Publicidade continua escandalosamente sexista

Buscar

Publicidade continua escandalosamente sexista

Buscar
Publicidade

Opinião

Publicidade continua escandalosamente sexista

Mas há indicativos “sutis” de mudanças relevantes


8 de março de 2017 - 15h01

 

balanca-com-um-homem-e-uma-mulher_1205-369

(Crédito: reprodução)

O mundo, aos trancos e barrancos, anda menos sexista. Mas o fato de um publicitário, no caso eu, estar escrevendo sobre este tema, em vez de uma mulher, é um indicativo “sutil” de que muita coisa ainda precisa mudar. Em pleno século 21, a publicidade não apenas continua escandalosamente sexista, como colabora todos os dias, diante da sociedade e dentro das próprias agências, para a manutenção do status quo.

65% das mulheres afirmam não se identificar com a forma como são retratadas na publicidade

Discorda? Você tem o direito! No entanto, vamos às evidências:

– 65% das mulheres afirmam não se identificar com a forma como são retratadas na publicidade;

– 53% das brasileiras são negras ou pardas, mas apenas 26% são retratadas em campanhas;

– 48% das mulheres do país estão acima do peso; mas, na publicidade, 78% são magras;

– Nos posts das 10 maiores marcas nacionais no Facebook, é baixíssimo o protagonismo feminino: em 85% dos casos, a personagem principal é um produto; em 10%, os homens são o destaque; ao passo que, em apenas 5% das narrativas, as mulheres assumem o protagonismo;

– Outro dado curioso: de 100 posts analisados, nenhum aborda a causa transexual; e apenas um (um!), retrata a relação afetiva entre mulheres do mesmo sexo.

Os números fazem parte do relatório “Mulheres invisíveis: as mulheres que a publicidade não mostra”, divulgado em janeiro deste ano pela 65/10, consultoria especializada em comunicação com mulheres, em parceria com o Grupo ABC. O estudo afirma que, apesar da diversidade ter entrado na pauta, ser tópico de debates acalorados em festivais e conferências, mudanças significativas ainda estão bem distantes do cotidiano.

Do lado de dentro das agências, a realidade não é diferente.

Há pouco mais de um ano, a Meio & Mensagem realizou uma pesquisa junto às áreas de criação das 30 maiores agências de publicidade do Brasil na época. Na ocasião, ficou mais que provado que a área é um reduto predominantemente masculino: dos 1531 criativos ouvidos, só 301 eram mulheres. Na média, o número era inferior a 20%. Entre as agências pesquisadas, apenas uma tinha equipe de criação capitaneada por mulher.

Outro estudo relevante sobre diversidade no meio publicitário, desta vez conduzido nos Estados Unidos em meados de 2016 pela 4A’s (American Association of Advertising Agencies), fez uma constatação preocupante: mais da metade das mulheres afirmaram já ter sofrido assédio sexual no ambiente de trabalho. Das 375 criativas ouvidas na pesquisa (de um universo de 549 pessoas entrevistadas), 54% disseram que, em algum momento, já se sentiram “um pouco vulnerável ou muito vulnerável no ambiente de trabalho por serem mulheres.”

No mesmo estudo, cerca de 42% declararam que são muitas vezes ignoradas em tarefas importantes; enquanto que 33% afirmam serem preteridas em promoções ou conquistas de vantagens diante de colegas do sexo masculino. Confira os detalhes aqui.

Felizmente, nem tudo está perdido!

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a Procter & Gamble está ativando neste exato momento uma campanha global de promoção da igualdade de gênero batizada de #WeSeeEqual. A ação tem a proposta de desconstruir estereótipos comportamentais e sentimentais mostrando diversas situações em que a figura masculina ou feminina acaba sendo indiferente em relação à realidade vivenciada. A gigante reuniu todas as marcas do portfólio para enfatizar que todos são iguais.

Outra iniciativa fundamental é o projeto de lei em análise na Câmara dos Deputados que almeja estimar multas de até R$ 200 mil para campanhas publicitárias cujo conteúdo estimule a violência ou denigra a imagem de mulheres. De autoria da deputada Erika Kokay (PT-DF), O PL 6191/6 especifica no texto que o objetivo é a “vedação à publicidade de cunho misógino, sexista ou estimuladora de agressão ou violência sexual”.

Para que transformações aconteçam de modo mais frequente, devemos lutar contra o sexismo nosso de cada dia: nas campanhas que criamos para clientes, nas próprias agências, e, principalmente, dentro de nós mesmos

Apesar de significativas, são ações ainda pontuais. Para que transformações aconteçam de modo mais frequente, devemos lutar contra o sexismo nosso de cada dia: nas campanhas que criamos para clientes, nas próprias agências, e, principalmente, dentro de nós mesmos.

O mundo, aos trancos e barrancos, anda menos sexista. Mas o fato de um homem, publicitário, estar escrevendo sobre o assunto, é um indicativo relevante de que mudanças “sutis” estão acontecendo.

Ainda bem!

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • O que as conversas de bastidores do Web Summit Rio dizem sobre o futuro da tecnologia?

    Conversei, observei e andei bastante pelo Riocentro e decidi compartilhar 3 percepções que me chamaram muita atenção nas conversas

  • Sobre barreiras transponíveis

    Como superar os maiores desafios do marketing com a gestão de ativos digitais