Comunicação
Comunicação: tamanho único?
Obesos, latinos, homossexuais são tão relevantes comercialmente quanto esportistas, jovens ou donas de casa nos EUA
Obesos, latinos, homossexuais são tão relevantes comercialmente quanto esportistas, jovens ou donas de casa nos EUA
Meio & Mensagem
12 de fevereiro de 2015 - 10h53
Por Marcello Magalhães *
Tempos interessantes estes em que vivemos e trabalhamos. Nada mais é estático e perene. A natureza e o conceito das coisas mudam a qualquer momento, sem precedentes.
Pouco antes do fim do ano passado (e da chegada do frio implacável), estive em Chicago, por onde gosto muito de correr, em parte para curtir a cidade, em parte pelo exercício. E, dessa vez, em certa rua, deparei-me com um anúncio de busdoor que me chamou muito a atenção.
Era um anúncio de uma marca de moda que oferecia sua coleção para manequins, digamos, de proporções "generosas".
Mais do que a imagem que, por si, não era lá muito habitual de se encontrar no mundo idealizado da propaganda, o que me chamou a atenção foi a escolha da mídia feita pela marca. Há alguns anos, poderíamos admitir que uma campanha de busdoor para esse público devesse gerar uma grande dispersão, dada a exposição/visibilidade do meio versus o universo do público – mais restrito – a que se destinava a mensagem.
Para a minha geração, que antecede os millennials, essa campanha publicitária e mesmo até a linha de moda nem existiriam por dois motivos básicos:
Em primeiro lugar, porque, há uma geração, a parcela da população em estado de obesidade nos EUA não passava dos 15% . Ou seja, a massa crítica não seria relevante o suficiente para que uma empresa decidisse se dedicar a investir e desenvolver, distribuir e comercializar esse tipo de moda.
Entretanto, hoje esse segmento ultrapassa impressionantes 35% da população acima de 15 anos de idade. O que faz com que moda para pessoas com sobrepeso seja um mercado massivo e com um público potencial de mais de 100 milhões de pessoas nos EUA.
Em segundo lugar, está a questão do comportamento. E talvez essa seja a razão determinante para que a campanha ou mesmo a linha de moda para gordinhos fosse impossível de ser materializada 40 anos atrás, já que, há não muito tempo, era raro que empresas tivessem o arrojo para empreender em um segmento que não estivesse em linha com os padrões estéticos e de beleza vigentes na época.
Seja pela oportunidade de mercado que se apresenta, seja por uma mudança de comportamento da sociedade americana (talvez os americanos tenham se acostumado a conviver no dia a dia com as silhuetas rechonchudas), esse tipo de inovação e desenvolvimento de negócios torna-se cada vez mais presente no mercado norte-americano.
Marcas e linhas de produto são concebidas à luz da identificação e desenvolvimento de novos segmentos e perfis de consumidores, que há uma geração talvez não tivessem a visibilidade e a representatividade de um segmento massivo. Obesos, latinos, homossexuais são tão relevantes comercialmente quanto esportistas, jovens ou donas de casa nos EUA. E merecem como tais um olhar empreendedor.
No Brasil ainda precisamos caminhar um pouco mais por essa estrada. Se, por um lado, a sociedade vive um momento de abertura ao diálogo e acesso à informação sem precedentes graças aos meios digitais, por outro, o conservadorismo reinante e as nossas políticas comerciais e industriais são verdadeiros obstáculos para que o mercado brasileiro capitalize a oportunidade comercial existente em tantos novos segmentos de consumo ainda a serem desenvolvidos. Em tempo: a taxa de obesidade entre adultos no Brasil é de aproximadamente 16% (Fonte: OECD (2014), OECD Health Statistics 2014, forthcoming, www.oecd.org/health/healthdata)
* Marcello Magalhães é sócio e vice-presidente de planejamento estratégico da Leo Burnett Tailor Made
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