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Opinião

Cabeça de startup

As estrelas da nova economia estão aí para nos lembrar que as coisas podem ser feitas de forma mais simples e direta


22 de abril de 2016 - 15h08

Startups estão na moda. A imprensa fala delas quase que diariamente. Os jovens querem trabalhar nelas. E todas as outras empresas querem tirar uma casquinha dessa nova onda. Mas o que as grandes corporações têm a aprender com startups? As startups estão aí para nos lembrar de que as coisas podem ser feitas de forma mais simples e direta — principalmente em um ano como este.

Em tempos de crise, quando o budget encolhe, nos desesperamos para decidir onde vamos cortar ou o que deixaremos de fazer. Não é fácil. Agora, deixa eu contar uma coisa: startups, em sua maioria, vivem num estado de restrição orçamentária permanente. Quando o cashburn indica que há vida pelos próximos seis meses, precisam focar no que realmente importa: sobreviver. Na maioria das vezes, isso significa controle de gastos e geração de caixa. E não tem tempo para conversa furada. Foco no desenvolvimento do produto, entendimento do target e de suas necessidades e testes, testes, mudanças e mais testes, ajustes e novos testes. Desde que sejam todos eles pequenos e rápidos (leia-se, baratos). Essa lógica permite que o cliente participe no processo em vez de adivinharmos o que ele quer. Testam-se preços, promoções, textos de e-mail, dinâmicas comerciais, cores e posição de botões, enfim, tudo que se pode imaginar. Se der certo, escale. Se não der, aborte. E vamos em frente. Sem apego.

As constantes mudanças de cenários fazem parte da rotina de uma startup. Adaptar-se com velocidade e adequar seu posicionamento é condição indispensável para o sucesso. “Pivotar” é o termo chique que usamos para dizer que o caminho que seguíamos estava errado. Se para escalar, precisamos tomar esse novo caminho, vamos em frente. Não sofrer com isso e seguir com a mesma paixão de antes é o que temos a aprender com esses caras.

Não pense, entretanto, que empreendedores não sofrem. Pelo contrário. O board de uma startup pediu a seu fundador que fizesse um planejamento estratégico de cinco anos. No auge do seu sofrimento, acabamos batendo um papo. Disse que qualquer número que ele colocasse naquele plano estaria OK. O motivo é simples, não faz o menor sentido para uma startup fazer um arquivo com o nome Road Map 2020. Esses projetos costumam funcionar para grandes corporações porque respeitam três regras: são lindos, dão uma sensação de segurança e quase nunca são cumpridos. Os problemas de uma startup costumam ser mais mundanos. Isso quer dizer que elas não devem ter um plano? Claro que não. Mas nunca ficou tão evidente a necessidade de “terminativas” sobre iniciativas. De ação sobre blablablá. O sucesso dessas novas empresas está intimamente ligado ao envolvimento dos colaboradores e à capacidade de execução de seus times.

Numa das muitas palestras que dei em nome da Netshoes (onde atuei por quatro anos), o novo surgiu na forma de uma pergunta que me fizeram. “Queria entender o mindset de vocês, porque, claramente, vocês não pensam como uma empresa tradicional. É isso que faz a diferença em favor da Netshoes?” Confesso, nunca havia pensado naquilo. Um modus operandi, uma cultura ou uma forma de pensar como diferencial competitivo? Não sabia o que responder. Na hora de falar, saiu da minha boca pela primeira vez o termo “cabeça de startup”. Se isso for sinônimo de simplicidade, agilidade, capacidade de adaptar-se a novos cenários com velocidade, saber operar com custo baixo e questionar o status quo, nunca uma resposta instintiva fez tanto sentido.

Startups não são perfeitas, erram tanto ou mais que grandes corporações e seguramente não são a solução para todos os problemas. Mas quando elas nos lembram de fazer as coisas de maneira mais simples e nos fazem questionar nossas certezas, elas representam sim um frescor na dura rotina corporativa.

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