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Opinião

Má notícia: a vida real (e política) não está na sua timeline

Ninguém tem a menor noção do tamanho do silêncio da insatisfação popular com a política. E isso faz com que todo mundo esteja perdido sobre a tão importante “opinião pública”


9 de novembro de 2016 - 14h21

Foto: Reprodução

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Os sucessivos fenômenos Dilma x Aécio, impeachment no Brasil, Brexit, Doria no primeiro turno, Crivella e, agora, Trump, só nos fazem ter a certeza de uma coisa: ninguém faz ideia da opinião do público até a abertura das urnas.

Pior: ninguém tem a menor noção do tamanho do silêncio da insatisfação popular com a política. E isso faz com que todo mundo esteja perdido sobre a tão importante “opinião pública”.

A crise do Jornalismo e da Mídia chegou no seu ponto mais delicado até aqui. E deveria fazer toda a Indústria de Comunicação parar por alguns instantes e tentar entender o que está acontecendo.

Os resultados recentes das urnas, no Brasil e no mundo, significam um pedido de mudança. E mostram que as pessoas apostam cada vez mais em gente que diz o que vai mudar na vida delas

Diversos teóricos e estudiosos da Comunicação já cravaram: quanto mais democrático o acesso à informação, mais fragmentada ela se torna. Portanto, mais seletiva, parcial e limitada ela é. Quanto maior o número de fontes que temos à disposição para nos informar, menor é a nossa visibilidade do que realmente está acontecendo.

Óbvio que isso não é culpa das redes sociais, cujo papel é de serem plataformas disseminadoras de conteúdo, interação e engajamento entre as pessoas. Elas só refletem o comportamento dos indivíduos, que em conjunto formam a sociedade, e que são os únicos responsáveis por tudo o que publicam. O problema é justamente esse: para onde estamos caminhando (ou estamos estagnados) como sociedade?

Ao focar no “micro”, perdemos o “macro” de perspectiva.

Ao nos alimentarmos diariamente de drops de informações superficiais, perdemos o contexto e a “big picture”.

Por conta disso, a sua timeline não reflete a realidade. Como uma seleção baseada em algoritmos, códigos que aprendem com base na interação das pessoas, sua timeline é totalmente controlada pelas suas preferências, podendo ser editada a qualquer momento. Então, ao mostrar apenas recortes da realidade – sempre repletos de interpretações e juízos de valor –, está longe de explicar o mundo.

O jornal ou o site que você lê, infelizmente, também está perdendo essa capacidade. Talvez por quererem competir demais com a sua timeline – e perder sua essência jornalística e de análise de contexto.

O que implica que a chamada “grande mídia”, sozinha, não elege mais ninguém.

E nem os artistas/celebridades/influencers/whatever.

Os resultados recentes das urnas, no Brasil e no mundo, significam um pedido de mudança. E mostram que as pessoas apostam cada vez mais em gente que diz o que vai mudar na vida delas. E não necessariamente em gente que diz o que elas têm de fazer.

E, quer saber? Talvez não haja o retrocesso ou a onda conservadora que todo mundo anda pintando por aí. Talvez o mundo seja assim, mesmo.

O fato é que NÓS NÃO SABEMOS.

O fato é que nunca estivemos tanto tempo no escuro. E sem saber que estamos nele.

O fato é que todo o Big Data e todo o Conteúdo que circula por aí não está sendo usado para o que realmente deveria.

Políticos, partidos e instituições, no geral, se comunicam mal. Com Trump, tivemos mais uma amostra do impacto que isso pode causar.

Está na hora de refletir sobre o que nós – como integrantes da Indústria de Comunicação e do Conhecimento, da Economia Criativa, do Marketing de Causa etc. etc. etc. – vamos fazer a respeito disso.

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