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Opinião

Em transição

Como enfrentar a concorrência dos millennials, recém-saídos das faculdades e mais bem preparados do que todas as gerações anteriores para trabalhar com tecnologia?


7 de novembro de 2017 - 10h33

Três amigos se encontraram no Bracarense na tarde de uma quarta-feira qualquer. Há poucos meses, quando ainda trabalhavam naquela multinacional, não tinham tempo nem para ver os filhos. Agora, um buscava novos desafios, o outro estava em transição de empregos e o terceiro, desempregado mesmo. Por isso, podiam dar-se ao luxo de um chopinho vespertino.

Todos foram dispensados com direito a um pacotinho honesto que garantia seis meses de sossego. Seis meses a mais que os amigos da sua agência de propaganda, que também fechou as portas graças à crise, mas não pagou nem os salários atrasados.

Como era bom não fazer nada por um tempo e poder aproveitar a vida! Depois de três meses procurando trabalho sem cogitar a possibilidade de ter de se mudar para São Paulo, todos fracassaram e começaram a achar a ponte aérea algo bem viável.

Mais dois meses sem nada muito interessante e eles resolveram anunciar suas próprias casas no Airbnb. Se algum alugasse, iria para a casa dos amigos ou da sogra na Tijuca. Mas com a violência urbana carioca em alta, o turismo estava em baixa, o melhor que haviam conseguido eram umas ofertas para alugar com descontos.

Finalmente resolveram ser criativos. Roberto, ex-gerente de marketing, estava com o plano todo feito: ia vender tudo o que tinha, convencer a esposa a tirar uma licença não remunerada da Petrobras, alugar o apartamento em Ipanema e mudar para Portugal de mala e cuia.

Explicou com detalhes como era barato morar em Cascais, falou que a escola pública aceitava estrangeiros não documentados e que, apesar de não ter muitas economias, se investisse € 500 mil, teria a cidadania portuguesa.

Apesar de não conhecer ninguém em Portugal, nunca ter passado férias por lá, ter três filhos e somente o passaporte brasileiro, estava confiante que aquele era o caminho certo. Por pouco não convenceu seus dois amigos a se mudarem também.

Augusto tinha um plano muito melhor: estava fazendo um curso online para tornar-se coach. Apesar de ter um histórico deplorável como gerente, sempre odiado pelo seu time, achava-se “totalmente qualificado” (com aspas) para esta nova carreira.

Segundo o seu coach, todo mundo está precisando de aconselhamento neste momento de crise. Coach é a profissão da hora! Dizia que trabalharia de casa, teria clientes no mundo todo e ganharia muito mais. Pelas suas contas, com 150 clientes faturaria o dobro de quando trabalhava como empregado.

O curso online, que custava quase R$ 20 mil, consumiria quase tudo o que ele recebera no pacote da demissão. Pediu aos amigos que não comentassem nada com sua esposa… just in case. Por pouco não convenceu seus dois amigos a contratarem seus serviços.

Sérgio, profissional de tecnologia, escolheu um caminho diferente: virar consultor. Depois de trabalhar quase 30 anos nesta área, abriria sua empresa em casa mesmo e começaria a prospectar clientes. Muitas das ferramentas que trabalhara toda sua vida estavam em desuso graças às novidades de cloud computing e inteligência artificial. Mas isso não o desanimava.

A concorrência dos millennials, recém-saídos das faculdades e mais bem preparados do que todas as gerações anteriores para trabalhar com tecnologia tão pouco tirava seu sono. “Acho que posso aprender isso rapidinho nos tutoriais do YouTube”, disse confiante. Por pouco não convenceu seus amigos a investirem em seu negócio.

O papo estava animado, mas antes do segundo chope chegar, os três telefones vibraram ao mesmo tempo sobre a mesa. Eles se entreolharam e, como pistoleiros em um filme western, atenderam o mais rápido possível. Era uma chamada do Uber ali no Leblon. Entreolharam-se em um silêncio constrangedor e decidiram resolver no pedra, papel e tesoura mesmo. Melhor de três. Quem fica paga a conta.

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