Ainda vikings e bárbaros

Buscar
Publicidade

Opinião

Ainda vikings e bárbaros

Na Escandinávia mantém-se o espírito desbravador e o inconformismo em se limitar ao tamanho dos países. Todos pensam o mundo e querem chegar mais longe


29 de setembro de 2016 - 9h31

Foto: Reprodução

(crédito: reprodução)

Elá fomos nós para a 17ª viagem do Grupo de Mídia. Na caravana, 80 profissionais, entre 50 mídias (de 27 agências), 18 de veículos, mais produção, com destino à Escandinávia, para 20 conversas entre Oslo e Estocolmo.

Logo notamos que o DNA viking se manteve no espírito desbravador e eles não se conformam em se limitar ao tamanho dos países. Todos pensam o mundo, querem chegar mais longe e viabilizar os projetos.

Devem estar certos, pois de lá vieram o Spotify, Ikea, Ericsson, H&M, Electrolux, Saab, Tetra Pak, Absolut, Skype, Volvo, EMI, Nokia, Hasselblad…

São países muito desenvolvidos, líderes em IDHs e onde o acesso à tecnologia é quase que universal: altíssima penetração de broadband com qualidade, maioria da população conectada, wifi gratuito em quase todo lugar, 87% têm smartphone, 67% têm tablet e etc. Nesse ambiente de “media lab” ao vivo, tudo floresce melhor, o streaming é uma alternativa viável e as plataformas são robustas para uma demanda frenética.

Isso se espalha pelos países. Na Suécia, por exemplo, eles têm o Ministry of Enterprise and Innovation e sabem que o futuro passa por aí. Tanto que visitamos um local privado, Epicenter, onde mais do que um espaço compartilhado, as empresas, start ups ou não, se unem por um trabalho mais integrado. Eles enxergam a necessidade de criar juntos, de compartilhar experiências e custos e, mais de uma vez, disseram trabalhar com os “frenemies” – “friends + enemies” – amigos, pero nem tanto, pois são concorrentes, mas juntos, ficam mais fortes.

Com tanto acesso ao streaming (85% da música, por exemplo) e com esse nível de desenvolvimento econômico e cultural, mudam os componentes básicos de sustentação das opções de mídia: cresce o peso dos assinantes e cai o da publicidade. O Lars Nordwall, da Neo Technology, a companhia por trás do ICIJ – International Consortium of Investigative Journalism que apurou os Panamá Papers, falou da importância dos analytics para desvendar os padrões subjacentes às montanhas de dados. Comentou ainda que o valor das marcas pode cair com o crescimento das plataformas intermediárias e das recomendações dos usuários, como já acontece através da Amazon.

Conhecemos a experiência do fim do rádio analógico na Noruega (2017). O Tommy Gaustad, da NRK – Digital Radio Norge, mostrou o processo – ótima referência para o Brasil (atenção, Abert) – onde, após um belo planejamento, criando até uma emissora só para os seniores, estão vencendo o desafio. Falta ainda uma solução mais barata de rádio digital para os automóveis.

A queda da mídia impressa é muito clara, mas procuram se reinventar. O Shibsted, mais importante grupo editorial da Noruega, mesmo que um pouco atrasado, faz isso, juntando todas as suas propriedades em uma imensa plataforma, trabalhando os dados de forma programática para competir com o Google e o Facebook. O projeto da WanIfra da World Alliance for Media Innovation está sendo seguido (vão incluir o tema Música na Next Conference!) e contam no board com um pesquisador gaúcho, da PUC/RS.

A Forman & Bodenfors, sensacional e super premiada agência sueca, nos lembrou do tempo em que as agências conseguiam se impor e se posicionar como experts em comunicação, sendo mais respeitadas pelos clientes que procuram construir novos hábitos. Na Ericsson Stúdios vimos que as mudanças na comunicação ainda irão longe, que o universo da IOT – Internet of Things vai personalizar muito nossa relação com as marcas e que o 5G trará uma diversidade e complementariedade ainda maior do que supomos.

Por fim, nessa jornada por sociedades muito evoluídas, foi interessante notar que partilhamos do mesmo receio frente à “invasão estrangeira” do Netflix, Facebook e Google: a perda da identidade e da cultura regional.

Enfim, não estamos sós, mas distantes…

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Quem é o anunciante e quem é o veículo?

    Os próximos anos serão críticos na consolidação do mercado de varejo tradicional e, também, dos sistemas operacionais de TVs conectadas

  • Técnica e estratégia

    Ambiente estressado pela pulverização de opções de mídia e pelas mudanças de comportamento da audiência valoriza os profissionais especialistas na atividade, mas exige desempenhos mais fundamentados