Opinião: Eu errei? e tenho orgulho disso

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Opinião: Eu errei? e tenho orgulho disso

Uma reunião desastrosa não acaba com a carreira de ninguém. Analisar o cenário com tranquilidade é essencial para separar o ?joio do trigo? e evoluir sobre o que foi feito, e não jogar tudo no lixo


21 de outubro de 2014 - 9h16

Por Gian Martinez (*)

Por uma loucura da vida fui convidado a gerenciar a estratégia criativa de todas as marcas da Coca-Cola Brasil quando era muito jovem. Tinha apenas 22 anos sendo cinco trabalhando como planejador em agências (JWT e NBS), alguns cases e prêmios bacanas na bagagem, mas nada que me gabaritasse a tamanho desafio.

Sem dúvida, aquele foi um ato de muita coragem para uma empresa centenária como a Coca. Ela mostrava ali uma disposição para errar que não se vê todo dia.

Afinal, as chances de essa ter sido uma escolha equivocada eram muito maiores do que as de sucesso. Definitivamente, eu não era o profissional mais preparado do mercado para a posição que exigia, entre outras coisas, a capacidade de estruturar um departamento novo de “excelência criativa”. Mas a empresa escolheu comprar o risco e fazer uma aposta.

Lembro-me perfeitamente da minha primeira grande apresentação interna. Era no auditório da companhia para uma turma de uns 50 executivos de todas as áreas. Eu havia trabalhado intensamente por meses junto das nossas agências para levar naquela reunião a primeira estratégia criativa para a marca Coca-Cola feita sob a minha liderança. Bom, foi um desastre.

Vou poupá-los dos detalhes, mas hoje dou risadas sempre que me lembro daquele dia. Havía­mos levado uma ideia tão maluca que chegava a ser ruim. Muito ruim na verdade. Para entender o nível de “ruindade” tinha até a participação da cueca do Romário. Isso mesmo. Então, podem imaginar a reação da plateia depois que o “garoto” apresentou a ideia maluca: tiro, porrada e bomba.

Mas eu a apresentei com a convicção de que estava ali para fazer um trabalho do qual todos nos orgulhássemos. Encarei de frente as críticas reconhecendo que de fato podíamos fazer melhor. Recolhidos os cacos dessa reunião voltamos para a mesa com a certeza de que nem tudo estava perdido. Tínhamos uma estratégia vencedora mas uma execução que era um convite para piadas maldosas. Aquela apresentação tinha sido um erro. Que assumia um contexto mais épico se considerado que era a minha primeira grande apresentação…

Voltamos em um par de semanas para apresentar uma nova ideia dentro da mesma estratégia criativa. Essa segunda versão da campanha se chamava “Quem foi o melhor: Maradona ou Biro Biro?” Alguns meses depois, a campanha estava na rua, dominando as conversas nas mesas-redondas, nas redes sociais e nos estádios. O Biro Biro se transformou em astro pop convidado para qualquer evento esportivo a ponto de ter o seu nome gritado em massa durante um amistoso entre Brasil x Argentina (tenho guardado até hoje o vídeo da transmissão desse jogo pela Globo). A JWT faturou algumas dezenas de prêmios pela campanha e eu aprendi ali, na pele, a valorizar muito os erros que cometemos pelo caminho.

Claramente aquele erro tinha se transformado num dos maiores acertos da minha vida profissional até então. E aconteceu dessa forma porque erramos pelo motivo certo: por arriscar ousar, inovar, tentar surpreender.

A partir dali, entendi também que uma reunião desastrosa não acaba com a carreira de ninguém. Nessas situações, analisar o cenário com tranquilidade é fundamental para separar o “joio do trigo”. Isso te permite reagir rapidamente e evoluir sobre o que foi construído em vez de jogar tudo no lixo.

Depois desse dia, segui por mais sete anos dirigindo o time criativo da Coca. Muitos outros erros como esse aconteceram pelo caminho deixando um saldo final que enche a todos de orgulho e aprendizados. Ser reconhecida como a empresa mais criativa do mundo em 2013 no Festival de Cannes foi fechar com chave de ouro.

Portanto, desejo a todos muitos erros pelo caminho.

 

* Gian Martinez é cofundador da Coca-Cola Accelerator e escreve para o Meio & Mensagem mensalmente. Este artigo está publicado na edição 1632, de 20 de outubro de 2014, de Meio & Mensagem, disponível nas versões impressa ou para tablets Apple e Android.
 

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