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Opinião

Branding da simplexidade

A simplicidade e a complexidade de dar valor ao que realmente tem valor


29 de agosto de 2017 - 15h28

Há um bom tempo ando intrigado com essa expressão. Sabe quando você se depara com uma coisa que te pega de um jeito e te faz incansavelmente pesquisar sobre o assunto? Corre para buscar referências, teorias, pensamentos mas, na verdade, o lugar que mais revira é dentro de você mesmo, sem perceber que está sendo revirado. Foi essa sensação que tive ao me deparar com a tal simplexidade. Não é um termo relativamente novo, mas tem caído como uma luva cada vez mais no dia a dia.

Como unir dois conceitos tão distintos e diametralmente opostos: simplicidade e complexidade? A confusão mental é instantânea, mas na verdade faz todo sentido. Simplicidade é uma das mais leves virtudes do ser humano. Ser o que se é, sem rodeios, sem duplicidades, sem pretensões. A pedra é a pedra. O mar é o mar. O vento é o vento. Tem coisa mais simples que o vento da praia no rosto no por do sol? É isso. Simples, sem exageros, sem frases prontas. Basicamente, simplicidade é o estado ou a qualidade de ser simples. Da Vinci muito sabiamente dizia que “a simplicidade é o último grau de sofisticação”. E sofisticação não só no sentido de requinte ou bom gosto, mas principalmente como um alto nível de aperfeiçoamento e complexidade.

A complexidade, como o próprio nome diz, sempre sugere algo difícil, com múltiplas variáveis que interagem entre si de diversas formas. Ou seja, a complexidade é uma ideia complexa em si mesma.

Nosso mundo nunca foi tão complexo, as pessoas estão cada vez mais ocupadas e o tempo, sinônimo de luxo. As relações humanas persistem como um grande desafio em todos os níveis. Não é à toa que uma interação como um simples gesto de um abraço ou a emoção da troca de olhares dura muito mais que uma eternidade. Parece que abre uma fenda no tempo e ficamos ali flutuando e dizendo para nós mesmos “vai, continua assim, por favor”.

Rapidamente essa sensação some. Mais um assunto e uma urgência e entramos numa espiral de pensamentos e informações de forma automática.

A simplexidade acontece justamente no meio desse caos. O caos de lidar diariamente com camadas e camadas de conteúdo, feeds infinitos de interações e pontos de vistas dos mais divergentes. Mas, ao mesmo tempo, a sensação de prazer, orgulho e dever cumprido de desatar esses nós no meio do circo pegando fogo.

Mas, apesar do caos, a simplexidade acontece também justamente no meio do silêncio. Não tem coisa mais barulhenta do que o silêncio. Essa ideia é meio paradoxal mas é a mais pura verdade. Escutar o turbilhão e a palpitação que passa nas nossas cabeças e corações é um ato de muita coragem e nos permitir a fazer isso é um presente não só para nós mesmos mas para quem está ao nosso redor. Conversar com esse silêncio nada mais é do que usar a nossa intuição e ao mesmo tempo a nossa inata habilidade vinda da capacidade de raciocínio, linguagem, introspecção e resolução de problemas.

Podemos dizer que a simplexidade é uma constante dança, da valsa ao tango dando contornos e ritmos à simplicidade e intensidade à complexidade. Goethe falava que “tudo é mais simples do que podemos imaginar e, ao mesmo tempo, mais intrincado do que poderíamos conceber”. É no meio desse jogo de luz e sombra da nossa intuição que reside uma das coisas mais complexas: o poder de síntese. Fazer a sinopse de um filme, contar um livro para alguém em dois minutos, transformar um filme publicitário de 60 para 15 segundos, desenhar uma marca ou os famosos “one-page” de planejamento estratégico.

Sempre tive fascínio por esse tipo de jornada. Ao mesmo tempo que instiga também assusta. Olha a simplexidade aí de novo. Outro dia visitei uma exposição sobre a história, jeito de ser e metodologia da Pixar e ali na parede estava um dos princípios de design que fazem dela ser o que é: “Simplexity — the art of simplifying an image down to its essence. But the complexity that you layer on top of it — in texture, design, or detail is masked by how simple the form is”. Simplificar uma imagem até a sua essência. Isso entendido deixa tudo com mais sentido e, consequentemente, com um peso maior ainda. Inclusive nosso desafio de construir marcas: a simplexidade de capturar a essência das coisas. A simplexidade de dar valor ao que realmente tem valor. A simplexidade de tornar evidente o que está na nossa frente e teimamos a enxergar. A simplexidade de conectar com verdade às pessoas. A simplexidade de olhar e sentir. A simplexidade de falar com a voz do coração.

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