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Opinião

Os muros da mídia

Quem vive de conteúdo jornalístico precisa de marcas que sejam não só respeitadas, mas também desejadas


24 de julho de 2017 - 11h36

A News Media Alliance (NMA), entidade que representa os jornais impressos e online nos Estados Unidos, encaminhou ao Congresso norte-americano, este mês, pedido para que se abra uma exceção às leis antitruste do país. O objetivo é conseguir um aval federal para que a associação negocie coletivamente com Google e Facebook questões relativas a alguns temas caros ao setor, como a proteção à propriedade intelectual, o suporte a modelos de inscrição e o compartilhamento da receita publicitária das plataformas.

Os gigantes da internet afirmam estar abertos às conversas e colocam na mesa ferramentas e serviços para que os jornais ampliem as fontes de faturamento dentro de suas propriedades digitais. O Google informa um repasse de US$ 16 bilhões, ao todo, a publishers que utilizaram suas mecânicas de monetização em 2016. Já o Facebook estaria desenvolvendo um modelo de paywall para os veículos adeptos de seu formato Instant Articles, que seria co- locado à disposição do mercado no último trimestre do ano.

Foto: Reprodução

O pleito para a negociação com as plataformas é uma das frentes abertas pela mídia tradicional na busca por receitas que tornem a produção de notícias outra vez um negócio sustentável e lucrativo para acionistas e investidores. O setor já percebeu que esse caminho somente será possível se colocar seu propósito original no centro de suas ações. O advento das fake news tem diversos efeitos diretos e colaterais nocivos à sociedade, mas é fato que ajudou a lembrar o público e à própria imprensa para que existem os jornais e as revistas: democratizar o acesso à informação, revelando movimentações que do contrário ficariam restritas aos bastidores, com uma checagem imparcial e precisa dos fatos e diversidade de opinião na análise das consequências.

“As pessoas vão voltar às marcas confiáveis. Tudo o que está acontecendo no mundo ajuda gente como nós, ajuda o The Wall Street Journal, ajuda o Financial Times, a Time Magazine, todas essas marcas de mídia confiáveis com as quais as pessoas contam para acessar notícias, informações e insights importantes”, afirmou o presidente do The Economist Group, Paul Rossi, à repórter Roseani Rocha.

Em poucas palavras: é preciso ser uma fonte confiável de informação, um serviço fundamental e valoroso, que não pode ser oferecido de graça — algo que pode soar óbvio hoje em dia, mas ignorado por mui- tos anos pelo mercado, salvo raras exceções, como o The Wall Street Journal, que há duas décadas já cobrava pelo acesso ao seu conteúdo. No Brasil, a Folha de S.Paulo completou cinco anos de seu modelo de paywall. Destacando uma trajetória ascendente da audiência dentro da nova dinâmica, o diretor executivo de circulação e marketing do jornal, Murilo Bussab, diz que é um marco que mudou a forma de pensar a indústria, como declarou ao editor-assistente Sérgio Damasceno. Mas o próprio Bussab alerta: “Só ó paywall não é suficiente”.

A fórmula para aumentar o fluxo para o caixa das empresas jornalísticas passa por assumir que a imprensa precisa de marcas que sejam respeitadas, sim, mas também desejadas. É preciso ampliar os pontos de relacionamento com os leitores, em uma lógica muito mais B2C do que sugere o modelo puramente baseado em vendas de anúncios. O Financial Times promoveu em Londres eventos para discussão de temas atuais, nos quais seus assinantes tinham acesso direto aos jornalistas, com uma cobrança de ingressos entre US$ 20 e U$S 40. O The New York Times, que durante as eleições nos EUA no ano passado pro- moveu encontros similares aos do Financial Times, aposta em sua porção lifestyle ao manter uma loja online na qual comercializa camisetas, bonés e até guarda-chuvas com o logo do jornal.

São iniciativas que certamente não geram os milhões necessários para sustentar suas estruturas. Mas servem como símbolo dos novos tempos, em que é fundamental aumentar o engajamento e a exposição junto ao público e abrir outras linhas de receitas. Tempos nos quais marcas fortes seguem reconhecidas pelo público, mas em

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