Hippies e valuation: a cota de cada um

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Hippies e valuation: a cota de cada um

Eventos como os suicídios da Foxconn na China (fornecedora da Apple) ou a explosão de fábrica em Bangladesh (fornecedora de JC Penney e Wal-Mart) são capazes de fazer qualquer presidente de empresa acordar suando no meio da noite


27 de maio de 2013 - 11h16

(*) Por Ernesto Bernardes

Certa vez, um CEO, apresentando o diretor de sustentabilidade de sua empresa a um colega, explicou jocosamente que ele havia sido contratado "dentro da cota de inclusão de hippies". Pois bem, na Conferência Global sobre Sustentabilidade e Relatórios Corporativos, em Amsterdã, Holanda, o mercado financeiro sinaliza que será necessário acionar o RH – essa cota terá de aumentar muito nos próximos anos. Cada vez mais, a demanda por informações de sustentabilidade fará parte do dia a dia de analistas, administradores de fundos e investidores profissionais. Motivos não faltam para isso.

O primeiro deles é uma tradução. Onde os supostos hippies falavam com palavras do jargão socioambiental, como "pegada de carbono", "questões de gênero" e "trabalho digno", os financeiros começaram a entender termos com os quais já trabalhavam há tempos: "gestão de riscos", "perda de ativos" ou "administração temerária". Num mundo em que 80% do valor das marcas estão em seus ativos intangíveis, sonhar com eventos como os suicídios de operários da Foxconn na China (que fornecia produtos para a Apple) ou a explosão de uma fábrica em Bangladesh (fornecedora de JC Penney e Walmart) é um susto capaz de fazer qualquer presidente de empresa acordar suando no meio da noite. As escolas de negócios usam como exemplo de mau planejamento as indústrias que empregavam amianto como matéria prima – e não se prepararam para o fato de que esse material, cancerígeno, poderia não somente ser banido, mas gerar processos que quebrariam a maioria dos players.

Outro motivo importante é a demanda dos clientes: além das "pessoas físicas" com alma hippie, há os fundos de aposentadoria do primeiro mundo, que movem quantias gigantescas e passaram a exigir investimento responsável – também por medo do risco. "Quantos? 89% dos investidores me questionam sobre isso", explicou Steve Waygood, diretor da Aviva Investors, um grande gestor de fundos britânico. "Se o mercado leva isso em consideração? Bom, se não levasse acho que eu não teria esse emprego, correto?", ironizou Nick Hartley, diretor da GS Sustain, área de análise de sustentabilidade do Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimento do mundo. Hartley explica que, quando montou sua equipe, em 2003, apenas sete pessoas em todo o grupo levantavam informações socioambientais para a base de dados da companhia. Agora, são 400.

Isso coloca uma pressão enorme sobre as empresas no momento de produzir seus dados socioambientais. "A tendência é que cada vez mais esse tipo de informação se torne divulgação obrigatória", disse Ernest Ligteringen, CEO do Global Reporting Initiative (GRI), organismo que fornece padrões para relatórios de sustentabilidade. São os dados desses relatórios que terminam nos bancos de dados dos analistas e, em países como Suécia e Dinamarca, nos registros dos órgãos reguladores. No Brasil, o Banco Central já estuda a obrigatoriedade de exigir esse tipo de informação das instituições financeiras.

Mas essa exigência não é somente um fardo a mais para as companhias. É também uma oportunidade e tanto. "Ao fazer nossos estudos de sustentabilidade, descobrimos que nosso maior problema ambiental não era o plástico, mas o couro que usávamos nos tênis", exemplificou Jochen Zetz, diretor do grupo Kering, que controla a marca de artigos esportivos Puma. As empresas que aprenderem lições semelhantes terão uma grande oportunidade de valorizar seus 80% de ativos intangíveis, mas também poderão atacar de frente custos e desperdícios em seu trabalho cotidiano e tangível.

(*) Ernesto Bernardes é diretor executivo da TV1 Conteúdo. Ele está em Amsterdã, na Holanda, e escreve em colaboração para Meio & Mensagem.
 

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Leia mais sobre a  Conferência Global sobre Sustentabilidade e Relatórios Corporativos, realizada em Amsterdã entre os dias 22 a 24/05:

Falha de comunicação da sustentabilidade
Ataque ao "enrolation" ou a hora de levar a sério
Aquecimento global (e local) em Amsterdã

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