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Opinião

Faça como o Antonio

Uma coisa é aumentar o número de mulheres trabalhando nas agências; outra muito mais difícil é pôr um fim na tendência histórica de privilegiar os homens em outras áreas do mercado


9 de outubro de 2017 - 13h34

Na minha casa há um homem para cada três mulheres. A maioria das decisões são tomadas pensando nas necessidades delas em primeiro, segundo e terceiro lugares. Na propaganda, nas artes, em tecnologia e no esporte, a situação é oposta.

Atento a este problema, o chief marketing officer da HP, Antonio Lucio, exigiu que todas as suas agências tivessem times com igual representação de homens e mulheres. Quem não se adaptasse, não teria futuro com a HP. Antonio, que é pai de cinco mulheres, conhece muito bem as dificuldades que elas enfrentam na nossa profissão e usa sua influência como poucos para mudar a indústria da propaganda.

Há poucos dias, quando a demanda de Antonio Lucio completou um ano, a HP comemora a incrível evolução de suas agências. A BBDO, em especial, contratou e promoveu mulheres, atingiu as metas exigidas pelo cliente e, de quebra, foi eleita a Network of the Year no Clio 2017.

Mas, apesar do sucesso deste primeiro ano, Antonio Lucio sabe que ainda tem muito trabalho pela frente. Afinal, uma coisa é aumentar o número de mulheres trabalhando nas agências; outra muito mais difícil é pôr um fim na tendência histórica de privilegiar os homens em outras áreas do mercado.

A propaganda é um bom exemplo. Um estudo realizado pela Geena Davis Institute medindo a participação de mulheres e homens em comerciais concluiu que os homens aparecem duas vezes mais que as mulheres. Foram avaliados mais de dois mil filmes dos países anglo-saxões que ganharam ou foram finalistas no Festival de Cannes entre os anos de 2006 e 2016 em 33 categorias.

Encontramos resultados parecidos quando analisamos a produção cinematográfica de Hollywood. Em outro estudo do mesmo instituto, este em parceria com o Google.org, os engenheiros conseguiram medir com o auxílio da tecnologia de machine learning, quanto do tempo total dos filmes vemos e escutamos personagens femininos. As mulheres aparecem somente em 36% das cenas e o único gênero de filmes onde elas ganham dos homens é o terror. Para os que acham que as estatísticas não podem piorar, vale notar que nos filmes ganhadores de Oscar, elas aparecem ainda menos: 32%.

Mas na categoria “Vergonha Alheia” ninguém bate o Vale do Silício. Mulheres representam mais da metade do mercado de trabalho americano, dos usuários do Facebook e do Twitter. Apesar disso, apenas uma em cada quatro pessoas trabalhando em tecnologia é mulher. Quando o assunto são as startups, as mulheres empreendedoras respondem por um ridículo 5%.

O recente episódio na matriz do Google mostrou como muitos ainda veem o papel das mulheres neste mercado. Segundo o ex-funcionário, demitido pelo seu comportamento sexista, as mulheres não servem para funções em tecnologia por não aguentarem trabalhos muito estressantes.

Mas pelo menos no Vale do Silício há uma luz no fim do túnel. Grandes empresas como  Google, Facebook e Twitter investem e se esforçam para corrigir esta anomalia em sua força de trabalho contratando e promovendo uma nova geração de líderes mulheres.

Finalmente chegamos ao esporte, mas especificamente, a transmissão de eventos de esporte. Apesar de não haver pesquisas de qualidade disponíveis, é fácil inferir por experiência que as mulheres estão ainda menos representadas.

No Brasil, graças à supremacia do futebol, o esporte feminino é praticamente invisível. Nos Estados Unidos as coisas não são muito diferentes apesar de elas serem as maiores medalhistas olímpicas no mundo. As maiores ligas esportivas — futebol americano (NFL), basquete (NBA), beisebol (MLB), futebol (MLS) e hóquei no gelo (NHL) — dominam a TV e são quase que exclusivamente masculinas.

Apesar de muito se falar sobre os desafios enfrentados pelas executivas das grandes empresas, a verdade é que os problemas vão muito além do boardroom. Nós temos uma responsabilidade moral de mudar essa situação na nossa esfera de influência. O Antonio Lucio está fazendo a parte dele, e você?

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