A ?culpa? das redes sociais pela violência na Inglaterra

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A ?culpa? das redes sociais pela violência na Inglaterra

Governo britânico quer se reunir com Facebook, Twitter e RIM, fabricante do Blackberry, a quem atribui parte da responsabilidade pela organização de ataques na Inglaterra. Possíveis restrições já geram críticas


12 de agosto de 2011 - 3h00

Biz Stone, um dos fundadores do Twitter, declarou no Brasil, em outubro de 2009, que o microblog é uma rede de informações. E, para reforçar seu argumento, citou casos em que tweets revelaram situações críticas e ajudaram pessoas, em várias partes do mundo. A troca de informações é, portanto, um dos pilares do Twitter, algo que também foi afiançado por Stone no Festival de Cannes daquele ano, quando foi um dos palestrantes do evento.

Se na China o Twitter não tem vez, assim como outras redes sociais, ele acaba de entrar na mira do governo britânico, que se vê obrigado a tomar medidas drásticas para conter a onda de violência que colocou Londres, e outras cidades inglesas, no centro das atenções do mundo – junto com a crise financeira dos Estados Unidos e da Europa.

Na quinta-feira 11, o premiê David Cameron avisou, via comunicado ao Parlamento, que o governo está trabalhando com a polícia, os serviços de inteligência e a indústria para avaliar se é possível interromper a comunicação de pessoas nas redes sociais caso se descubra que estão organizando ataques e promovendo a violência. O Twitter e o sistema de mensagens do Blackberry (o BBM) podem sofrer restrições. Cameron afirmou: “quando pessoas estão usando a mídia social para a violência nós precisamos pará-las”.

O primeiro ministro afirmou ainda que Facebook, Twitter e RIM, fabricante do Blackberry, deveriam ser mais responsáveis pelo conteúdo veiculado em suas redes. Para o governo, a onda de saques e depredações foram viabilizadas pela mídia social, atribuindo a esses meios uma parcela de culpa pelos levantes em cidades como Londres, Birmigham, Manchester e Liverpool. Com o objetivo de coibir a violência, comenta-se que o Estado planeja interferir nas redes e até mesmo bloquear mensagens.

O fato é que o governo deve se reunir nos próximos dias com representantes das mídias sociais e da RIM para discutir que medidas podem ser tomadas – há questões legais em meio a esse debate. Uma das soluções anunciadas por Cameron é a formação de um grupo com policiais e agentes de um serviço secreto que deverão monitorar e rastrear mensagens nas redes e nos celulares caso descubram que um novo ataque está sendo tramado.

Para uma sociedade tão conectada quanto a britânica – e tão zelosa da liberdade de pensamento –, no entanto, não caiu bem a ideia de que o governo possa rastrear as redes sociais e os celulares, atingindo a privacidade do cidadão comum. No Parlamento, a oposição reagiu, criticando a postura de Cameron.

Especialistas em telecom também não aprovaram a disposição em culpar as mídias sociais. Entrevistado pelo jornal The Guardian, Mike Conradi, sócio de um escritório de advocacia em Londres, com foco no mundo digital, observou que, se for necessário levar ao Parlamento alguma medida que modifique a legislação isso irá colocar o Reino Unido em uma posição difícil se tiver que negociar com regimes totalitários para convencê-los a não fechar acesso às redes sociais.

O Guardian aponta que o poder para mandar fechar redes sociais e acessos individuais ou bloquear o tráfego de informações em uma região específica existe no Reino Unido e em muitos outros países. Mas esse é o último recurso. Como lembra o jornal, a Vodafone e outras operadoras foram muito criticadas por terem fechado suas redes no Egito durante os dias de rebelião que mobilizaram multidões contra Hosni Mubarak.

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Meio & Mensagem ouviu quatro profissionais do mercado de comunicação no Brasil para saber como essa disposição de David Cameron foi vista. Afinal, qual o peso das redes sociais nos conflitos vistos nas cidades inglesas? E cabe alguma medida governamental sobre essas plataformas nesse caso? Confira as análises:

Marcelo Castelo, sócio da Fbiz “A tentativa de fechar redes é surreal. Eles não estão vendo a causa. Quando se trata da China, a gente até se acostumou a ouvir histórias assim, mas vindo da Inglaterra surpreende. O governo quer tirar o Twitter ou o BBM do ar? Eles estão atrapalhados e não mediram a consequência de retirar uma ferramenta que atende muita gente. Culpar a mídia social é uma maneira fácil de resolver o problema, em vez de atacar sua origem, que pode estar no desemprego. Entendo que o correto é buscar as empresas e negociar parcerias, como fez o Google no Brasil por causa do Orkut e das denúncias de pedofilia. Essa negociação também é complexa. Entendo a RIM hesitar em abrir todo seu sistema para a polícia. Os consumidores gostam da marca por causa do seu sistema criptografado. E entendo que abrir precedentes nesse sentido seria perigoso. Qual o próximo passo de um governo que vasculha as redes sociais? Primeiro seriam os problemas. Depois as críticas que recebe? Por outro lado, as mídias sociais podem excluir mensagens e usuários que incitam a violência, mas isso não quer dizer investigar. Uma pessoa pode criar um outro perfil e continuar a fazer o que fazia com outro nome. Por isso, acho que o melhor é trabalhar em conjunto, fazendo da mídia social uma ferramenta que ajude a investigar.”

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Raphael Vasconcellos, vice-presidente de criação da AgênciaClick – “É muita viagem responsabilizar os meios, quaisquer que sejam, pela violência. Até porque, se o governo quiser, pode usar esses mesmos meios como inteligência para descobrir quem participou e articulou os ataques. Acho que não conseguirão coibir a violência dessa forma. Agora, tem um lance importante que é a sociedade conectada. Para mim, o que aconteceu é só um sintoma disso. Todos terão de aprender a viver sob essa nova ordem.”

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Marcelo Sant’Iago, sócio da MBreak Comunicação – “Claro que as redes têm um papel importante principalmente na disseminação da informação para o exterior. Por isso, a intenção de regimes totalitários em bloquear o acesso durante os períodos de turbulência. Mas as pessoas vão se reunir de uma forma ou de outra. A história mostra isso. Deve-se relativizar o papel das redes. É muito simples uma pessoa colocar uma hashtag no Twitter ou uma frase em seu Facebook apoiando uma causa. Daí a essa pessoa sair às ruas há uma distância muito grande. Veja o caso do Brasil: as pessoas não cansam de se indignar contra corrupção nas redes sociais, mas isso não foi o suficiente para mobilizar as massas a ir às ruas em um protesto veemente. Quanto à censura levantada pelo primeiro ministro britânico é sem dúvida uma afronta à história de um país onde, até poucos anos, os policiais se orgulhavam de não andar armados e não à toa já houve uma onda contrária a isso, dizendo que Cameron exagerou em sua declaração.”

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Tim Lucas, inglês e sócio da The Listening Agency – “É ridículo ver que o governo britânico apoia as ferramentas sociais quando elas são favoráveis, mas as culpam em situações como essa. Na história da Inglaterra já tivemos muitos moral attacks. Por exemplo, entre os anos 60 e 70, quando os jovens se rebelavam, quando surgiu o movimento punk, a mídia começava a fazer escândalos e o governo escolhia um alvo para atacar, em vez de lidar com o problema social. Ou seja, em vez de enfrentar a crise econômica e de desemprego, o governo prefere interferir na mídia social. Sobre o Blackberry, os jovens adoram se comunicar por meio de seu sistema. Eles sabem que ele é fechado. Tem um aspecto de privacidade que é muito valorizado. Se perguntar a um inglês o que acha de o governo passar a monitorar o que você está fazendo, ele responderá ‘imagine?! O Estado não faria isso’. Mas é uma questão importante. Qual a diferença entre os telefones grampeados de Rupert Murdoch e o governo monitorando as pessoas na mídia social? Os ingleses têm essa coisa da liberdade, que é muito forte. Então, uma medida dessas não seria aprovada. Acho que o governo está desesperado e quer mostrar de alguma maneira que eles estão enfrentando o problema seriamente. Outro aspecto que considero importante é a percepção de que as mídias sociais são a salvação da democracia. A verdade é que elas espalham coisas boas e ruins. A tendência é colocar a tecnologia como a salvadora da democracia. Mas não é a tecnologia. É a sociedade.”

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