Deus Salve o Rei e o teste da TV para se aproximar das séries

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Deus Salve o Rei e o teste da TV para se aproximar das séries

Inspirada em Game of Thrones, a novela chama a atenção pela estética grandiosa. M&M conversou com os diretores da Globo sobre efeitos especiais e a criação de um modelo híbrido entre série e folhetim


16 de fevereiro de 2018 - 7h00

Se você já assistiu a Deus Salve o Rei, deve ter notado a fotografia grandiosa e o nível de detalhamento da direção de arte. Tornar a trama verossímil a um país tropical que não viveu um modo de produção medieval e que não dispõe de castelos, igrejas e paisagens clássicas exige muito trabalho. Com inspiração temática em séries como Game of Thrones e Vikings, a novela da Globo encarna o primeiro grande esforço da emissora para se aproximar da estética vista em séries internacionais.

Com o desafio de manter a qualidade de produção por mais de 170 capítulos — uma temporada de GoT tem  10 —, a equipe da Globo precisou de um extenso trabalho de pesquisa de imagem e produziu 700 horas de material gravado até agora. Já a equipe de mais de 40 profissionais de efeitos visuais têm a tarefa de usar a tecnologia a favor da história seja ao transformar uma cenografia bruta em uma floresta digital 3D, transformar poucos figurantes em centenas de pessoas para uma cena de batalha ou criar um castelo inteiro digitalmente.

Meio & Mensagem conversou com o diretor da trama, Fabricio Mamberti, e com o gerente de operações de tecnologia da Globo, Fernando Alonso, sobre a renovação do formato das novelas e sobre o mercado de efeitos visuais no Brasil.

Como você avalia a evolução narrativa das novelas no Brasil até a produção de Deus Salve o Rei?

Fabricio – Trabalhamos com efeitos visuais desde os anos 80 na Globo, começamos junto com a TV americana, obviamente em uma escala menor. Os efeitos visuais eram muito utilizados nas chamadas do Fantástico e essas coisas, e depois foram migrando para a dramaturgia. Na concepção inicial de Deus Salve o Rei, já sabíamos exatamente o que poderíamos ter de recurso para executar o roteiro. Posso misturar uma locação e aplicar elementos 3D, por exemplo, e quando temos o conhecimento necessário do processo ajuda muito a produção. O que mudou é a velocidade das coisas, se antes levávamos quatro dias para renderizar um material, hoje levamos um ou dois. Já temos 200 terabytes de conteúdo até agora e criamos uma biblioteca com os elementos que captamos até então, que pode ficar de legado para outras novelas.

Deus Salve o Rei bebeu muito na fonte de séries internacionais. Qual é o desafio de fazer essa transição do público de novelas para o público de séries?

Fabricio – Esse é um caminho natural para a TV aberta. Nos anos 1990 a TV americana tinha um complexo altamente popular e estava entrando em crise criativa, do ponto de vista de autores e produtos. Então houve a chegada de diretores de cinema à TV, e a TV aberta brasileira de certa maneira respirou um pouco disso. Fomos muito impactados por essa loucura de séries e filmes com temas tão diversos. Se você olhar para a grade da Globo hoje verá que temos produtos muito distintos e que falam com vários públicos. Acho que Deus Salve o Rei é uma coisa nova que mistura um pouco a série e a novela, traz várias coisas boas e outras sobre as quais a gente pode refletir e melhorar. Essa foi uma primeira semente plantada com referências que são muito forte para nós, como Game of Thrones e Vickings, e está trazendo muitas pessoas que normalmente só assistem a séries e que não estavam assistindo à TV Globo para a novela.

Quando criei esse projeto com o Daniel Adjafre, queríamos trazer alma da série sem perder elementos da novela, que é um produto legitimamente brasileiro e que exportamos para mais de 140 países. Do ponto de vista narrativo, por uma questão de produção, em uma novela não é possível manter cenas de ação e batalhas o tempo todo porque você perde história e é muito difícil produzir. Já que temos 174 capítulos, temos de fazer o blend dos públicos e trazer um pouco o melodrama e o romance, porque também temos o público da dona Maria, do interior, que consome esse produto. Essa novela é um primeiro passo, mas os dois formatos vão conviver, pois a novela é parte do brasileiro.

Considerando a experiência com Deus Salve o Rei, quais tendências vocês identificam para o modelo de consumo de novelas e séries?

Fernando – Deus Salve o Rei tem sido um fenômeno interessante, porque o pessoal tem assistido à novela em binge watching. Às vezes a pessoa não assiste no dia a dia, de forma linear, mas quando chega o final de semana assiste a seis episódios de uma vez, o que não é comum para uma novela. As pessoas têm assistido como uma série.

Fabricio- Na TV americana está havendo um movimento contrário, das “superséries”, de séries maiores com 50 ou 60 capítulos. Isso é praticamente uma mininovela, então de certa maneira as novelas estão invadindo as séries também. Hoje há tantas janelas e todo mundo está buscando algo diferente, então as referências se misturam. Essa sempre foi a história da criação, seja na pintura, no cinema ou no teatro. É assim que se constroem coisas novas.

Qual é o perfil dos profissionais que trabalham com efeitos visuais?

Fernando – Temos um grupo de 40 pessoas divididos em grupos de formação como engenharia e TI, que são mais técnicos, outros são designers e artistas. Dentro do projeto nós dividimos os profissionais em pequenos núcleos e grupos de montagem pode ser modelagem 3D, texturização, animação, cenografia 3D, etc. Muitos dos nossos profissionais se formam conosco e depois vão trabalhar no exterior.

O que deve aprender quem quer trabalhar nessa área?

Fernando – O mercado brasileiro para a área é muito pequeno, então ainda formamos muita gente dentro da própria Globo. Além disso, algumas técnicas e softwares são proprietários e inacessíveis, então temos conversado com parceiros de tecnologia para disponibilizar versões gratuitas para que as pessoas possam aprender. Mas de forma geral, é preciso estudar muito os softwares especializados, linguagem, fotografia e estética. Essa área exige uma composição de arte e técnica: não basta apenas dominar um software, é preciso entender de conceitos de lentes, cor, composição e disposição de objetos. Nosso critério também é bem rigoroso para escolher os profissionais, geralmente demoramos bastante tempo até fechar o time.

Fabricio – Para quem está no interior do Brasil e tem pouco acesso a esse aprendizado, também é muito importante ter suas próprias referências e procurar informações na internet, que trazem algum direcionamento para entender esse universo. Hoje o mundo está aberto na internet e vemos essa efervescência dos games, então aprende-se também vendo o material já finalizado e buscando entender como foi o processo. Ter sua própria filmografia e referências que te tocam também naturalmente trazem aprendizado.

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