Sempre duvide da sua certeza

Buscar
Publicidade

Comunicação

Sempre duvide da sua certeza

Em entrevista ao Meio & Mensagem, a pesquisadora Guacira Lopes Louro fala sobre o ?movimento queer? e o que a publicidade pode extrair dele


24 de setembro de 2015 - 8h28

A popularização da internet trouxe para o cotidiano questionamentos e críticas sobre campanhas publicitárias, como a recente polêmica de “Sem Mimimi”, realizada para a Sanofi, que, segundo muitos internatuas "tratou a cólica menstrual como algo sem importância".

O debate de gênero e sexualidade, assim como temas ligados ao feminismo e movimentos LGBTs estão cada vez mais presentes na vida do consumidor. Acertar no tom pode render a conquista de novos públicos, como fez a campanha de dia dos namorados de O Boticário, que retratou diferentes tipos de casais e deu visibilidade a formas de amor pouco retratadas na mídia.

Ainda para jogar luz ao debate sobre "indivíduos com pouca representação ou nunca representados pela mídia e a publicidade", o Sesc e a Revista Cult, em parceria, promoveram o primeiro Seminário Queer – Cultura e Subversões das Identidades nos dias 9 e 10 de setembro.

Uma das convidadas para o evento foi a pesquisadora Guacira Lopes Louro, professora aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e fundadora do Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero (GEERG) na UFRGS. A estudiosa foi a primeira brasileira a publicar artigos e livros sobre o "movimento queer" e conversou com Meio & Mensagem sobre o assunto.

Meio & Mensagem – O que é o movimento queer?
Guacira –
É um movimento que vem da militância e intelectuais ligados aos movimentos gays e lésbicos que passaram a utilizar a expressão “queer” que, em inglês, significaria “estranho” e também “esquisito”, uma palavra pejorativa para designar todo sujeito que não seja heterossexual. Esses militantes intelectuais vão usar positivamente esse termo, no sentido de afirmar “nós somos diferentes, nós somos estranhos e é isso aí. Não queremos ser enquadrados”. O movimento trabalha muito com essa ideia de acolher todos os sujeitos que não se enquadram em uma polaridade masculino e feminino, com a ideia de acolher as ambiguidades, não apenas no campo da sexualidade, mas também na cultura. Ele sacode as formas como costumamos ver a cultura, as práticas e a existência dos sujeitos.

M&M – O que você considera que a publicidade pode aprender com esse movimento?
Guacira –
A publicidade faz parte da cultura. Ela não é só atravessada e constituída pelos movimentos sociais, como ela é também instituinte, ou seja, ela provoca e gera efeitos. Então ela tem que estar aberta a aprender e ouvir as vozes diferentes e divergentes, que estão se fazendo escutar na contemporaneidade.

M&M – A internet e as redes sociais são fatores que permitem o debate e a resposta rápida sobre questões problemáticas que aparecem na mídia atualmente. Qual é a sua percepção sobre isso?
Guacira –
Algo que eu tenho chamado atenção sobre é que nós, sujeitos, nos constituímos e formamos como indivíduos não só através daquelas instâncias pedagógicas e culturais tradicionais de família e escola, mas muitas instâncias da contemporaneidade exercem pedagogia. A mídia é uma delas. A publicidade, o cinema, a televisão e a internet, que é potente e faz parte da vida de milhões de pessoas. Como a internet é imediata e democrática (todos podem contar histórias, colocar fotos, etc), então ela está, não propriamente refletindo, mas fazendo parte dessa cultura que é plural, que é extremamente dinâmica, e tem muitas representações de mulheres e muitas representações de gênero e sexualidade. Essa ideia de “muitas” é positiva porque não temos mais apenas uma representação, uma imagem do feminino e uma imagem do masculino, acho que agora muita gente tem acesso e pode encontrar imagens diversificadas rolando na internet.

M&M – Como pesquisadora e estudiosa no assunto, mas também como mulher e educadora, qual recado você gostaria de passar para o público de Meio & Mensagem?
Guacira –
A ideia de recado pode parecer que eu vou dar uma prescrição, o que é diferente desse movimento que eu estou inscrita. O queer, ao invés de dar prescrições, sugere que a gente se questione e faça perguntas. Se é que eu pudesse, sem ser incoerente, dar um recado é: duvidar da sua certeza. Acho que esse é a coisa mais interessante, é a ideia de autoquestionamento. Para mim, esse é uma atitude importante. Sempre se perguntar “e se fosse diferente” e tentar olhar aquilo que está sendo apresentado de um outro lugar para desarticular, desarranjar o que tem tanta segurança. Talvez a melhor sugestão seja fazer perguntas para si mesmo

 

wraps

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Em campanha global, Levi’s celebra a dança como meio de expressão

    Em campanha global, Levi’s celebra a dança como meio de expressão

    Peça "A Pista é Sua", da plataforma Live in Levi's, visa incentivar engajamento com a cultura e diferentes formas de expressão

  • Campanhas da Semana: momento de celebração

    Campanhas da Semana: momento de celebração

    Betncional celebra carreira de Vini Jr., com a música “O Vencedor”, de Thiaguinho, e Hersheys incentiva que as pessoas deem barras para comemorar a Páscoa