A reputação dos criativos brasileiros no Vale do Silício

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A reputação dos criativos brasileiros no Vale do Silício

Apesar de baixa reputação voltada à inovação, Brasil segue como celeiro de grandes criativos, inclusive os que atuam em São Francisco e em outras cidades americanas


25 de julho de 2017 - 10h03

PJ Pereira, cofundador da Pereira & O’Dell (Crédito: Oscar Nilsson)


Por Luiz Gustavo Pacete, de San Francisco*

Com um PIB de US$ 301 bilhões e dentre as dez maiores economias dos Estados Unidos, a cidade de São Francisco, que compõe o Vale do Silício, é sempre lembrada por abrigar centros de decisão de importantes empresas de tecnologia. A efervescência da região também influencia diretamente no dia a dia das agências de publicidade que lá atuam.

Neste contexto, criativos brasileiros ganham destaque na cidade. Ainda que em termos de reputação tecnológica, o Brasil não esteja entre os principais países. Do ponto de vista criativo, os brasileiros são muito bem cotados. PJ Pereira, CCO e cofundador da Pereira & O’Dell, explica que o Brasil é hoje um dos principais focos do recrutamento internacional entre as agências americanas. “Em parte por causa da qualidade do trabalho, especialmente na direção de arte e inovação, mas também porque para trazer estrangeiros, premiações internacionais ajudam muito para conseguir vistos e o Brasil tem muita gente premiada”, diz PJ.

PJ afirma que, dentre os brasileiros que atuam nos Estados Unidos, estão vários grupos que se conhecem. Os de São Francisco, o grupo de Los Angeles e os de Nova York. Esses profissionais acabam, naturalmente, passando por todas essas cidades. “Aqui em São Francisco é tudo mais lento, porém maior e menos dependente de um determinado tipo de mídia. Há clientes grandes ainda presos nos modelos mais antigos, mas são poucos e estão se aposentando rápido”, diz PJ.

Segundo ele, as agências da cidade são mais independentes que as grandes redes e a maioria dos clientes são engenheiros, o que muda a dinâmica do trabalho. “Eles são mais abertos e até querem fazer coisas diferentes, mas são menos treinados nos fundamentos do marketing. As relações são bem mais efêmeras. Os profissionais trocam muito rápido de posição e de empresa e os briefings e as agencias vão mudando junto”, diz PJ.

Paulo Melchiori, executive creative da R/GA San Francisco, que foi responsável por instalar um escritório da agência em São Paulo, conta que existe uma comunidade enorme de publicitários, produtores, designers e programadores brasileiros na cidade. “Só na R/GA San Francisco são mais de dez. Em 2010, quando morei aqui pela primeira vez, éramos um grupo pequeno e muito unido. PJ Pereira, Mauro Cavaletti, Mauro Alencar, Fabio Costa, Fred Siqueira, Cassiano Saldanha e outros colegas que viraram amigos pra sempre. Hoje, temos muito mais brasileiros não só nas agencias, mas nas gigantes de tecnologia como Apple, Facebook, Google, Uber e outros”, diz Melchiori.

Paulo Melchiori, executive creative da R/GA San Francisco (Crédito: Eduardo Lopes)

 

Melchiori reforça que trabalhar com publicidade na região é um grande desafio. “Primeiro, pela disputa de talento: aqui competimos pelos melhores profissionais não só com as grandes agencias, mas com empresas de tecnologia e com centenas de startups. A demanda local por talento e tão grande que nós contratamos a maioria das pessoas de outros estados e outros países”, diz. Na R/GA estão funcionários de vinte e duas nacionalidades diferentes. “Outro desafio é o fato de que as empresas mais inovadoras, a maioria aqui no Vale trabalha com times internos, e quando você tem criativos tanto no cliente quanto na agencia, a dinâmica muda muito”, ressalta Melchiori.

Rafael Cordeiro, diretor sênior de arte da AKQA, desde outubro de 2014 em San Francisco, explica que a dinâmica de trabalho é muito diferente de outras regiões. “É muito diferente do modo que se trabalha no Brasil. Times são bem estruturados por disciplinas relevantes ao projeto (UX, Strategy, Design/Creative, Project Management). Você acaba pegando um projeto do começo ao fim passando por diferentes etapas, do planejamento ao concept e execução. Você acaba entendendo o projeto como um todo e fica mais fácil focar no problema e obter melhores resultados”, diz Cordeiro.

Segundo Cordeiro, a relação com o cliente é mais próxima, o design tem valor. “Em um projeto há vários rounds de apresentação e ajustes e timings são respeitados. Pelo fato dos projetos durarem mais tempo você acaba colocando menos trabalho na rua comparado ao Brasil. Aqui os projetos podem durar meses e isso exige grande jogo de cintura e paciência até ir pro ar. Acredito que os clientes tem mais consciência da importância do design e há um investimento e procura muito maior por inovação e tecnologia”, diz Cordeiro.

Octavio Maron, diretor criativo da Fetch, agência do Grupo DAN, chegou a São Francisco em janeiro do ano passado e atende clientes como Lululemon, Hulu, AEG, WinView, Hotels.com, Travelocity, Apple Music. “Trabalhar em SF além da diferença cultural entre Brasil e EUA, tem alguns pontos característicos da região, o ambiente de trabalho é muito mais calmo e organizado e a relação trabalho e vida pessoal é levada em conta todos os dias”, conta.

Segundo Maron, o Vale do Silício é um ambiente receptivo às agências de publicidade. “Muitas das empresas de tecnologia têm em sua estrutura um time de criativos ou designers que conseguem produzir o básico. Porém, a maioria deles ainda têm uma agência para suportar as grandes campanhas ou a compra de mídia”, afirma.

*O repórter viajou a convite do Google para o Google Launchpad Accelerator

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