A reinvenção da campanha eleitoral

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Opinião

A reinvenção da campanha eleitoral

As mídias digitais terão o papel fundamental de disseminar propostas e ideias, bem como criar vínculos mais fortes entre candidatos e população


1 de setembro de 2016 - 13h46

Aprovado como anfitrião das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o Brasil não teve, sequer terá, um dia de sossego pela frente. A euforia pelas 19 medalhas conquistadas por atletas brasileiros é parte do passado. Concluído o processo de impeachment de Dilma Rousseff pelo Senado, os holofotes se voltam agora para os deputados federais. Recai sobre eles a obrigação de decidir sobre o futuro do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha – votação prevista para o dia 12. Em meio a isso tudo, outra protagonista surge com força no cenário político: as eleições municipais.

No dia 2 de outubro, mais de 144 milhões de eleitores irão às urnas para eleger prefeitos e vereadores em 5.570 municípios. Os cidadãos deverão escolher seus representantes entre os 487 mil candidatos registrados pela Justiça Eleitoral em todo o país. Esses números revelam a complexidade que é organizar e disputar eleições no Brasil.

Embora o eleitor já esteja acostumado ao processo de votação, que acontece a cada dois anos desde a redemocratização, o pleito atual traz novas regras e está sendo disputado em cenário de absoluto desprestígio dos políticos. Depois das investigações da Operação Lava Jato, a avaliação da classe política se deteriorou vertiginosamente.

Além da crise moral, os candidatos enfrentarão grandes dificuldades nestas eleições. A principal será a escassez de recursos provocada pela proibição do financiamento privado das campanhas. Elas deverão ser custeadas apenas pelo Fundo Partidário e por doações de pessoas físicas, prática que não tem tradição no País. Soma-se a isso a redução do tempo de campanha: serão apenas 45 dias para convencer o eleitor, ante os 90 dias das eleições anteriores. O período de exibição da propaganda em rádio e TV também sofreu cortes, de 45 para 35 dias.

Para complicar ainda mais a vida dos candidatos, a reforma eleitoral aprovada pelo Congresso Nacional em 2015 coloca limites às peças publicitárias. Estão proibidos, por exemplo, os chamados efeitos especiais em toda propaganda eleitoral. Nas pequenas cidades, onde não existem emissoras de rádio e TV, o desafio político será enorme. Não são permitidas pinturas de muros e veículos, nem exposição de faixas e cavaletes.

A nova legislação eleitoral ficou tão engessada que ganhou o apelido de “Frankenstein” pelo sociólogo Antonio Lavareda, coautor do livro A lógica das eleições municipais. Para ele, a pressão da opinião pública levou os parlamentares a produzirem uma legislação “laboratorial”, que provavelmente será modificada para 2018.

Diante de tantas adversidades, as campanhas eleitorais precisarão ser reinventadas, deixando de lado fórmulas desgastadas. Como engajar um cidadão desmotivado e incrédulo? Um bom começo seria pela mudança de linguagem. Não há mais espaço para discursos proclamatórios e frios. É preciso gerar interação com o eleitor. As mídias digitais terão o papel fundamental de disseminar propostas e ideias, bem como criar vínculos mais fortes entre candidatos e população. Esse jogo, porém, exige conhecimento da realidade e o exercício sistemático da transparência. Toda tentativa de manipular esses conceitos poderá ser desmascarada facilmente. É preciso estar ciente de que os internautas estão vigilantes e não consomem qualquer informação.

Por isso, existe a necessidade de um trabalho eficiente de relações públicas. Com treinamento e preparo específicos, o candidato pode se apresentar adequadamente nesses novos formatos de mídia e explorar ao máximo suas potencialidades. Superproduções, por exemplo, funcionam pouco nas redes sociais. Quanto mais simples e identificado com a realidade de seu público, maior é a possibilidade de o trabalho de comunicação alcançar resultados satisfatórios. Vale investir em vídeos gravados pelo celular, transmissões ao vivo com interação e distribuição via Facebook, WhatsApp, Snapchat e Twitter.

O diálogo direto com o cidadão garante mais autenticidade e credibilidade a quem fala. Ele viabiliza relacionamentos mais consistentes. Seu sucesso, entretanto, depende de circunstâncias, das características de cada candidato e do domínio das ferramentas. É fácil ter acesso a esses canais. O desafio é saber utilizá-los de forma eficaz e produtiva.

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