Coffee Break: O propósito das coisas

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Comunicação

Coffee Break: O propósito das coisas

Se vamos compartilhar algo com o mundo, compartilhemos algo que tenha qualidade


18 de fevereiro de 2015 - 3h57

Por Marcos Caetano (*)

Não foram poucos os cafés com o amigo e guru Jaime Troiano, durante os quais conversamos sobre a importância do propósito para as empresas, para as nações e, fundamentalmente, para as pessoas. Uma pessoa que faz as coisas por uma motivação maior é uma pessoa que certamente obtém resultados melhores do que as outras. Todos os seres humanos adoram falar sobre o que estão fazendo. Alguns vão mais longe e procuram discorrer sobre como estão fazendo as coisas. Mas pouquíssimos alcançam a perspectiva de compreender profundamente por que fazem o que fazem. Eu andava refletindo sobre isso quando tive a oportunidade de conversar com Sanjay Khosla, consultor e professor da Kellogg School of Management, que me apresentou um modelo extraordinário para explicar o que motiva as pessoas.

Segundo Sanjay, o que eleva e entusiasma as pessoas, seja na vida privada, seja no trabalho, são Moments of Joy — termo que ele inventou. Esses momentos de felicidade e encantamento ocorrem quando existe um perfeito casamento de prazer com propósito. Às vezes, temos trazer em fazer algo, embora sem um grande propósito envolvido. Comer uma boa pizza, por exemplo. Outras vezes, temos de enfrentar uma situação cujo propósito é elevado, mas que não necessariamente nos dá prazer. Economizar água é a triste imagem que me ocorre no momento. O inferno é quando temos de fazer coisas que não nos elevam e odiamos, como lavar a louça do jantar. Mas o céu, é quando fazemos algo que amamos e, ao mesmo tempo, serve a um propósito maior. O melhor exemplo é trabalhar para transformar a cultura de uma empresa, algo que, além de exercício dinâmico e delicioso, pode mudar para melhor o ambiente de trabalho e a vida de dezenas de milhares de pessoas.

Outro dia escrevi aqui que estamos vivendo um novo período renascentista no mundo. O arquétipo do chamado Homem Renascentista foi Leonardo da Vinci, cujo talento se manifestava nas mais variadas formas de arte e ciência. Pois o novo Renascimento a que me refiro está conectado ao fato de cada vez mais e mais pessoas estarem se tornando, como Da Vinci, multiartísticas. As pessoas voltaram a ler, escrever, desenhar, pintar, compor e conversar nas mais diferentes línguas. Podem receber aulas de mestres do mundo inteiro, organizar manifestações, derrubar regimes políticos, redefinir a sociedade, questionar tudo, transformar tudo.

Isso é muito bonito, mas há uma provocação que eu gostaria de compartilhar: um renascimento interior é a chave para a compreensão de um planeta que se reinventa cada vez mais rápido, com a participação de cada vez mais pessoas e cada vez mais profundamente.

No entanto, não pense que ser um renascentista é escrever alguma coisa, fotografar alguma coisa, desenhar alguma coisa. Um verdadeiro renascentista leva a arte a sério. E não é arte — repito: não é! — postar uma foto do seu pug fofinho, de barriga para cima, no Instagram. Essa foto não vai mudar o mundo. E não teve a mínima pretensão de mudar o mundo. Assim como um texto mal pensado, mal escrito, sem estilo e cheio de erros não é literatura. Há muitos blogs bem escritos por aí e seus blogueiros podem ser considerados autores. Mas a grande maioria não passa de diários adolescentes compartilhados com o mundo. Também não é arte um vídeo cheio de filtros e truques adquiridos com apps descolados, mas que mostra nada mais do que um carinha pulando na piscina para jogar água nas garotas durante um churrasco. Isso. Não. É. Arte.

Lanço um desafio: procure fazer muito bem outra coisa, além das que fazemos para ganhar a vida. Aprenda coisas novas. Fotografe. Pinte. Escreva. Mas faça isso bem. Não tire apenas uma foto: aprenda a fotografar. Estude. Eduque o olhar. E diga: serei um true artist — e não apenas mais um cara que entope as redes sociais com egotrips inúteis. Se vamos compartilhar algo com o mundo, compartilhemos algo que tenha custado esforço, que tenha qualidade, que valha a pena. Uma fotinho ou outra dos momentos de lazer não chega a ser um crime. Mas, com tantos recursos à disposição, fazer só isso certamente é um pecado.

Se buscarmos ser artistas verdadeiros, aí sim poderemos nos tornar homens renascentistas. Aí sim estaremos renascendo. E conforme mais e mais pessoas tiverem esse tipo de postura, mais próximos estaremos de dar um verdadeiro sentido aos tempos extraordinários e renascentistas que estamos vivendo. Sejam Da Vinci! Ou morram tentando.

* Marcos Caetano é diretor global de comunicação corporativa da BRF
 

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