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Opinião

Vamos falar sobre mulheres e feminismo?

Além de uma luta justa, o movimento se tornou um símbolo de solidariedade entre as mulheres e tem impactos profundos no consumo


21 de junho de 2016 - 14h36

Pelas minhas andanças Brasil afora (que não foram poucas) pude notar o quanto está enraizado em nossa cultura uma perspectiva realmente patriarcal. E o quanto essa cultura é tão esmagadora no trato do que é diferente, do que não se enquadra em seus padrões. Como país jovem que somos, cercear a diversidade é um caminho certo para a estagnação.

Historicamente o homem sempre se colocou no centro das trocas simbólicas, como se fosse o grande parâmetro a ser seguido, estabelecendo as normas, que ditavam todos os comportamentos socialmente aceitos.

Bom, afinal de contas por que estou tratando desse assunto? Porque tenho acompanhado significativas mudanças nos comportamentos sócio-culturais das mulheres, que vão além do mero campo do consumo, mas que também o atingem.

Mulher_Negocio_300.jpgSão mudanças importantes que têm suas raízes em outros momentos históricos, mas que parecem estar eclodindo com bastante força na contemporaneidade e mais do que solicitando um espaço de igualdade, essas mudanças parecem descentralizar o lugar do masculino e o colocar em um nível muito mais horizontal do que vertical.

Basta lembrar o Oscar em que Patrícia Arquette, ganhadora do prêmio de melhor atriz em 2016, transformou seu discurso em uma ação política exigindo da indústria de entretenimento o fim da diferença de salários entre homens e mulheres. Em 2014 vimos Emma Watson (a famosa atriz que interpretou a personagem Hermione em Harry Potter) fazer um discurso memorável na ONU chamando os homens a lidar com a desigualdade de gênero de maneira a assumirem uma posição ativa nessa luta.

Basta uma simples olhada pelo Facebook para entender que as mulheres jovens estão cada vez mais se associando em coletivos para os mais diferentes fins

Então, é com esse espírito de descentralização, inspirado também nas atrizes citadas anteriormente, que tenho acompanhado os movimentos feministas em diferentes lugares do País, por vezes agindo como um divulgador ou, mais do que isso, como um apaixonado pela causa. Talvez, por isso eu tenha sido convidado a participar de eventos tão importantes e tão diferentes entre si, mas com propósitos mais que dignos; eventos que rediscutem o papel da mulher e suas várias formas de ser e estar em sociedade.

Minha perspectiva, apesar de um entusiasta e incentivador do movimento feminista, é daquele profissional que busca o “Consumer Insight”, que entende que o mundo mudou e consequentemente as consumidoras também.

Nos deparamos dia após dia com as mudanças fundamentais nos valores ocidentais — no passado, tínhamos a ética da autonegação e hoje vivemos a autorrealização, buscávamos um padrão de vida mais alto e hoje buscamos qualidade de vida, vivíamos para trabalhar e hoje trabalhamos para viver etc.

Sob uma ótica mais geral acerca das atitudes dessas novas consumidoras, nos deparamos com as seguintes características: a) as mulheres estão mais exigentes e pesando atributos mais tangíveis dos produtos e marcas, optando por produtos com qualidade suficiente, mas com preço baixo; b) elas estão mais sensíveis aos preços e se o preço aumenta ela não se importa em trocar a marca/produto por outro similar; c) elas têm consciência sobre o valor da moeda; d) elas estão menos vulneráveis ao poder da marca e menos fieis aos seus apelos (por exemplo, marcas que concedem mais descontos são melhor avaliadas e mais compradas).

Diante dessas características ficam as perguntas: será que a personalidade e a forma de agir das consumidoras brasileiras realmente está mais “combativa”? Será que essa maneira mais impositiva de se posicionar é um reflexo de uma mudança mais profunda que ainda não estamos enxergando?

Uma das significativas transformações com a qual tenho me deparado é uma construção de laços sociais cada vez mais efetivos e afetivos entre as próprias mulheres. Basta uma simples olhada pelo Facebook para entender que as mulheres jovens estão cada vez mais se associando em coletivos para os mais diferentes fins. Há coletivos desde trocas de roupas, até aqueles de cunho eminentemente feministas como o Lisandra, da Faculdade Cásper Líbero, ou ainda outros para troca de informações e mensagens entre mães.

O feminismo contemporâneo está criando novas reinvindicações e agremiações combativas (a Marcha das Vadias é uma dessas manifestações, que surgiu no Canadá em resposta a um comentário sexista de um guarda de campus, que disse que universitárias não deveriam se vestir como vadias, para que não fossem violentadas), mas também está promovendo um movimento de construção de laços sociais mais interpenetrados e fortes entre as próprias mulheres. Isto é, o feminismo, mais do que uma luta justa, tornou-se um jeito de as mulheres se relacionarem com mais compaixão e solidariedade entre si.

Agora, imaginemos o impacto de tais laços nas demandas de consumo, nas relações com as marcas, nas reinvindicações por produtos e serviços mais adequados, no questionamento das comunicações publicitárias com suas mensagens estereotipadas, ou seja, em todas as dimensões do marketing. Enfim, diante de tudo isso eu me questiono: será que o mercado está realmente preparado para esse tipo de mulher?

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