Jornais revisam apoio a golpe de 1964

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Jornais revisam apoio a golpe de 1964

Em editoriais, Folha, O Globo e Estadão admitem erro, mas destacam contexto do período


31 de março de 2014 - 6h42

Nessa terça, 1º de abril, terão passados exatos 50 anos desde que um golpe de Estado colocou generais das Forças Armadas no poder executivo brasileiro, tirando à força da presidência João Goulart. O golpe de 1964 agitou toda a sociedade brasileira, especialmente políticos, militares, intelectuais e jornalistas. A mídia, em especial, apoiou em quase uníssono a deposição de Goulart – escolha essa que posicionou a imprensa do lado errado da história, como se verificaria mais tarde.

A efeméride que ora se relembra move os veículos no sentido de uma extensa recapitulação do passado recente brasileiro. Jornais, revistas, programas de rádio e TV e suas propriedades na internet têm publicado materiais especiais sobre o período, repletos de entrevistas, documentos, imagens, análises e opinião. Outro propósito leva a imprensa a refletir sobre o próprio papel durante o processo.

Dos grandes veículos de impacto nacional em meados dos anos 1960, dois continuam ativos: O Estado de S. Paulo e O Globo. Um grande veículo atual, a Folha de S.Paulo, era coadjuvante na época do golpe, mas cresceu muito depois dele – a ponto de ser, hoje, o jornal de maior circulação do País. Os três veicularam editoriais sobre o tema entre o domingo, 30, e a segunda-feira, 31.

Se todos os jornais concordam sobre o equívoco que representou o apoio ao golpe em si, os artigos guardam diferenças quanto às experiências vividas pelo País ao longo de seus 20 anos de ditadura. A Folha, por exemplo, publicou no domingo que “realizações de cunho econômico e estrutural desmentem a noção de um período de estagnação ou retrocesso”. Apesar do tom similar no Estadão desta segunda-feira – “Na economia e na modernização da administração, o regime obteve inegáveis êxitos” – O Globo foi mais crítico: “O que seria uma intervenção cirúrgica, garantidas as eleições presidenciais em 65, prolongou-se por duas décadas. Tempo suficiente para os tenentes dos anos 1920 colocarem em prática, enfim, seu projeto de salvação nacional. E falharam.”

Não por acaso, o diário carioca foi o primeiro a assumir publicamente o equivocado apoio ao golpe militar, em editorial de setembro de 2013. Ao fazê-lo em nome de todas Organizações Globo, o jornal explicou o contexto nervoso que então guiou suas escolhas – especialmente a forte influência da Guerra Fria e os indícios de que João Goulart iniciaria uma reforma populista. Repetiu o tom no editorial desta segunda-feira. 

O Estadão voltou-se mais ao contexto histórico, relembrando as Reformas de Base de Goulart, seu esforço pela volta do presidencialismo e sua associação à Leonel Brizola. Pontuou o forte apoio que o golpe teve das elites, citando as 500 mil pessoas na Marcha da Família com Deus pela Liberdade em São Paulo, em março de 1964, e a multidão de 1 milhão que comemorou a deposição no Rio de Janeiro, em 2 de abril daquele ano. 

Ainda que critique a face mais violenta e repressiva do regime, a Folha louvou o que considerou positivo no regime: “A economia se diversificou e a sociedade não apenas se urbanizou (metade dos brasileiros vivia em cidades em 1964; duas décadas depois, eram mais de 70%) mas também se tornou mais dinâmica e complexa. Metrópoles cresceram de modo desordenado, ensejando problemas agudos de circulação e segurança.” Também assumiu que errou ao apoiar os militares, mas defendeu que as críticas atuais sobre a posição de outrora não se justificam: “É fácil, até pusilânime, porém, condenar agora os responsáveis pelas opções daqueles tempos, exercidas em condições tão mais adversas e angustiosas que as atuais. Agiram como lhes pareceu melhor ou inevitável naquelas circunstâncias.”

Veja a seguir capas dos principais jornais na época do golpe de 1964. Leia a íntegra desta matéria na edição 1604, de 31 de março, exclusivamente para assinantes de Meio & Mensagem, disponível nas versões impressa ou para tablets Apple e Android.

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