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O celular, o Facebook e a expansão da consciência

Olhar para os efeitos positivos da onipresença das redes sociais na vida cotidiana não é uma questão de otimismo


26 de agosto de 2015 - 8h15

Por José Porto*

Durante uma cerimônia na Universidade de Turim para receber o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura, o filósofo, escritor e prêmio Nobel de Literatura Umberto Eco disse, em seu discurso de agradecimento, que as redes sociais deram o direito à palavra a uma legião de imbecis antes restritos às mesas de bar. Fiquei curioso para ver a timeline do honrado professor.

Apesar de exagerada, não é difícil entender a origem da opinião. Pense no tanto de informação desnecessária que recebemos diariamente pelo Facebook, Twitter etc. E na quantidade de opinião desastrada, apressada e desinformada que nossos “amigos” postam com autoconfiança e descaso.

Mas existe o outro lado da moeda: olhar para os efeitos positivos da onipresença das redes sociais na vida cotidiana não é uma questão de otimismo. É entender que existe algo muito poderoso em curso.

Estamos vivendo a criação de um novo espaço público interativo e colaborativo que impulsiona a capacidade de articulação e de ação da sociedade civil, tornando a democracia mais participativa. Enquanto alguns imbecis falam, vemos, ao mesmo tempo, surgirem novas interações das pessoas com as cidades, com os governos e com as empresas.

Em um ano, 26,5 milhões de brasileiros passaram a se conectar à internet via celular; esse número já é equivalente à população da Alemanha. A pesquisa F/Radar, realizada pela F/Nazca em parceria com o Datafolha, mapeou a disseminação da internet móvel, o uso das redes sociais e a adesão ao ativismo digital no Brasil nos últimos quatro anos.
Mais da metade dos internautas brasileiros (69%) já ficou sabendo de algum movimento social pela internet, a maioria (75%) via redes sociais. Além disso, 58% acreditam que as redes contribuem para a mudança de opinião a respeito de algum problema social.
Desde 2011, o número de ativistas digitais cresceu 120% chegando a quase 30 milhões de pessoas.­ Destes, 80% se envolveram com causas pelas redes sociais: curtindo, comentando ou compartilhando conteúdos relacionados. O estudo mostra ainda que engajamento político não é privilégio. A maioria dos ativistas digitais do País, 45%, está na classe C.

A noção de pertencimento evoluiu: basta olhar para rua e ver na prática o resultado de uma sociedade mais conectada. São centenas de projetos voltados à participação ativa de cidadãos comuns nos processos de decisão das cidades. Do Parque Minhocão ao Parque Augusta. Do Largo da Batata, em São Paulo, ao Estelita, no Recife. Das feiras gastronômicas às hortas comunitárias, passando pelo ressurgimento do Carnaval de rua da cidade de São Paulo. Sem contar inúmeras conquistas na defesa de direitos, na criação de políticas públicas e até em mudanças de legislação. Vide o sucesso de redes como Meu Rio e Nossas Cidades.

Essa nova dinâmica traz oportunidades para as empresas estabelecerem novas conexões com as pessoas. Mais sinceras e relevantes. Quanto tempo perdemos tentando achar uma causa para nossas marcas e, depois, quanto tempo — e dinheiro — gastamos tentando convencer alguém a abraçar essa causa? O caminho inverso pode ser mais efetivo: as pessoas já estão se articulando em torno de assuntos que são importantes pra elas. Que tal então as marcas abraçarem alguns deles e, de fato, fazerem algo de relevante?

Mais do que brincar com a potência do megafone que têm nas mãos, muitos estão se conectando para construir um mundo melhor. Conscientes de que atitudes e escolhas — mesmo um compartilhamento no Facebook — têm consequências e podem fazer alguma diferença. Menos paternalismos, mais mão na massa.

Umberto Eco termina o discurso dizendo que hoje os imbecis têm o mesmo direito à palavra que um Prêmio Nobel. Ainda bem. Avante.

* José Porto é diretor nacional de planejamento da F/Nazca S&S e escreve para Meio & Mensagem. Este artigo está publicado na edição 1674, de 24 de agosto de 2015.

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