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?Na discussão de Leão, máscaras caem?

Confira essa e outras dicas de João Daniel Tikhomiroff para os jurados que representarão o Brasil no Festival de Cannes


24 de abril de 2014 - 5h03

Para você que sempre teve curiosidade de saber como funcionavam os bastidores dos júris no Festival Internacional de Criatividade de Cannes, as dicas de João Daniel Tikhomiroff, da Mixer, para os jurados que representarão o Brasil no evento neste ano serão muito úteis.

Ele participou de um evento promovido por O Estado de S. Paulo nesta segunda-feira, 24, e que reuniu quase todos os profissionais do País que estarão nos júris de Cannes. Tikhomiroff foi homenageado por sua contribuição ao festival e aplaudido pelos presentes – ele foi jurado em Cannes por cinco vezes, um recorde entre profissionais brasileiros, e é dono de 41 Leões.

Tikhomiroff avalia que a fase mais complicada para o trabalho do jurado é a de escolha de shortlists. Existe uma “regra”, entre aspas, para que 10% dos trabalhos inscritos sejam aprovados e passem para a fase final. Mas isso, argumenta, nem sempre é o melhor e a lógica matemática acaba jogando contra um resultado mais justo e qualificado.

Tikhomiroff conta uma história que mostra como o engessamento pode ser combatido. “No ano passado, eu e o Joe Pitka, presidente do júri de Film Craft, pedimos à organização do festival que nos permitisse mudar essa lógica. Argumentamos que a regra dos 10% era prejudicial com categorias que tem trabalhos muito bons naquele ano e benéfica a outras que não mereceriam ter nem 5%. No começo, ele não gostaram. Mas, ao final, acabaram cedendo. O resultado foi o ovacionamento dos resultados da categoria quando apresentados”, disse.

O júri, afirma, é soberano em relação à questões como essa e outras que parecem pouco importante, mas que fazem a diferença. Uma delas: o tempo que cada jurado leva para dar seu parecer. “É melhor analisar direitinho. Há uma pressão para que não demore tanto e a organização possa ir jantar. Mas para evitar a possibilidade de que um grande trabalho fique perdido, com notas baixas, é melhor assim”, afirma, relatando que, certa, vez, o poderoso John Hegarty ficou furioso quando uma campanha premiada no D&AD, sequer entrou para o shortlist em Cannes. Hoje, diz, o risco é menor, porque os trabalhos “tops” já são conhecidos anteriormente, por meio de sites especializados. Mesmo assim, vale atentar para essa regra. “O júri é o comandante da operação e pode conduzir o ritual conforme sua necessidade. Pode questionar os critérios, mas sem ser chato. São pequenas coisas que fazem a diferença”, afirma.

 

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 Por falar em notas, esse é um momento-chave da definição de shortlists. Algumas regras que parecem óbvias, não são. Se o jurado quiser, por exemplo, avaliar muito bem uma peça, a nota 5, a maior de todas, não é a mais recomendada. “Tem que dar um 3, no máximo 4. A 5 e a 1 são descartadas. A partir daí, tira-se a média das outras”, explica.

A lógica matemática dos 10%, afirma, causa problemas como a de peças que, por distração de um ou dois jurados que deram uma nota baixa, acabam ficando de fora. Sem contar aqueles que não estão devidamente concentrados para avaliar. “Alguns não prestam atenção porque estão no Facebook ou no celular. Você pode chamar atenção de quem não estiver concentrado em sua explanação”, afirma Tikhomiroff.

Ele relata também outro momento importante no júri: a hora de puxar uma peça que ficou de fora do shortlist de volta para a disputa. Nesse caso, todo cuidado é pouco. Se a peça for de seu país, ou de sua rede, e há algum tipo de interesse, talvez valha a pena, sugere, conversar com outro jurado para que ele a puxe de volta. Isso, obviamente, caso ele tenha esse consentimento.

“Algumas peças chamadas de volta se tornaram Leões de Ouro”, afirma. Outra: na hora de chamar peças de volta, reúna trabalhos de vários países para não ser acusado de ter apenas coisas do Brasil.

Obviamente, ressalta, isso tem que ser algo genuíno. Não adianta forçar a barra. O trabalho tem que ser realmente bom.

Jantar agradável
Relacionamento, claro, é uma palavra importante nos júris de Cannes. Mas é nessa parte que muitos jurados brasileiros já se deram mal, e voltaram ao País de mãos abanando, sob acusações do mercado que poderiam ter feito mais. “Você precisa se impôr, e ser ouvido. O júri tem dois ou três membros que são os mais influentes, formadores de opinião, até por sua vivência. É deles que você precisa se aproximar. Ir para o jantar dos jurados, não ser arrogante, falar bem do Brasil e contar as coisas boas que estão sendo feitas aqui. Você tem que ser encantador”, afirma.

Antigamente, conta Tikhomiroff, alguns jurados brasileiros tinham o comportamento de se portar como “o líder dos fracos”. Fracos, nesse caso, referindo-se aos mercados de menos expressão. Assim, valorizavam trabalhos de países como Índia ou Argentina, esta, quando ainda não era uma potência criativa como é hoje. “Eu chegava perto do John Hegart, do Michael Conrad (ex-líder criativo da Leo Burnett). Você tem que ganhar respeito e falar de igual para igual com os formadores de opinião”, afirma.

A hora do Leão
Definido o shortlist, é chegada a hora de escolher a graduação dos Leões. Um pouco exaustos, por conta do trabalho árduo nos dias anteriores, muitos deles “aprontam”, como brinca Tikhomiroff. “Tem cara que era um gentleman na hora do shortlist que se transforma na hora da escolha do Leão”, afirma. “É quando eu brinco que bate o desespero e o cara apronta, grita. É até muito divertido”, descreve. "Na hora do shorlist, muitos ficam quietos, mas se revelam depois. Na discussão de Leão, máscaras caem", diz.

Muitos jurados brasileiros, por conta desse desespero, travam nessa hora e ficam quietos, para depois se arrependerem, relata. “É preciso antes ser agradável, simpático e não colocar os valores de seu país na frente. Noventa e nove por cento das pessoas vão achar que você não fez o suficiente, mas o que importa é a sua consciência de que fez o melhor pelos resultados do país, mas também para o festival. É isso que dá orgulho”, finaliza Tikhomiroff.

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