Bonner: “O telejornal tem de ser o tradutor dos acontecimentos”

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Bonner: “O telejornal tem de ser o tradutor dos acontecimentos”

Editor-chefe do Jornal Nacional explicou os desafios de modernizar a linguagem jornalística para atender ao público


26 de abril de 2018 - 7h12

Na Globo desde 1986, Bonner entrou para a bancada do Jornal Nacional em 1996 (Crédito: Divulgação/Ramón Vasconcellos/Globo)

Em 2004, quando já tinha domínio total da função de âncora e editor-chefe do Jornal Nacional – trabalho que já exercia há quase duas décadas – William Bonner levou uma espécie de “tapa na cara” do público. Em uma das pesquisas constantemente promovidas pela emissora para avaliar a aceitação do noticiário, um depoimento, em especial, preocupou e frustrou o jornalista. “Um pai de família nos disse que adorava acompanhar o Jornal Nacional e que tinha a missão de explicar à esposa e aos filhos alguns termos e notícias mais complicados de entender, mas confessou que, muitas vezes, nem ele compreendia o que dizíamos no jornal e, por isso, sentia vontade de mudar de canal. Aquilo soou como várias bofetadas na minha cara”, relembrou.

A história serve para ilustrar como o apresentador e a cúpula da emissora procuram tentar fazer com que o pilar do jornalismo acompanhe as demandas e anseios da sociedade e foi compartilhada pelo jornalista no evento “Milhões de Uns”, encontro direcionado ao mercado publicitário que a Globo promoveu nessa quarta-feira, 25, em sua sede em São Paulo. Na opinião de Bonner, a imprensa televisiva acabou inspirando-se na radiofônica – que, por conseguinte, foi originada nos meios impressos – e construiu, por anos, uma estratégia de linguagem mais séria e pouco palatável para os espectadores. Essa percepção, no entanto, só foi possível de surgir após décadas de trabalhos, experimentos e de muita pesquisa.

“A linguagem oral tem a necessidade de ser imediatamente compreendida. Quando estamos lendo um jornal ou um livro, caso a gente não entenda determinada parte, basta apenas voltar e ler o texto de novo. Na televisão, ninguém pode voltar para a cena anterior para ouvir novamente o que o apresentador do telejornal disse. Isso implica uma preocupação contínua em procurar o máximo de clareza possível. A essência do jornalismo na TV é o texto e quanto mais compreensível, direto e informar ele for, mais fácil será de aquela mensagem ser compreendida.”, destacou.

Para Bonner, o papel atual do âncora do telejornal de maior audiência do Brasil tem de ser similar a de um tradutor: compreender a notícia que será dada e suas consequências e tentar explicá-la de maneira direta, no espaço de tempo que o telejornal permite. “Isso exige uma série de ajustes que são realizados até o momento em que o Jornal Nacional entra no ar”, contou, dando como exemplo o noticiário político que dominou a cena da mídia nacional nos últimos anos. “Não podemos deixar de mostrar as falas do ministro do Supremo, mas temos a obrigação de traduzir, de contextualizar o que aquele ministro disse. Então, antes de exibir a cena, fazemos uma breve introdução esclarecendo o quê a pessoa falou – ou para quem ela falou – para, posteriormente, exibir a imagem”, conta o apresentador, ressaltando que a tarefa não é fácil.

Para chegar a esse modelo, Bonner contou que a equipe atua sempre no modo de tentativas e erros. Ele próprio já fez uso do recurso de falar muito rápido em momentos em que a quantidade de notícias era muito maior do que o tempo do telejornal e notou que, para a compreensão do espectador, a ideia não era boa. Da mesma forma, eliminou o uso da voz passiva como recurso de linguagem. “Pensei que, por exemplo, nenhuma criança chega em casa e diz ‘Mãe, homem é atropelado por um carro de polícia no cruzamento da rua’. Dizer ‘A polícia atropelou um homem na rua’ é muito mais claro, direto e ainda economiza tempo na exibição”, exemplificou.

Por fim, o âncora afirmou o papel a Globo acredita ter perante a sociedade com o trabalho jornalístico. “Acreditamos e queremos um Brasil mais rico, mais justo, menos desigual, que se desenvolva e que permita a cada um de nós se desenvolver livremente. E não acreditamos em um caminho possível para conseguir isso que não passe pela democracia e pela educação, desde a educação formal até mesmo a educação pela informação. E é aí que entra nosso papel”, finalizou o jornalista.

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