar um uso as pequenas áreas, degradadas, nas periferias de Bangkok, criando campos de futebol em formatos distintos e possíveis, trouxe aos jovens daquelas comunidades, que não têm onde para se divertir e brincar, espaço onde eles podem exercitar e resgatar sua dignidade através do futebol. Um case realmente impressionante e transformador, de baixo custo e grande efetividade. Um digno Grand Prix e uma mensagem clara de que design é tudo, ou afinal, tudo é design!

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