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Opinião

Por um modelo de gestão com propósito

A primeira impressão é a de que no mercado de agências de live marketing a gestão de pessoas é tratada com descaso, desrespeito e muito blá blá blá


27 de abril de 2017 - 10h38

Há um movimento transformador no mercado de live marketing. Há dez anos, o cenário era bem demarcado: poucas “big agências” confortáveis em seus briefings milionários, marcas confiantes em seus segmentos com verbas rechonchudas e certo amadorismo no jeito de fazer dar certo o “below the line”. Ao longo desses 10 anos, pudemos acompanhar reviravoltas por todos os lados: a concorrência hoje está pulverizada. Todo mundo com acesso as mesmas informações e recursos.

FUTUROGrandes estruturas, por vezes, se tornaram elefantes brancos e não sinônimo de capacidade criativa e de entrega. A reinvenção foi necessária: o que importa não são somente as informações que você possui, mas o que você faz com elas. O departamento de marketing dos clientes tem muito mais riscos para assumir nos tempos de branded content, omnichannel, millenials generation, hiperconectividade e outros conceitos novos que surgem a cada dia. Enfim, o consumidor mudou, a economia mudou, as agências se profissionalizaram. O “achismo” cedeu lugar à experiência, à técnica, à inteligência de planejamento.

Por isso, na última década foi necessária a reinvenção algumas vezes; aquele momento em que é preciso fazer o mapa do negócio e repensar formato, processos, perfis das equipes, estratégias go to market. Essa atitude, de olhar os erros, transformar os formatos e identificar as oportunidades garantiu sobrevivência às crises constantes (não só financeiras pelas quais passam o mercado, mas também de identidade, tão marcante nas agências brasileiras) e crescimento sustentável.

Mas, como fazer para reinventar preservando o DNA? E para que esse tão reverenciado “DNA” não seja mais um jargão corporativo? O importante é identificar qual é a essência do propósito do negócio. E é impossível refletir sobre esse assunto sem pensar em como a gestão das pessoas é desenhada. Falar nisso no nosso mercado de agências é quase um tabu já que analisando como as agências de live marketing têm tratado do assunto, a primeira impressão é de descaso, desrespeito e muito blá blá blá. Em época de trabalho colaborativo, modelos descontruídos e profissionais multiplataformas, é cool levantar a bandeira de diversidade, igualdade de gênero ou meritocracia…mas, na prática, muito discurso é só fachada.

Uma pesquisa divulgada em março deste ano pela Deloitte, realizada em 140 países com mais de 10 mil gestores de recursos humanos e líderes de negócios, a Global Human Capital Trends, mostrou que os indivíduos são relativamente rápidos em se adaptar às inovações em curso, mas as organizações se movimentam em ritmo lento. As práticas de gestão ainda são muito antiquadas. As velhas regras que basearam as empresas até aqui não funcionam mais no novo mercado. Na pesquisa, o Brasil ficou em segundo lugar no ranking dos países que acreditam que construir a organização do futuro é um assunto muito importante a ser tratado. Ao todo, 88% dos entrevistados apostaram nesse assunto como a principal tendência da nova gestão, mas apenas 11% responderam saber como começar essa construção. É aí que a reflexão se torna mais profunda: a organização do futuro tem novas regras, algumas delas como conhecimento compartilhado, empoderamento dos times, a liderança com capacidade de capilaridade e multifuncionalidade. É o que eu chamo de gestão com propósito.

O formato de gestão das equipes com propósito tem foco no indivíduo e a consequência desse esforço naturalmente reverbera nos resultados para o negócio. É simples e quase óbvio. Fomentando a diversidade de gênero, de orientação sexual, raça, credo, formação e especialização; discutindo metas com transparência e apresentando a estratégia para todos os envolvidos; criando meios de planejamento de carreira onde cada profissional é responsável por definir seus objetivos e caminhos para alcança-los junto com sua liderança. Estas são as ferramentas de gestão que podem transformar o mercado de agências nos próximos anos.

Em ambientes altamente criativos e inovadores como de agências de comunicação, quebrar barreiras hierárquicas em busca da maior interação entre os profissionais e a prática de feedbacks por projetos são maneiras de implantar a gestão horizontal. Assim, todos ficam mais confiantes em assumir responsabilidades e desafios de cada projeto, sabem priorizar atividades tornando-se mais produtivos e eficazes nas tomadas de decisões.

Mas é muito importante destacar que ter uma máquina de café, internet wi-fi, mesa de ping pong e salas com pufs coloridos na agência não garantem maior liberdade e autonomia para as equipes e consequentemente uma gestão horizontalizada. Estar preparado para o diálogo aberto e que dá margem para divergências, oferecer feedbacks construtivos e formação constante para o refresh das lideranças para lidar com esse novo mercado são pontos essenciais para que a metodologia de gestão funcione com poder criativo e eficiência produtiva.

A transformação começou a tomar forma. Nos mais diversos segmentos, encontramos benckmarks sensacionais de gestão horizontal e profissionais engajados com os valores de suas organizações. Por que as agências de live marketing brasileiras resistem tanto em adotar modelos novos? Toda inovação prevê riscos. Chega mais longe quem está disposto a assumi-los.

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