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Muito mais do que uma cadeira bonita

Richard van der Laken, fundador da conferência What Design Can Do, comenta o impacto do design na sociedade


14 de dezembro de 2016 - 18h07

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Richard van der Laken, fundador da conferência What Design Can Do (Crédito: Marie Wanders)

Mesmo em mercados mais desenvolvidos como a Holanda, a percepção que algumas pessoas têm do design não vai além da noção de uma cadeira ou produto esteticamente bonito. É o que afirma o designer gráfico Richard van der Laken, fundador da agência De Designpolitie (polícia do design, em holandês), que ao longo das últimas duas décadas notabilizou-se pelas iniciativas de realizar suas próprias criações visuais – de exposições a revistas – e, mais recentemente passou a engajar-se em questões sociais por meio de diversas ações, entre elas a coluna de opinião “Gorilla”, publicada no jornal De Volkskrant e na revista Groene Amsterdammer.

“Acreditamos que o design pode fazer diferença na sociedade em diversas instâncias. Muitas pessoas veem o design meramente como estética, e é claro que esse continua sendo um componente importante da disciplina, mas é muito importante que a sociedade de hoje perceba o valor que o design pode ter na resolução de problemas que podem ser complexos demais para ficarem somente a cargo do governo. Criativos e designers podem desempenhar um papel muito importante em questões sociais e políticas”, afirma. E justamente com o intuito de difundir essa ideia criou a conferência anual What Design Can Do, em Amsterdã. Realizada na terça e nesta quarta-feira, 14, a segunda edição da versão brasileira do evento reuniu nomes como Fred Gelli, da Tátil Design, o chef do Mocotó Rodrigo Oliveira e a designer colombiana Roxana Martinez na Faap, em São Paulo. A seguir, Laken fala mais a respeito da realização do evento no Brasil e projetos da agência:

De Designpolitie
Comecei com 25 anos com meu sócio Pepijn Zurburg. Éramos oportunistas mas tínhamos paixões, confrontávamos nossos clientes a respeito de seus produtos. O resultado do trabalho muitas vezes era resultado disso, dessa atitude crítica. Destruímos algumas relações por conta disso. Depois de alguns anos, não havia mais clientes para trabalhar. Daí tentamos ser mais abertos e conversar mais em vez de adotar aquela postura “pegar ou largar”. Mas então começamos a nos envolver com projetos não tinham que ter a ver com os clientes. Muitas vezes não somos bons em trabalhar com clientes. É algo que vejo acontecendo no design, designers não esperam que os clientes venham e entreguem trabalho. Eles começam a trabalhar no que têm interesse. Claro que grande parte do universo do design trabalha com clientes, todos tipos de empresas estão interessadas nisso. É importante para os dois lados.

Clientes
Temos clientes leais como a KPN, que é a maior empresa de comunicação dos Países Baixos. Para eles, desenvolvemos mais sites online e focamos na responsabilidade da empresa para om os holandeses, afinal trata-se de uma grande corporação.

Marcas e design
Trabalhamos com a Ikea Foundation, que foca em problemas da sociedade. Mas a marca Ikea está extremamente focada em design, é uma das marcas mais sustentáveis do mundo. Todo ano visita mais de 25 de casas para ver como as pessoas moram, como uma mãe solteira com seu filho lida com os desafios do cotidiano e cria um ambiente seguro e confortável. A Ikea traduz isso em mobília. É um grande exemplo de como traduzir esses insights que vêm da preocupação social para ser uma grande companhia. As grandes empresas podem fazer diferença. Quando algumas dessas companhias decidem erradicar o trabalho infantil e trabalhar de forma sustentável o impacto é muito maior do que se eu ou você fizermos alguma coisa. Mas também, hoje em dia, millennials são o grupo mais importante e não aceitam empresas que fodam com nosso mundo. Se você quer ter um papel importante como marca, tem que lidar com sustentabilidade, direitos trabalhistas. Isso diz respeito ao universo da comunicação como um todo. Claro que dá para continuar fazendo anúncios que empurram produtos para as pessoas, mas os millennials e também os mais velhos não aceitam mais certos produtos e mensagens. É preciso mudar o modelo de negócio para conseguir dialogar e vender seu produto para esse público. Os consumidores e cidadãos estão forçando essa mudança.

Refugee Challenge
Problemas como os dos refugiados são multifacetados, não há somente uma solução. A política pode não trazer uma solução final pois há diversos desafios a serem enfrentados. Em parceria com a Ikea Foundation e a UNHCR Innovation, lançamos um desafio para melhorar a vida dos refugiados que vivem em áreas urbanas. Designers não podem fazer sozinhos, sempre têm que trabalhar junto com marcas, audiência e consumidores. Os designers são apenas um dos elos em uma grande cadeia. Mas são um elo importante. Quando uma pessoa síria vai para a Alemanha depara-se com uma série de problemas. Pesquisamos como o design poderia fazer diferença em alguns desses problemas. Definimos cinco momentos em que poderíamos atuar, e isso vai de centros de recepção que podem ser melhorados à falta de informação das pessoas que não falam o idioma, não sabe para onde ir, não sabe como o país funciona. Por exemplo, esses centros podem ser trabalhados por arquitetos e designers de interiores, especialistas em 3D. Designers gráficos podem trabalhar para ajudar na comunicação e por aí vai. Então fizemos cinco briefings e cada designer escolhe um para trabalhar. Quero enfatizar que trabalhamos na preparação, não queremos ser ingênuos porque é um problema pesado. Trata-se definir onde o design pode atuar de forma relevante, porque só começar de qualquer lugar é ingênuo. Recebemos mais de 630 inscrições, foi um sucesso. E em termos de comunicação conseguimos criar uma narrativa positiva para algo tão negativo. Mostramos que se pode fazer algo. Foi uma campanha de awareness. Cinco projetos foram premiados com dez mil euros e agora estão em fase de aceleração. Surgiram com um protótipo e business plan. Esperamos que convençam stakeholders e empresas para que nos próximos anos possam ser implementados.

What Design Can Do em São Paulo
Escolhemos o Brasil para realizar a conferência pois é um País com uma grande força criativa e que enfrenta sérios problemas, seja no meio ambiente, nas áreas urbanas ou envolvendo questões de identidade cultural. Há muitos designers brasileiros envolvendo-se em projetos direcionados a esses temas e isso é muito positivo. Queremos levar o evento para a América do Norte e para a Ásia, mas por enquanto não é uma prioridade. Dá para fazer muito com a transmissão online.

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