De que é feito o seu sonho?

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Opinião

De que é feito o seu sonho?

Sobre aquilo que nos move, define escolhas e preferências


28 de novembro de 2017 - 10h53

Créditos: Maria Stiehler

Meu sonho era trabalhar em uma organização internacional.” Ouvi essa frase duas vezes em uma única semana, de duas amigas diferentes e que não se conheciam. Pensei comigo mesma: de duas uma, ou ando muito pouco criativa na escolha dos meus amigos, ou essa coincidência é um sinal de algo a que vale a pena dedicar algumas linhas sobre.

Quando a primeira amiga me disse isso, me lembrei de que eu mesma já tivera um sonho parecido. Queria trabalhar em uma organização internacional para viajar pelo mundo, conhecer pessoas de culturas diferentes, praticar o bem e salvar a humanidade. Não rolou, mas consegui, em outro contexto, satisfazer algumas necessidades que esse sonho trazia. Minhas escolhas me permitiram viajar (não o mundo, mas muito) e conhecer pessoas de culturas diferentes. Não fiz necessariamente o bem, e definitivamente não ajudei a salvar a humanidade. Mesmo assim considero que o satisfiz e ele foi para a gaveta dos “sonhos realizados”.

Minhas duas amigas ainda não realizaram seus sonhos. A primeira casou, teve filho, a vida foi passando e tirou ele da gaveta dos “sonhos ainda não realizados” quando passou a contribuir mensalmente para o Médicos Sem Fronteiras. A segunda casou, teve filho, a vida foi passando e… ainda não “fez as pazes” com ele. Quer dizer, ainda está bem vivo dentro dela. Fala sobre ele com um misto de frustração, vergonha e alguma esperança de que ele ainda se realize.

Esse artigo é sobre sonhos, sobre aquilo que nos move. Qual sonho está vivo dentro de você? Essa é uma pergunta crucial, sobre a qual deveríamos nos debruçar todos os dias. Nossos sonhos nos movem, definem escolhas, caminhos e atitudes. Sua trilha vai impactar diretamente na nossa felicidade. Quanto mais conscientes estivermos sobre eles, sobre o que significam, o que queremos alcançar e quais necessidades estão por trás deles, mais facilmente conseguiremos traçar estratégias e aproveitar as portas e janelas que o universo nos abre. Produtos e serviços podem ser entendidos como meios através dos quais buscamos resolver conflitos internos – como a primeira amiga que passou a contribuir para o Médicos Sem Fronteiras.

A gaveta dos “sonhos não realizados” merece constante atualização. Quais ainda estão por lá e bem vivos?

Sonhos são individuais e intransferíveis. Eles nos definem, diferenciam, nos tornam únicos e especiais. Por isso me pergunto: por que não os gritamos para o mundo? Quando escolhemos nos afastar deles porque fazemos outras escolhas, as quais julgamos mais pertinentes, a má notícia é que eles continuam vivos, timidamente definindo algumas escolhas e caminhos mas, acima de tudo, colorindo nossas vidas com tons de raiva, de tristeza, ou de frustração.

Um dos maiores desafios que encontro enquanto profissional que se propõe a pensar comportamento é, ao mesmo tempo, o que mais me fascina. Como aprofundar o estudo de comportamento e trabalhar com algo tão potente e fundamental, mas ao mesmo tempo tão individual e intransferível? Uma pista está naquilo que o sonho embrulha. Não vamos nos prender a eles, mas olhar através deles e para onde eles apontam. Quais necessidades estão clamando por realização quando desenhamos e colorimos nossos sonhos? Necessidades, ao contrário de sonhos, são universais. Necessidade é aquilo que é importante para uma vida plena. E todos nós temos as mesmas necessidades. Parece estranho pensar que um presidiário, um integrante de uma tribo africana e você têm as mesmas necessidades? Pois é. O que varia é a ordem de importância. Enquanto a liberdade vem no topo da lista para um presidiário, ela pode não ser aquilo que é o mais importante para você agora.

Porque todos nós temos as mesmas necessidades, em menor ou maior grau, é que somos capazes de ter empatia por pessoas que sequer conhecemos e escolher marcas que nos tocam o coração. E algumas marcas sabem bem gritar para o mundo quais valores encarnam e representam.

A gaveta dos “sonhos não realizados” merece constante atualização. Quais ainda estão por lá e bem vivos? E, principalmente, quais necessidades querem ser satisfeitas para o desenvolvimento pleno do ser? De posse dessas informações mergulhamos um pouco mais fundo no complexo e rico mundo que é o estudo do comportamento humano e sua relação com marcas, produtos e serviços.

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