Sem cair no clichê

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Opinião

Sem cair no clichê

Apostar em clichês que favorecem apenas a feminilidade já não é a melhor solução


16 de junho de 2017 - 10h00

Em tempos de explosão dos movimentos sociais, levantar uma bandeira pró-alguma-coisa se tornou uma grande estratégia de marketing. Entre as lutas mais conhecidas, a das mulheres é o alvo de diversas reestruturações de campanha. Certo, disso todo mundo que está antenado já percebeu. Agora colocar na prática, bom, são outros quinhentos.

Saber que o estereótipo de gênero está cada dia mais no passado do meio publicitário é algo que devemos correr atrás – e ainda falta um loooooongo caminho. Apostar em clichês que favorecem apenas a feminilidade, já não é a melhor solução para quem quer aumentar as vendas para esse público. A ideia aqui é de fato montar uma estratégia de venda para mulher de maneira coerente e sensata. Repensar no produto, no que falta para ser consumido por elas, conectar com esse público. Se o seu salgadinho vende muito mais para homens, será que é melhor apenas colocar ele em uma embalagem rosa e bradar o tal o empoderamento feminino ou entender que as mulheres, por exemplo, não consomem o produto por ter muito sódio, e então lançar uma nova versão mais saudável e simplesmente fazer uma comunicação que traga essa novidade em destaque?

E para você se inspirar, olha só alguns cases que pensaram de maneira real no público, conseguiram fugir de clichês e funcionaram muito bem:

1) Centauro: A Reunião

A Centauro conseguiu encaixar perfeitamente a relação de mulheres ocupadas x esporte. Não teve foco no shortinho nem no top justinho, mas, sim, na importância de praticar atividades físicas mesmo com uma agenda cheia. Identificação e representação, um prato cheio para melhorar a comunicação de qualquer um.

 

2) Veja Gold e o homem na limpeza

Não tem nada que a mulher deseja mais do que um homem participando na limpeza da casa. Nesse comercial, feito originalmente para a marca Cillit Bang (que é a Veja do Reino Unido), um homem limpa uma garagem imunda em alguns segundos ao som de Maniac. Se esse comercial vendeu mais pra homem eu não sei, mas que fez um sucesso estrondoso entre as mulheres, fez! Olha só os comentários da campanha no facebook da marca.  Nada como entender o que o seu público realmente quer.

 

3) Budweiser: Ronda Rousey

Outro case que chamou a atenção é o da Ronda Rousey para a Budweiser. Ronda é uma lutadora e no vídeo mostra como sua força e determinação a levam ao sucesso – com frases que qualquer um(a) se identifica. O que vemos aí é que se o comercial fosse sobre um lutador, toda a estrutura e texto poderia ser exatamente a mesma, ele não usa de frases como “mulher pode tudo”, e é aí que muita marca erra (e cansa), não precisa falar que mulher pode tudo, apenas mostre uma mulher conquistando tudo que nós já entendemos.

 

4) Kenzo World

As propagandas de perfume feminino costumam ser muito parecidas, sempre recorrendo aos clichês sexys, mulheres conquistando homens e/ou cheios de feminilidade. Mas uma marca francesa decidiu inovar recentemente. Dirigida e coreografada por grandes nomes – Spike Jonze, do filme “Ela” e Ryan Huffington, da dança do clipe de “Chandelier”, da Sia – vale a pena assistir não só pela sua beleza visual, mas também pela força e confiança que a bailarina transmite. Ela faz o que quiser, por mais que pareça louco e sem sentido. Aqui, a ideia de fugir do lugar comum é aplicada com maestria.

 

5) Nike: Impossible Stairs

Esse é o meu queridinho da lista, confesso. Deu um quentinho no coração ver uma mulher negra como foco do comercial, já que, segundo o estudo da agência de propaganda Heads, em parceria com a ONU Mulheres, em 2016 apenas 24% dos comerciais com protagonistas crianças ou casais eram negros ou pardos. De resto temos uma escada enorme, que como o próprio título diz, é impossível. Mas ela consegue. Em certo momento é inclusive admirada por um homem – também negro -, mas não pelo corpo, e sim pelo seu tênis. Nós, mulheres, podemos chegar ao topo da escada. O caminho é longo, mas a gente não para, nunca!

 

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