Os medos que pairam sobre nós

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Opinião

Os medos que pairam sobre nós

Em um mundo confuso, as marcas e seus discursos podem ser pilares confiáveis


31 de outubro de 2017 - 11h12

Recentemente, o Yahoo admitiu que três bilhões de usuários de sua plataforma de e-mail tiveram suas contas invadidas em um ataque de hackers. O jogo da Baleia Azul, que viralizou na internet ao induzir jovens ao suicídio, preocupou pais de adolescentes em todo mundo. O chatbot Tay, criado pela Microsoft, saiu Twitter afora propagando ofensas racistas. E não foi à toa que o Dicionário Oxford escolheu como palavra do ano de 2016 o termo “pós- verdade”, após dois fenômenos políticos, o Brexit e a eleição de Trump, terem sido intensamente influenciados por fake news.

A falta de privacidade, o poder dos discursos de ódio, as bolhas de algoritmos, as notícias falsas: são muitas as ameaças que nos cercam. Em meio a todos esses fatores que nos deixam aflitos, não sabemos onde buscar refúgio. Não sabemos mais em que, ou em quem, podemos confiar.

Em 2012, a FCB lançou a pesquisa proprietária Trustparency. Nela, investigamos o papel da confiança nas relações entre as marcas e as pessoas. Descobrimos que confiança é um processo de gestão de riscos que envolve diversos elementos. É inegável que ao depositar nossa confiança em alguém, em algum projeto ou marca sentimos medo. Ainda mais nos dias de hoje. Na segunda onda do Trustparency, em 2015, estudamos a empatia e seu poder para as marcas. Agora, a terceira pesquisa da série, que será apresentada ao mercado em novembro, foca o medo.

O medo contemporâneo é fluido e abstrato. É uma nuvem que paira sobre nossas vidas cada vez mais urbanas e digitais. Se antes tínhamos medos pontuais de sofrermos algum tipo de violência, de animais perigosos, do escuro, hoje o medo infiltra- se nos momentos mais inesperados de nosso cotidiano. Nossas vidas são menos estáveis, as relações são frágeis e as garantias são mínimas. Assim, passamos a vida ansiosos, esperando algo terrível acontecer. E pior, tememos não ter como atenuar essa aflição. Temos medo, mas não sabemos nem ao certo como nomeá-lo.

Contudo, o medo não é uma particularidade dos tempos de hoje, é parte do que nos faz humanos. Assim que tomamos consciência de nossa existência, descobrimos a iminente finitude de nossas vidas. Saber que um dia nossa experiência terrena chegará ao fim é característica essencial da própria condição humana. Porém, isso nos apavora. O medo pode ser paralisante, mas também nos motiva a agir. O medo da morte, o mais primordial dos medos, cria em nós o desejo de deixar nossa marca no mundo, e nos impulsiona à racionalidade, à criatividade, e a tudo aquilo que possa fazer de nossa existência perene.

Para lidar com essa constante em nossas vidas que é o medo elaboramos diversas estratégias: negação, psicanálise, meditação, autoajuda, enfim, os métodos são inúmeros e a cada dia surge uma nova solução que promete nos ajudar a viver e passar por obstáculos sem ansiedades.

Muitas vezes, as pessoas recorrem às marcas para encontrar “portos-seguros” que as ajude a elaborar seus medos. Mais do que isso, as marcas podem ser fonte de certezas. Elas carregam símbolos, desempenham papéis sociais e despertam sensações. Marcas confortam, educam, e são parte da identidade de seus consumidores. Por meio de seus discursos, podem ser pilares confiáveis em um mundo confuso.

Ao depositar nossa confiança em uma marca gerenciamos prós e contras até atingirmos um equilíbrio. Nosso objetivo nessa relação é sempre garantir que nossas necessidades, físicas ou emocionais, sejam supridas. Por isso, em um mundo que carece de alicerces para que as pessoas possam elaborar seus medos, a FCB resolveu investigar como o medo e marcas se relacionam. As descobertas que apresentei aqui são apenas parte de um extenso projeto em que observamos o papel essencial do medo como intermediário das relações contemporâneas, seja do indivíduo com ele mesmo, com o outro, com a sociedade em geral, e com marcas.

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