2017, um ano de inflexão

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Opinião

2017, um ano de inflexão

A ampla exposição de problemas crônicos — corrupção, assédio, desigualdade — nos permite entrar no próximo ano com mais consciência para fazer as escolhas certas


19 de dezembro de 2017 - 14h54

Desejo que 2018 seja melhor que 2017. Não que 2017 tenha sido ruim em si, mas foi um ano estranho. Para começar, é um ano primo. O próximo só 2027.

Foi também um ano sem Copa ou Olimpíada — não que as últimas experiências desses eventos no Brasil tenham sido incríveis. Os eventos foram um sucesso, mas as suas consequências — no caso da Copa já dentro de campo — continuam trazendo surpresas ruins ao Brasil e aos brasileiros.

Este foi o ano em que as redes sociais passaram do protagonismo da vida pessoal para o da vida pública. É verdade que o grande evento foi a eleição de Trump, ainda em 2016. Mas toda a história por trás disso foi descoberta em 2017. Olha a cobra! É mentira… Este foi o ano do fake news também. Na verdade, essa é uma “fake news”, porque o ano do fake news foi mesmo 2016. Mas este foi o ano de se debater como acabar (ou limitar) as notícias falsas. Obviamente, esse é um assunto ligado aos novos donos do poder da comunicação — Google e Facebook. Empresas que assumiram o protagonismo global (com exceção da China) em todas as formas de comunicação. Ainda precisam, porém, arcar com a responsabilidade que vem com o grande poder.

Foi o ano da descrença total e absoluta em relação à política e aos políticos no Brasil — embora tenha sido o ano da virada na economia. Algo dificilmente previsto e ainda não totalmente entendido.

No mercado de comunicação, o ano também foi fora da curva, porém de uma forma negativa. O intocável Festival de Cannes quase ruiu. Foi obrigado a diminuir e se reinventar para sobreviver.

O poderio das grandes holdings está sendo testado — as suas ações sofreram quedas recordes este ano. As aquisições continuaram, mas em um ritmo diferente. A empresa que mais comprou agências não foi a WPP, o Omnicom ou a Publicis, mas a Accenture.

Muitos dos grandes anunciantes também estão sendo desafiados — por start-ups, investidores ativistas e consumidores conscientes. Se tamanho já foi documento, hoje agilidade e inovação são as moedas que mais têm valor.

Falando em moedas: nem o dólar, nem o euro e muito menos o real. O grande destaque foi o bitcoin. Muitos economistas e poderosos chefões de grandes bancos bradam contra a moeda, mas a sua valorização já chega a quase 1.000%.

Para coroar um ano que não estava indo tão bem, o último trimestre trouxe revelações perturbadoras de assédios em diversas áreas. Primeiro foi Hollywood, que resolveu desmascarar seus ídolos e patrões — Kevin Spacey e Harvey Weinstein foram execrados e demitidos, este último de sua própria empresa. Depois, tivemos a política norte-americana e, no nosso mercado, a pesquisa divulgada na Conferência do Grupo de Planejamento, que expôs uma realidade dramática e inaceitável na publicidade brasileira.

Apesar de tudo isso, estou otimista para 2018. É verdade que saímos de 2017 carregados, com muitos problemas em diversas frentes. De outra perspectiva, a ampla exposição de problemas crônicos — corrupção, assédio, desigualdade — nos permite entrar no próximo ano com mais consciência para fazer as escolhas certas. Afinal, o começo da solução de um problema é a sua identificação.

Se a quantidade de notícias ruins foi grande, também tivemos eventos muito interessantes, os quais possibilitam grandes saltos de qualidade em diferentes direções. A inteligência artificial deixou de ser apenas uma ideia do futuro e já está entre nós. O número de pessoas conectadas nunca foi tão grande, permitindo maior acesso à informação e educação.

No Brasil, as pessoas estão mais politizadas — mesmo que ainda de forma extremada, de um lado ou de outro. Mas isso promove o debate e aumenta a cobrança a nossos representantes.

E o nosso mercado de comunicação começou a enxergar mais claramente os seus problemas — seja de transparência, de qualidade do trabalho ou das relações comerciais. A tendência é a de que novos líderes surjam com novas mentalidades.

Espero que, olhando para trás, daqui a alguns anos, possamos pensar em 2017 como um ano de inflexão. Menor em relevância, certamente, do que 1776, 1789, 1848 e 1945, mas, ainda assim, como um marco marcante para o começo de uma nova era de prosperidade com mais respeito individual e melhores relações entre as pessoas e as nações. Esse é o meu desejo.

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