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Cannes Lions

20 A 24 DE JUNHO DE 2022

As mulheres por trás de “Fearless Girl”

Em conversa exclusiva com Meio & Mensagem, Lizzie Wilson e Tali Gumbiner contam como foi colocar a ideia do case do ano em pé

Isabella Lessa
25 de junho de 2017 - 14h00

Lizzie Wilson e Tali Gumbiner, diretora de arte e redatora sêniores da McCann Nova York (Crédito: Eduardo Lopes)

Lizzie Wilson e Tali Gumbiner trabalham como dupla na McCann Nova York há um ano e meio. Em dezembro, receberam o briefing do cliente State Street Global Advisors cujo objetivo era promover o fundo pró-diversidade da empresa chamado She, que investe somente em empresas compromissadas com a diversidade de gênero.

As profissionais, que já tinham gosto por ideias que gerassem buzz, mas não fossem necessariamente filmes, mentalizaram a garota depois de refletir sobre como Wall Street, massivamente masculina, representa a hegemonia econômica e o quanto as mulheres sentem-se marginalizadas não somente nessa parte da indústria, mas de diversas formas, no mundo.

Após pouco mais de três meses de trabalho, a “Fearless Girl”, estátua de uma garotinha em bronze, foi inaugurada em 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Com as mãos na cintura e um semblante confiante, a menina foi posicionada em frente ao Charging Bull, o icônico touro que é um dos maiores símbolos da rua do mercado financeiro norte-americano desde 1989.

O resto é história, que foi coroada pela indústria ao longo dessa semana no Cannes Lions: em um único dia, o case conquistou três Grand Prix – em PR, Glass e Outdoor – e, no sábado, 24, recebeu o Titanium, reconhecimento máximo do Festival.

Leia a seguir um trecho da entrevista com Lizzie e Tali:

Meio & Mensagem – O que esses prêmios representam para vocês?
Lizzie –
Estamos honradas por estar entre esses trabalhos que vimos no festival. Tali e eu ficamos especialmente empolgadas por ter ganhado o Glass.

Tali – Ganhamos pelo fato de como isso tocou a questão das mulheres. Para mim, os prêmios encorajam as agências a lutar por trabalhos assim porque a realidade do nosso mercado é que os trabalhos que ganham prêmios ditam o que as agências podem fazer. Para mim, o desejo de ganhar reside no fato de poder inspirar outras agências.

M&M – Como foi o trabalho de conceber a garota, da aparência à pose que ela faria?
Lizzie –
Trabalhamos com uma artista incrível chamada Kristen Visbal, ela é especializada em trabalhos de bronze e precisávamos de alguém que estivesse acostumado a trabalhar com esse material se fôssemos tentar nos espelhar na estética do búfalo, era importante para nós usar o mesmo material, além de ter sido muito importante trabalhar com uma mulher. Ela fez a escultura em alguns meses, mas geralmente leva um ano.

Tali – Trabalhamos com ela para saber como seria a pose dela, como seriam os olhos, que idade ela deveria ter. Ela trabalhou com modelos vivas e com fotos que demos a ela. Não era só a estátua em si, mas a plataforma em que ela ficaria, como ficaria sob diversos ângulos da câmera – isso foi muito orquestrado com a fotógrafa. Cortamos o filme de lançamento e deixamos um espaço para a garota porque ainda não a tínhamos pronta. Fomos lá uma vez por semana várias vezes, e mais ou menos faltando uma semana do lançamento fomos lá quase todo dia. Eu ficava no lugar da estátua e a Lizzie ficava andando por toda Wall Street gritando: “mais para esquerda, mais para a frente”! (risos). Nunca estive em um projeto em que cada detalhe era tão importante, então eu e a Lizzie colocamos nosso coração em cada detalhe, em cada palavra, se haveria sapatos, se eles teriam cadarços. E valeu a pena. Minha mãe sempre fala que os patinadores de gelo olímpicos fazem parecer que aquilo é tão fácil, eles deslizam, parece que nunca caíram na vida, é tudo muito fluido. Acho que a garota saiu assim, como se tivesse sido fácil, mas o processo não foi.

M&M – Vocês se lembram do dia em que a escultura foi inaugurada? Como foi?
Tali –
Lembro da primeira mulher que a viu. Havíamos passado a noite inteira ali, tirando fotos e fazendo um filme para imprensa – precisávamos da luz da manhã. Lizzie estava em um hotel e eu estava ali com a fotógrafa na rua. Eram seis da manhã e essa mulher chinesa de meia-idade que mal falava inglês – estava chovendo – ela andou até a garota, olhou para ela, olhou para o búfalo, não sei se ela entendeu e tampouco importa, mas dava para ver a emoção se espalhando pelo rosto dela, que começou a exclamar: “Eu a amo, eu a amo!”. E deu um abraço nela. Foi incrível ver isso transpassar barreiras culturais, ela não tinha ideia do propósito daquilo, apenas absorveu um simbolismo pessoal e transformou aquilo em algo que fez sentido para ela. Aquele foi o único momento que tive com ela antes de toda a loucura para administrar a logística, a imprensa, as redes sociais. Ninguém nunca está preparado para a reação que os outros vão ter.

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