A entrevista que sacudiu o México

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A entrevista que sacudiu o México

Reportagem do ator Sean Penn com o narcotraficante mexicano Joaquín Guzmán, na revista Rolling Stone, repercute entre organizações e publicações internacionais


12 de janeiro de 2016 - 12h30

O último levantamento da organização francesa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) mostra que oito jornalistas foram assassinados no México em 2015.

O País lidera, há uma década, a lista das nações mais perigosas para o exercício da profissão, com um saldo de mais de 70 jornalistas assassinados.

Não por acaso, portanto, tem repercutido a entrevista do ator Sean Penn com o narcotraficante mexicano Joaquín Guzmán, El Chapo, publicada na revista Rolling Stone.

O índice de jornalistas mortos é consequência das atividades de narcotraficantes nas regiões fronteiriças. Entre eles, o Cartel de Sinaloa, que tem El Chapo entre seus líderes.

Muitos jornalistas profissionais não apoiaram o ator por ele dar voz a um dos maiores “inimigos da imprensa” dos últimos anos. Mas também há controvérsia sobre a dinâmica e os bastidores da entrevista.

Uma das principais críticas está relacionada ao fato de Guzmán autorizar previamente o teor da entrevista antes de ela ser pulicada, uma prática desaconselhável no meio, por subentender influência da fonte sobre a isenção do repórter.

Steve Coll, diretor da Escola de Graduação da Universidade de Columbia, disse, em um artigo no The New York Times, que a aprovação prévia é preocupante, mas que “emplacar uma entrevista exclusiva com um criminoso procurado é jornalismo legítimo, não importando quem seja o repórter”.

Ao Meio & Mensagem, o francês Benoit Hervieu, que atuou como diretor da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) na América Latina, explica que a polêmica é compreensível, mas não é inédita. “Na década de 1970, na França, houve várias entrevistas de jornalistas com o criminoso Jacques Mesrine, que era o inimigo público número um. A questão, no caso da Rolling Stone, é saber quais as ligações entre os bastidores da entrevista e a captura do El Chapo”

Também no New York Times, Jann Wenner, um dos fundadores da Rolling Stone, e responsável por intermediar as conversas com Sean Penn, disse que não vê a menor possibilidade de a revista eventualmente ter que ir à Justiça pela publicação da entrevista. “Eles já prenderam seu homem, para que vão precisar de nós? Não temos nada a acrescentar”, afirmou Wenner.

Na visão do jornalista, não existe um problema no fato de Guzman aprovar o teor da entrevista. “Outras fontes já puderam decidir sobre suas declarações antes”. Segundo Wenner, o traficante não fala inglês e não pareceu interessado em editar o trabalho de Penn.

Andrew Seaman, presidente do Comitê de Ética da Associação de Jornalistas Profissionais dos Estados Unidos, declarou, em nota, que “permitir a qualquer fonte controlar conteúdo de uma reportagem é imperdoável”.

Em um artigo publicado no jornal mexicano El Universal, o escrito mexicano Salvador García Soto disse que não há nenhuma restrição em entrevistar um delinquente fugitivo, desde que exista interesse público. “Não é a primeira e nem será a última entrevista de um mafioso ou narcotraficante que, por sua notoriedade pública, resulta de claro interesse jornalístico".

Em 2012, o repórter argentino Diego Fonseca chegou a iniciar conversas para escrever a biografia de El Chapo, apesar de a ideia não ter seguido adiante, Fonseca disse nesta segunda-feira, 11, em entrevista à rede Univision que não existe nada que condene Penn pela entrevista. "Meu trabalho é entrevistar e conseguir uma história, não sou funcionário do departamento de narcóticos dos Estados Unidos. Não é minha responsabilidade dar informações a autoridades", disse Fonseca.

De acordo com o The Hollywood Reporter, Sean Penn afirmou que não se arrepende e não tem nada a esconder de sua entrevista com El Chapo. Questionado pelo jornal, Penn não revelou se foi apropriado submeter a entrevista para aprovação.

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Roteiro de Hollywood

O bastidor da entrevista publicada na Rolling Stone é digno de um roteiro de cinema. O episódio envolve também a atriz mexicana Kate del Castillo, filha de Eric del Castillo, um dos maiores atores de telenovelas do México, muitas exibidas no Brasil pelo SBT.

Os laços de Kate com Guzman não são recentes. A atriz mantém contato e troca mensagens com El Chapo desde 2011. Naquele ano, Kate viveu, na novela “La Reina del Sur”, a traficante Tereza Mendoza, ex-namorada de um membro do cartel de Sinaloa que, após ter sido perseguida, fugiu para a Europa, onde se tornou uma das maiores traficantes da região.

No México, a atriz vive o escrutínio da imprensa e pode, em breve, ser investigada pela polícia americana.

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