O mantra da Geração Y

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Opinião

O mantra da Geração Y

Todo publicitário se pergunta em algum momento da carreira se não falta um sentido maior naquilo que produz


28 de novembro de 2017 - 12h00

Durante muito tempo, deitei cedo. Às vezes, mal apagava a vela, meus olhos se fechavam tão depressa que não tinha tempo de me dizer: “Vou dormir.” E, uma meia hora depois, a ideia de que já era tempo de conciliar o sono me despertava.

Relendo a obra de Proust, foi inevitável fazer um paralelo entre o início de “Em busca do tempo perdido” e a vida dos criativos brasileiros, que passaram a encarar como normal chegar em casa às quatro da manhã, desmaiar e ainda acordar preocupado com prazos que só fazem sentido na cabeça de quem esqueceu qual é, de fato, a essência do nosso ofício.

Todo publicitário, acho, se pergunta em algum momento da carreira se não falta um sentido maior naquilo que produz

Esse cenário assustador produziu, entre outras coisas geniais, um mantra da geração Y: o clássico “foi para isso que me formei?”, que deve estar sendo executado agora nos corredores da agência mais próxima de você. É natural. Todo publicitário, acho, se pergunta em algum momento da carreira se não falta um sentido maior naquilo que produz.

Pausa. Acho que aqui cabe um flashback. Na faculdade que frequentei, alguns dias o quórum era maior no Bar da Foca do que na sala de aula. Cheguei a encontrar professores no local com um copo americano na mão. Não por acaso, minha turma tinha como lema: “mais social do que comunicação”. E, obviamente, esse “social” estava focando os bares da Rua Farani, em Botafogo. Corta para os dias atuais. De maneira mais denotativa, o lema acabou permeando a minha vida e me dando firmeza para responder: sim, falta um sentido maior no que estamos criando e não nos formamos para fazer isso dessa forma.

Não sei dizer ao certo em que momento nos desligamos do significado de nossas formações. O fato é que o mercado, convenientemente, faz questão de esquecer que publicidade e propaganda são disciplinas de comunicação social e que, por isso, é fundamental pensar no impacto social de nossas mensagens.

Se queremos criar e assistir propagandas sem machismo, racismo e outros assuntos que afligem nossa sociedade, não existe opção. É chato fazer o papel do chato, mas devemos lembrar cotidianamente outros profissionais de que a palavra “social” não está presente por acaso no nome de nossas graduações. Do contrário, Proust chora e é tempo perdido.

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