A missão improvável da Endeavor no Brasil

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A missão improvável da Endeavor no Brasil

Juliano Seabra, diretor geral da ONG, conta como a instituição tem ajudado empresas brasileiras a atingirem o status de companhias de alto crescimento


16 de junho de 2015 - 12h58

Considerada uma organização da sociedade civil de interesse público (oscip), a Endeavor é uma instituição voltada a fomentar o empreendedorismo e está completando 15 anos no Brasil, onde começou a atuar três anos após ter sido fundada, na Argentina. Juliano Seabra, diretor-geral da Endeavor no País, destaca que apesar da alta disposição do brasileiro para empreender o nosso ambiente para tal ainda é bastante hostil e o empreendedor, um solitário. Apesar disso, os números mostram que empresas de alto crescimento, ou as chamadas scaleups, são muito importantes para a economia e a geração de empregos, daí o trabalho de identificá-las e lhes prestar apoio. Atualmente com oito escritórios no Brasil, a Endeavor busca refletir melhor a realidade da atividade econômica. A instituição já chegou a ter entre 80% e 90% das empresas apoiadas vindas do estado de São Paulo, quando esse número deveria ser 30%. Por isso, o processo de expansão. E os resultados vieram: em 2014, das dez empresas selecionadas para receber apoio, três eram de São Paulo. Mesmo sem conseguir abraçar todos os estados, outros mercados que “fariam sentido, considerando a atividade empreendedora” seriam Bahia, o eixo Goiânia-Brasília ou mesmo Belém. Nesta entrevista, Seabra detalha a atividade e os resultados obtidos pela Endeavor cujo ideal nos próximos 15 anos é triplicar o número de empresas de alto crescimento no Brasil, chegando próximo das cem mil que a economia americana já possui hoje. Num plano ainda mais idealizado, seu desejo é o de que um dia o empreendedorismo esteja tão embrenhado nas empresas, universidades e governo que a Endeavor simplesmente possa deixar de existir.

Meio & Mensagem — Como se dá em termos práticos o apoio da Endeavor a empresas empreendedoras?
Juliano Seabra — O Nizan Guanaes uma vez falou que a Endeavor é o Santo Antonio dos empreendedores. Basicamente, o que a gente faz é juntar um empreendedor com muito potencial, que passou pelos processos seletivos que a Endeavor faz, com um mentor voluntário, que é alguém com muita experiência, muito bem- sucedido, como o próprio Nizan, e outros brasileiros que se conectam para conversar sobre a dor do crescimento que o empreendedor está vivendo. No fundo, qual o problema? O empreendedor no Brasil ainda é um sujeito muito solitário. Estamos vivendo quase uma primeira geração de pessoas empreendendo profissionalmente. Elas não têm um background básico de gente com conhecimento, know-­how, que poderia orientá-las. Quem faz isso com os empreendedores que a Endeavor apoia são os mentores. Hoje, temos uma rede com mais de 350 pessoas. São grandes empreendedores ou grandes executivos de empresas brasileiras e de fora do País que doam tempo e conhecimento para orientar esses novos empreendedores. Atualmente, os mentores ­doam mais de duas mil horas por ano. Cada hora de mentoria se transforma num documento de gestão do conhecimento da Endeavor, que vai se transformar depois num vídeo, num artigo, curso, ­e-book ou qualquer coisa do gênero que beneficia todo e qualquer empreendedor que acesse a Endeavor online. Hoje, são três milhões de pessoas por ano que nos acessam. Na prática, você tem um laboratório, no qual apoia um grupo pequeno, de forma customizada, baseada nessa rede de mentores — mas o aprendizado dessas interações mentor-empreendedor é disseminado para a sociedade inteira gratuitamente.

M&M — Dentre os mentores que trabalham com a Endeavor, quais estão ligados à área de comunicação?
Seabra — José Eustachio (Talent), Nizan Guanaes (Grupo ABC), Daniel Chalfon (Loducca), Silvio Genesini (Grupo Estado) e Bob Wolheim (SixPixContent e Grupo ABC).

M&M — Quantos projetos a Endeavor está apoiando no momento?
Seabra — Apoiamos 78 empresas diretamente como empreendedores e quase 200 como promessas — nesses programas temporários em parcerias com outras empresas, fechamos o ano passado com 30 mil alunos fazendo cursos a distância e teremos quatro milhões de pessoas, este ano, acessando conteúdos nossos.

M&M — Quais as principais dificuldades de empresas que estão se tornando empreendedoras de alto impacto nas áreas de marketing e comunicação? É possível a elas construir marca ao mesmo tempo que estão desenvolvendo suas estruturas?
Seabra — Comunicação e marketing não vêm na primeira linha de prioridades de um empreendedor que está, no começo, muito mais preocupado em vender o almoço para comprar a janta. Há uma enorme restrição orçamentária. Mas chega uma hora, especialmente quando ele se torna uma empresa média, que ele percebe que sem a comunicação, sem construir uma marca sólida… Não posso falar o nome da empresa, mas tem uma que está no processo seletivo da Endeavor e recentemente a levamos para conversar com o Pedro Passos, da Natura. Uma das coisas que o empreendedor perguntou foi “como é essa coisa da marca, etc”. Pedro respondeu que era uma coisa que estava no DNA dos fundadores. Óbvio que teve gente muito boa que ajudou, como o Ricardo Guimarães, da Thymus, a construir essa marca (Natura), mas eles só foram se dar conta de que precisavam de um trabalho mais estruturado quando a empresa já estava média, faturava R$ 20 milhões, R$ 30 milhões. Com os empreendedores que a gente apoia, é mais ou menos a mesma coisa. É nessa hora que a discussão de marca começa aparecer, que você vê os empreendedores mudando os nomes da empresa porque fundou com o nome dele ou da família, e isso não faz o menor sentido no mercado. Então, muda o nome, ajusta a marca, contrata alguém para fazer a identidade visual. Tem esse ponto ótimo de quando se torna uma empresa média, passa de uma barreira psicológica dos R$ 10 milhões de faturamento, e diz: “bom, preciso querer ser alguém e contar para o mundo, porque se eu não fizer isso…”. Isso ocorre especialmente nas empresas que atuam com varejo, mas acontece com várias outras. Não é prioridade no começo, mas se torna uma prioridade. O empreendedor no começo é muito herói, acha que vai dar conta sozinho de tudo — contratar, vender, comunicar. Ele é o designer, o marqueteiro, o RH. E vai percebendo, à medida que cresce, que isso causa perda de eficiência. E precisa de ajuda profissional.

(*) A íntegra da entrevista está publicada na edição 1664, desta semana, do Meio & Mensagem

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