A conversa que não queremos ter

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Opinião

A conversa que não queremos ter

Existem inúmeras formas de aproximação com a realidade do dia a dia de grande parte da população, mas nada será tão forte como colocar nas nossas equipes gente talentosa de todos os tipos, raças e classes sociais


8 de novembro de 2017 - 13h31

Se de um lado, temos uma parte da população que tem plano de saúde, escola particular e carro na garagem. Do outro, temos a realidade de mais da metade da população brasileira, cujo o acesso a tudo isso é bem restrito.

Como profissionais de comunicação, temos o privilégio de acordar todo dia de manhã e influenciar nessa decisão: com qual desses lados iremos conectar as marcas com as nossas mensagens? A resposta nos guiará para um trabalho que fará sentido para as marcas e para as pessoas.

Se o objetivo é entregar um conteúdo respeitoso e de qualidade, quanto mais entendermos a realidade das pessoas, melhor será a nossa conexão com elas.

Para isso, é preciso colocar sapatos mais adequados para uma jornada de proximidade e inclusão e, quem sabe assim, encurtar o distanciamento que criamos ao longo do tempo replicando o mesmo modelo nas nossas peças publicitárias, de um único tipo de gente – de uma sociedade homogênea em credos, valores e raça.

No mês passado, participei da palestra “O impacto da propaganda na diversidade e na inclusão”, promovida pelo ECAR – Escritório de Desenvolvimento de Carreiras da USP, com Holly Brittingham e Corey Flournoy, responsáveis pelo tema na FCB Global, e discutimos a campanha The Talk como exemplo de mergulho na cultura de boa parte da nossa população. The Talk, da P&G, vai além do estereótipo, entra na intimidade de uma conversa necessária de mães com seus filhos para que eles saibam lidar com os preconceitos que acontecem da porta para fora.

Essa legitimidade vem do conteúdo que apresentamos, das pessoas que retratamos e também sobre como nos comunicamos com a nossa audiência. Achamos curioso o sucesso que vemos nas novelas, nos vídeos mais assistidos do Youtube ou nos trending topics discutidos na internet. Tudo é duramente criticado por quem deveria entender de comunicação, vários publicitários julgam esses conteúdos pobres ou de qualidade de produção ruim.

Fazia tempo que uma novela não repercutia tanto quanto “A Força do Querer”. Esse sucesso deve ter vindo de um enredo rico de temas atuais e polêmicos. A audiência da última semana da novela estava altíssima e explodiu no capítulo final, chegando a 54 pontos domiciliares em alguns lugares do País. E isso tudo num contexto em que os profissionais de comunicação estavam decretando o fim do formato novela – televisão então, nem pensar.

Eliminar os preconceitos e construir uma nova percepção, mais consciente, reconhecendo o impacto dos nossos julgamentos – inclusive os inconscientes – é o primeiro passo.

Depois, cultivar a diversidade nas nossas equipes.

Existem inúmeras formas de aproximação com a realidade do dia a dia de grande parte da população, mas nada será tão forte como colocar nas nossas equipes gente talentosa de todos os tipos, raças e classes sociais para conseguirmos afastar o monólogo das marcas.

Isso significa estarmos abertos para aprender com a diferença que insistimos em ignorar. Afinal, o Brasil é um pais cheio de preconceitos onde ninguém se diz preconceituoso. Cheio de diferenças onde todo mundo se diz igual ao outro.

Temos que ter essa conversa apesar de não querermos, sem banalizá-la. Ela tem que pautar o nosso trabalho para que a gente deixe de retratar apenas aquilo que está ao nosso redor.

É hora de olhar para fora do conforto do nosso ar condicionado.

É hora de olhar para dentro e questionar se ao nosso redor também estão representados os lados da nossa população que ainda permanecem invisíveis.

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