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Comunicação

Opinião: a mulher-cerveja desce quadrado

Este machismo subdesenvolvido, que subestima a capacidade e o papel da mulher na sociedade atual, precisa acabar


12 de novembro de 2015 - 10h18

Por Rosana Chiavassa

O que a mulher, invariavelmente com pouca roupa, tem a ver com o consumo de cerveja? Confesso que ainda custo a entender, ou melhor, em aceitar esta relação que a publicidade brasileira, das mais criativas e premiadas do mundo, insiste em fazer. O curioso é que as “mulheres-cerveja” raramente aparecem consumindo o produto. Ou estão balançando seus dotes físicos enquanto servem aos homens ou estão ao lado deles, à mesa, fazendo figuração para o seu inebriamento. As “mulheres-cerveja”, não raro, esbanjam sensualidade, o que é crucial para este tipo de publicidade que busca fisgar os consumidores do sexo masculino com um forte apelo sexual. Por isso, a cerveja pode nem ser de boa qualidade; mas a mulher que vai enfiá-la goela abaixo dos homens tem que ser a mais gostosa do momento. Este machismo subdesenvolvido, que subestima a capacidade e o papel da mulher na sociedade atual, precisa acabar. Definitivamente!

Para ganhar o mercado, nenhuma cerveja precisa expor a sensualidade e os dotes físicos de uma mulher. Não tenho dúvidas de que este caminho, que me parece o mais fácil, resulta da preguiça criativa. No entanto, tenho certeza de que a publicidade brasileira, se quisesse, encontraria outro, igualmente eficaz, para fazer o produto girar na gôndola. O corpo de uma mulher não pode mais servir de escada para fazer qualquer produto aparecer. Avalio este tipo de publicidade como injusta às mulheres contemporâneas.

Quero deixar claro que não sou contra a participação das mulheres na publicidade, inclusive naquelas que visam à venda de cervejas. Sou contra, isso sim, ao uso da imagem da mulher como um objeto de sedução ou isca sexual para vender produtos, sejam quais forem. Usei como exemplo os comerciais com “mulheres-cerveja” porque são contumazes na mídia. Penso que esta página deve ser virada e a mulher retratada pela publicidade brasileira tal como hoje ela é: participativa, empreendedora, chefe de família, trabalhadora e, em muitos casos, líder inconteste. Esta “nova” face da mulher brasileira deve ser respeitada e ressaltada, até mesmo na publicidade de cervejas. Em tempo: as mulheres também gostam de uma ceva bem gelada.

Quem sabe o sempre tão aguardado calendário Pirelli possa inspirar empresários e executivos, que aprovam as campanhas publicitárias de suas empresas, e, também, os criativos publicitários contratados para fazê-las. A versão de 2016 do icônico calendário é radicalmente contrária as anteriores, sobretudo dos últimos anos, que se apresentaram repletas de modelos lindíssimas e seminuas. O calendário do próximo ano retratará mulheres influentes, algumas jovens e outras nem tanto. O detalhe é que todas serão clicadas vestidas. Difícil dizer se o calendário Pirelli de 2016 será tão apreciado como os anteriores, mas esta guinada, não sei se oportunista ou experimental, é interessante e significativa.

Tenho certeza que o meu posicionamento encontrará resistência tanto no universo masculino quanto feminino. Não tenho ambição de ser uma unanimidade. Sei, no entanto, que muitas outras mulheres e movimentos de defesa dos direitos das mulheres esperam da publicidade brasileira um tipo diferente de abordagem, que reflita a realidade da mulher na sociedade atual.

Cabe lembrar que a mulher contemporânea guarda pouca ou mais nenhuma relação com aquela do passado, que tudo ouvia e tudo consentia. Houve avanços, é verdade, mas estes ainda não nos igualam aos homens em termos de direitos. Por essa razão, as mulheres destes novos tempos seguem lutando por espaços e igualdade. E, também, se posicionando contra publicidades que relegam à mulher o papel de mero objeto sexual. A “mulher-cerveja” desce quadrado!

Rosana Chiavassa é presidente da Associação das Advogadas, Estagiárias e Acadêmicas do Direito do Estado de São Paulo (Asas)  

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