Ponto de Vista: E(Motion) Pictures S/A

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Ponto de Vista: E(Motion) Pictures S/A

Você que mexe com pessoas, ao fazer comunicação, marketing ou publicidade, deveria colocar mais emoção em suas histórias


15 de setembro de 2015 - 10h27

Por Joni Galvão

O que é um bom filme? Posso teorizar, filosofar, aprofundar, mas no fundo, o bom filme é aquele em que uma grande quantidade de pessoas gostam e vão lembrar para sempre. Muitos sucessos de bilheteria tiveram suas vidas úteis curtas. Estou em Hollywood para mais uma temporada de um congresso da indústria do cinema, o Story Expo. É um consenso por aqui que o bom filme é aquele que, não só gera bilheteria, mas que consegue capturar as pessoas no momento e depois dele, gerando insights e vontade de “quero mais”. Se gerou audiência e ela nunca mais vai esquecer aquilo, é porque tocou de alguma forma nas emoções destas pessoas.

A grande onda de produções hoje são os shows em série, ou TV shows, ou seriados. O mercado é cruel. Se não for bom não vai passar da primeira temporada. Mas se for universalmente aceito pode passar facilmente de 10 temporadas.

Mas o que o cinema tem a ver com comunicação, publicidade e marketing? A pergunta não é essa. Ela deveria ser: porque comunicação, publicidade e marketing tem a ver com o cinema? Isso porque, quem dita as regras de uma boa história é o cinema. E isso acontece pois ele reflete a vida como ela é. Não existe uma emoção que não tenha sido representada nas telonas.

Sim, estou afirmando que Hollywood é uma referência para quem quer aprender sobre como “mover audiências”. O cinema europeu pode até ter seu valor estético e poético, mas é Hollywood que sustenta a Netflix.

Comecei a trabalhar como empreendedor, em 2003, mas só em 2010, quando conheci Robert McKee, o maior “filósofo” de storytelling dos tempos atuais, me dei conta de que deveria estudar melhor o que existe por trás dos grandes filmes e séries.

Descobri que existe um padrão, e que ele pode ser ensinado. Não importa se é ET, Criminal Minds, Breaking Bad ou Beleza Americana, todos eles possuem um protagonista forte que tem um desejo e este não será fácil de alcançar pois existem as forças antagônicas. E cada cena destes filmes ou séries é movida pelo conflito, pela expectativa e pela surpresa. Se não existe surpresa não existe motivo para a audiência ficar sentada esperando a próxima cena.

Mas esta minha história também tem seus antagonismos. E o principal deles é a “adultização” do executivo. Isso mesmo, a gente vive a magia da vida até mais ou menos uns 10 anos e depois vamos perdendo pois somos moldados para nos comportarmos do jeito que “eles” querem. E “eles” significa o chefe, o professor, o pai, a mãe, um colega de trabalho que faz de tudo para subir na carreira, um cliente que só pensa em ganhar em cima dos fornecedores, um fornecedor que acha que o cliente tem sempre razão, um casamento infeliz que é mantido por aparências, o jogo de interesses pessoais que muitas vezes estão na frente dos coletivos, e a lista não acaba mais. Resumindo, são “culturas” formadas por valores que alguém um dia decidiu que eram corretos e hoje todos seguem só para não correrem riscos.

Um dia minha mulher me disse que eu era “uma criança bem sucedida”. No começo achei meio esquisito, mas depois entendi que era um baita de um elogio. E é isso que vim fazer em Hollywood, aprender ainda mais com uma indústria que sabe representar a vida como ela é, com seus altos e baixos, e levar este conhecimento para as empresas. Vim aqui com o espírito de uma criança.

É isso que todos os executivos deveriam fazer. Sair um pouco de suas áreas de expertise, usar a curiosidade, atributo de uma criança, e correr atrás de novas histórias, que sejam verdadeiras, autênticas e, principalmente, que “movam suas audiências”, assim como os grandes filmes e séries.

O nome de muitas empresas daqui de Hollywood tem em sua extensão o termo “Motion Pictures”. Pra mim deveria mudar para E(Motion) Pictures. Isso porque é a “indústria da emoção”.

E você que mexe com pessoas, ao fazer comunicação, marketing ou publicidade, deveria colocar mais emoção em suas histórias. Não quer vir para cá? Tudo bem, observe o mundo das crianças e aprenda com elas, observe a psicologia do ser humano e como ele verdadeiramente reage a situações do dia a dia. Só assim sua empresa vai combater esta doença chamada “adultização”.

Joni Galvão é fundador da The Plot
 

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