Lugar de fala e fim do machismo: o que as publicitárias pedem neste 8/3?

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Opinião

Lugar de fala e fim do machismo: o que as publicitárias pedem neste 8/3?

"Parece óbvio, mas vimos como o mercado publicitário ainda está bem atrasado nisso"


8 de março de 2018 - 14h22

Lia Catassini: “Espero não encontrar decepções e micos sendo compartilhados por aí. Acredito que esse ano veremos menos presentinhos isolados, como flores, bombons e recadinhos, porque só isso não basta, e veremos mais iniciativas de conscientização e discussão a respeito da posição da mulher na empresa.” (Créditos: DelmaineDonson/iStock)

O Dia Internacional da Mulher é uma data de extrema importância para nós do Superela. Por lá, focamos no público feminino durante o ano todo, mas todo dia 8/3 é a mesma coisa: ficamos super apreensivas com o que será feito pelas marcas. Ano passado escrevi sobre O que valeu e não valeu no Dia da Mulher, mas neste ano decidi fazer o caminho inverso e perguntar para algumas publicitárias o que elas esperam para a data. O que estão cansadas de ver, quais são as apostas para o ano, qual clichê deveríamos deixar no passado e quais são as percepções de cada uma para o mercado – você encontra tudo isso nos depoimentos abaixo:

“Nesse ano, espero que o dia das mulheres seja reconhecido como um dia de luta, não de festa. Parece óbvio, mas ano passado vimos como o mercado publicitário ainda está bem atrasado nisso. Então, para 2018 eu espero ver menos presentinhos e mais lugar de fala, menos abraços e mais reconhecimentos, menos parabéns e mais propostas de igualdade salarial, de plano de carreira e de respeito ao nosso trampo, à nossa voz e à nossa história.“

Gabriela Rodrigues – Planner na Ogilvy e autora do Guia de linguagem não sexista na publicidade

“Eu tive a sorte de ter crescido em uma família bastante feminista, rodeada por mulheres fortes e independentes. Nas agências por onde passei eu tive um pouco da mesma sorte. Tive chefes mulheres que me inspiraram assim como assistentes e estagiárias igualmente fortes e inspiradoras. Mas isso não me impediu de passar por diversas situações em que eu pensava “se eu fosse homem, será que seria assim?”. Eu fico feliz de ver que o discurso sobre igualdade aumentou muito desde que eu comecei na vida de agência, mas na prática eu acho que o caminho ainda é longo. Ainda estamos longe enquanto existe assédio, desigualdade salarial, enquanto ainda faltam mulheres em cargos de liderança. E estamos longe com o trabalho que colocamos nas ruas. Propaganda também é parte da cultura, e, em pleno 2018, ainda reproduzimos velhos clichês machistas. O dia das mulheres é sobre uma busca de décadas por igualdade, e ainda estamos buscando. Não queremos flores, queremos voz e espaço.”

Lia Catassini – Ex-gerente na Sapient AG2, atualmente trabalhando em Milão

“Estou bastante esperançosa para o Dia Internacional da Mulher esse ano e ansiosa pelo que as empresas vão fazer. Espero não encontrar decepções e micos sendo compartilhados por aí. Acredito que esse ano veremos menos presentinhos isolados, como flores, bombons e recadinhos, porque só isso não basta, e veremos mais iniciativas de conscientização e discussão a respeito da posição da mulher na empresa. Além disso, o mercado tá sentindo que não dá pra parar no discurso, então espero ver mais compromissos traçados, iniciativas práticas de mudança e mais ação. Precisamos rever práticas de contratação, promoção e desenvolvimento, entender quais são as áreas mais críticas e definir prioridades para mudança. Queremos discutir salários, oportunidades, tratamento respeitoso e espaço iguais, e o dia 08/03 pode ser uma boa oportunidade para colocar a questão em destaque, ouvir as mulheres da empresa e traçar um plano que vá além do dia 08. As agências trabalham com solução de problemas e criatividade todos os dias, por que não olhar pra dentro e aproveitar a data para resolver os problemas que afetam as mulheres na empresa?”

Nathalia Andrijic – Estrategista na R/GA

“Uma das coisas mais bizarras que já ouvi foi quando meu ex chefe falou para um cliente que estava nos visitando: “Esta é a Manuela, ela é ótima e pode te ajudar com qualquer problema enquanto estiver aqui.” O senhor me olhou de cima a baixo com um ar de desprezo e respondeu: “Ela? E desse tamanho vai conseguir resolver o que?”. Na hora fiquei muito irritada e até um pouco triste. Mas depois cheguei a conclusão que a única pessoa “pequena” ali era ele que nem me conhecia, foi extremamente indelicado e machista.

Que o Dia da Mulher sirva para refletirmos a importância do respeito e gentileza não só em um dia do ano, mas sempre, em todos os lugares, com todos a nossa volta. A forma como tratamos as pessoas diz muito sobre nós.”

Manuela Cintra – Coordenadora de Mídia na Agência David

“Quando eu era pequena, amava o dia das mulheres porque a casa ficava cheia de flores, entregues pelo meu pai, ou por alguma ação nas ruas ou mesmo em estabelecimentos. Entendia como um dia especial, para mostrar como a mulher é importante. Depois fiquei com raiva desse dia, porque não conseguia entender que só éramos valorizadas durante 1 dia do ano, comecei a rejeitar os “parabéns pelo seu dia” e as flores de amigos e amores. Hoje sei que o dia das mulheres é um lembrete, para nunca esquecer que sim, a atitude de mudança é diária!

O cenário está mudando, mas ainda temos uma grande maioria masculina no comando das decisões e a mensagem das marcas ainda acaba ainda sendo: “obrigada mulher, vocês são muito importantes para nós (homens)”. Se tivéssemos mais ocupações femininas nas altas, cadeiras acredito que a mensagem principal poderia ser: “vamos continuar juntas, neste avanço pelo nosso sucesso e valorização, obrigada mulher por seguir com a gente”.

Hoje eu amo o dia 08/03, um dia para dar significado na luta pelos direitos das mulheres e relembrar tudo o que nossas mulheres já fizeram, que ainda fazem e que farão pelas nossas conquistas, respeito, valorização, salários. A real força feminina. Nós não precisamos ser perfeitas, nós só precisamos ouvidas e finalmente livres.”

Tatiana Dejavite – Supervisora de Mídia – J. Walter Thompson

“Eu acho o tema do Dia da Mulher super pertinente, ainda mais pelo contexto histórico e social que estamos vivenciando. Hoje em dia existem muito mais campanhas para representar o direito das mulheres, campanhas que mostram que não somos só fragilidade. A mulher precisa ter voz, e seus direitos devem ser ouvidos. Assim, e eu acredito que cada vez mais o mercado vai se atentar, e que as empresas vão se posicionar nesse sentido. Hoje em dia o público é muito mais crítico quanto a tudo – não aceitam mais algo que tenha duplo sentido ou conotação negativa. E o lado ótimo disso é que é um desafio para o mercado apresentar uma proposta diferente, e reconhecendo esse empoderamento da mulher. “

Ana Campos – Agência Popcorn Comunicação

“Dia 8 de março é sempre um dia de reflexão para mim, já que é nele que aquelas marcas que nos oprimem durante o ano inteiro resolvem nos “parabenizar”. Para piorar, muitas delas acham que estão fazendo uma homenagem dizendo coisas como “hoje é dia de quem usa um sapato que machuca, mas é lindo”. Sério? Mulheres morrem por abortos ilegais, são estupradas e mortas todos os dias, ganham menos que os homens e eles realmente acham que estão nos homenageando falando de sapatos?

Eu realmente espero que um dia não sejamos lembradas 1 vez ao ano, mas respeitadas o ano inteiro e que reconheçam e entendam a importância do empoderamento feminino contínuo e o poder e influência da publicidade nisso. Algumas marcas já estão seguindo esse movimento e dando voz para que as mulheres expressem nossa igualdade de gênero. Esse ano, gostaria de ver homenagem a mulheres reais e “desconhecidas”. Em todo canto existem mulheres maravilhosas, inteligentes, que promovem transformação e evolução por onde passam. Eu quero ouvir sobre elas e me inspirar nelas. Como resultado disso, espero nunca mais ver propagandas dizendo que o assunto que dominamos são bolsas.”

Evelyn Gardino – Campanhas e Parcerias – Mkt Associate Cabify

“Para o Dia da Mulher, muitas empresas, ainda com pensamento no passado, entregarão flores, chocolates ou alguma mensagem relacionada a beleza e delicadeza da mulher. Também acredito que a falta de representatividade da mulher negra acontecerá de novo, visto que na maioria das ações temos mulheres sempre brancas. Mas vejo também uma esperança em empresas que aprenderam com os erros cometidos em campanhas anteriores, assim como foi a Skol, com a campanha “Deixe o não em casa”, que depois da reação do público reformulou toda a imagem e posicionamento da marca, e é uma das poucas que eu espero ver algo que valorize nós como mulheres e não como argumento de venda.”

Ângela Fontenelle – Media Planner na Ogilvy Brasil

 

“Nós mulheres não aceitamos mais a ligação direta e óbvia entre o Dia das Mulheres e o consumo. Promoções, compre um leve dois, pacotes com condições especiais em clínicas de estética, kit de maquiagem como brinde… o Dia da Mulher é hoje muito mais do que colocar uma roupa bonita e receber uma rosa. Vai muito além da aparência e as marcas precisam entrar nessa conversa de forma mais autêntica. É o momento, inclusive, das empresas provarem o discurso que tantas adotaram a favor da igualdade de gênero e empoderamento feminino. Por que não aproveitar o 8 de Março para comunicar as ações efetivas que a sua marca faz a favor desse discurso? É hora de expor esse caminho e assumir que ainda existe muito a ser feito.”

Bruna Antunes da Costa – Consultora de Comunicação na In Press Porter Novelli

Empoderamento, diversidade e respeito. Não só no dia oito, nem só no mês de março, mas no ano todo. Nós, mulheres, estamos cada vez mais fortes, e não vamos parar. Um feliz Dia Internacional da Mulher para todas, e que esse dia seja lembrado pela nossa luta diária para conseguir mais espaços e mais respeito!

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