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Opinião

As estrelas são indiferentes à astronomia

É da aridez do território escasso em recursos que muitas vezes brota a solução mais criativa e eficiente, sob o signo da otimização


20 de fevereiro de 2017 - 10h49

The stars arte indifferent to astronomy

Capa do álbum The Stars Are Indifferent to Astronomy, do grupo Nada Surf. Foto: Reprodução

Uma das bandas mais relevantes da cena indie-pop nova-iorquina desde a década de 1990, e em plena atividade até hoje, o Nada Surf lançava há exatos cinco anos o sétimo álbum de sua carreira. A obra foi uma espécie de redenção para os fãs, por trazer de volta a sonoridade original do grupo, praticamente ignorada no questionável registro anterior em estúdio, If I Had a Hi-Fi (2010). O nome do trabalho também primou pela singularidade: The Stars Are Indifferent to Astronomy foi inspirado em uma expressão utilizada pelo físico e filósofo americano Peter Caws (pai do vocalista e guitarrista do Nada Surf, Matthew Caws).

A definição remete à significância relativa do conhecimento. Objetos de pesquisas científicas na natureza não fazem a menor ideia de como os definimos, pesquisamos ou classificamos. São protagonistas, mas não compreendem a estrutura na qual os inserimos — e muito menos se deixam limitar por ela, uma vez que ignoram sua existência.

“O mundo natural é o que é, independentemente de estarmos corretos ou não na maneira em que pensamos sobre ele”, explica Peter Caws. “Elétrons não sabem que são elétrons; a lua não sabe que é a lua.”

Assim como as estrelas são indiferentes à astronomia, criação e inovação não reconhecem padrões e enquadramentos tradicionais aos quais são encaixadas por definições burocráticas e condições financeiras. É da aridez do território escasso em recursos em suas mais diversas variantes que muitas vezes brota a solução mais eficiente, sob o signo da otimização.

Um estudo de 2015 conduzido por Ravi Mehta, da Universidade de Illinois, e Meng Zhu, da Johns Hopkins University, explorou como uma reflexão sobre escassez e abundância influencia a maneira de as pessoas agirem com maior ou menor criatividade quanto às soluções que encontram para usar os recursos disponíveis na realização de uma tarefa.

É da aridez do território escasso em recursos em suas mais diversas variantes que muitas vezes brota a solução mais eficiente, sob o signo da otimização

A hipótese dos autores, que veio a ser confirmada, era a de que destacar a escassez de recursos reduziria a tendência natural das pessoas em usar o que está disponível de maneira convencional. Relatada por Scott Sonenshein em seu livro Stretch: Unlock the Power of Less – and Achieve More Than You Ever Imagined (que teve um trecho publicado pela Fast Company neste mês), a pesquisa concluiu, após cinco diferentes experimentos, que a restrição gera um impulso criativo muito mais poderoso do que a abundância — que muitas vezes pode até mesmo ser contraprodutiva.

“A indústria estava muito criativa apesar de não ter muitos recursos. Assim como no Brasil. Acho que os dois países (África do Sul e Brasil) são parecidos nesse sentido: precisam ser criativos com muito menos recursos — e é preciso achar uma forma de se destacar”, contou o presidente de criação global da TBWA\Worldwide, o sul-africano Chris Garbutt, à repórter Isabela Lessa. Ele se refere aos anos seguintes ao fim do regime de apartheid (que, por quase meio século, a partir de 1948, segregou racialmente a África do Sul). “Nelson Mandela havia sido libertado depois de ser encarcerado por muitos anos. Está- vamos no ápice da revolução e ele, como líder, servia como uma grande inspiração de estilo de vida durante um período turbulento.”

A entrevista com o criativo, caro leitor, está publicada nesta edição. E lembre-se: mais importante que disponibilizar um orçamento polpudo é ser um líder inspirador, independentemente das condições.

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