Olhe para o big data, mas não deixe de piscar para o big date

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Opinião

Olhe para o big data, mas não deixe de piscar para o big date

É impossível separar as ferramentas das habilidades. Segurar um pincel não vai fazer de você um Picasso. Assim como não dá para diminuir a importância do pensamento criativo diante da oferta de dados e algoritmos


26 de setembro de 2017 - 16h05

Albert é apaixonado por Allegra Colle. Allegra é uma mulher bem-sucedida, linda e herdeira do escritório onde Albert trabalha. O problema é que Allegra não reconhece a existência dele. Albert, na tentativa de criar com a socialite uma conexão maior que apenas habitarem o mesmo planeta, contrata Hitch; um especialista em ajudar homens a conquistar as mulheres de seus sonhos. Este é o enredo de Hitch – Conselheiro Amoroso, uma comédia romântica água com adoçante de 2005, que trazia Will Smith como o “doutor do amor”. Hitch estuda todos os passos da Allegra e ensina os atalhos para que Albert possa, finalmente, conquistar a mulher da sua vida. Estava tudo ali, pronto para ser usado na conversão: os seus gostos, preferências e hobbies. Albert usou todos os dados disponíveis e foi notado por Allegra. Mas ele só conquistou o coração da moça sendo desengonçado, péssimo dançarino e bonachão, ou seja, sendo Albert.

Hitch me fez lembrar outro especialista em comportamento humano, o David. David Robertson, professor de inovação e desenvolvimento de produto da Wharton University. David foi head de inovação da Lego durante muito tempo. Eu tive a oportunidade de assistir a uma de suas palestras, em um festival de liderança e criatividade, há alguns anos. Um trecho da sua apresentação, em particular, ficou gravado na minha memória: “Instead of fighting your competitors, you need to date your costumer in order to came up with better ideas for innovation.” (“Em vez de lutar contra seus concorrentes, você precisa namorar seu cliente para criar melhores ideias de inovação.”)

A tese dele estressa o paralelo entre as relações comerciais e pessoais. Afinal, quando você está verdadeiramente interessado em alguém, começa a pensar quem é aquela pessoa. E se você começa a gostar dela, passa a imaginar quem ela é, os seus interesses, como pode se envolver em diferentes momentos da vida dela. David conclui afirmando que, quando você transfere esse tipo de relação para o consumidor, passa a pensar além de ele querer consumir ou não a sua marca. Viramos parceiros, capazes de oferecer algo irresistível e proprietário para eles. David Robertson revolucionou a linha de produtos da Lego pensando desse jeito.

A Singularity University é reconhecida por ser um ambiente que une tecnologia e inovação na busca de soluções ou melhorias para os grandes dilemas globais. A definição pode parecer pretensiosa, mas essa combinação fez com que ela se tornasse admi rada e desejada globalmente. O Global Summit recém-promovido pela universidade (já disponível na sua timeline) traz algumas reflexões interessantes sobre o futuro dos negócios, da tecnologia e da humanidade. Retiro deste documento duas conclusões, de uma longa e rica lista, para que elas se juntem ao Hitch e ao David neste artigo:

– As ferramentas do nosso tempo são big data e machine learning.

– Criatividade, empatia e coragem são as habilidades do futuro.

É impossível separar as ferramentas das habilidades. Segurar um pincel não vai fazer de você um Picasso. Assim como não dá para diminuir a importância do pensamento criativo diante da oferta de dados e algoritmos na busca do melhor para os nossos clientes. Hitch foi desmascarado pelas mulheres de seus clientes por mecanizar o criativo e intuitivo processo da conquista.

Por trás dos dados estão pessoas. Nós. Entender profundamente de pessoas, não importando o diagnóstico que a tecnologia nos dá sobre elas, ainda é o maior ativo na criação de relações longas e de muito sucesso: a comunicação afetiva.

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