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Neste 2058, se mantêm vivas as empresas e marcas comprometidas com a Vida. Bastante óbvio, não?


20 de abril de 2018 - 7h15

Crédito: DrAfter123/iStock

Abril de 2058. De algum ponto dos Cosmos — talvez daqui mesmo, deste nosso pequeno Planeta — observo o fio luminoso que conduziu as comunicações na Terra para o estágio atual.

Aquilo que chamávamos de canais de comunicação mudou tanto que mal me lembro de como eram no longínquo 2018. À medida que evoluiu a capacidade humana de utilização do próprio cérebro, desapareceram todos aqueles mecanismos e aparelhos pelos quais milhões de pessoas matavam e morriam nas primeiras décadas do século. E com a evolução da consciência houve um verdadeiro shift naquilo que entendíamos como necessidades. Crianças e jovens de hoje visitam virtualmente museus para conhecer milhões de produtos e traquitanas que foram para o esquecimento. Três das macrotendências se realizaram:

1 – “Traga-me a magia de volta”

Floresceu um senso de identidade e significado do viver desvinculado do apego à matéria. Depois daquela enorme e trágica onda de suicídios de jovens, que teve seu pico na terceira década deste século, ganhou vida esse nosso novo jeito de viver, simplificado, muito mais leve e feliz. Mas não foi um caminho fácil.

A sequência foi a seguinte: a sociedade de consumo, da forma como estava instituída, havia retirado do dia a dia o real encanto de viver, levando bilhões de pessoas a acreditar que “eu sou o que eu tenho”. As consequências dessa loucura foram as piores possíveis: assassinatos aconteciam a céu aberto por qualquer objeto, até mesmo por uns pequenos aparelhos que na época eram chamados de celulares; a ansiedade galopante tomou conta das mentes, conduzindo a depressão ao topo do ranking das doenças que mais cresciam; estranhas fórmulas químicas disfarçadas de alimentos provocavam verdadeiras epidemias de câncer e outros males; no mundo corporativo, a competitividade tinha assumido um nível tão corrosivo que os jovens mais brilhantes já não queriam participar daquele universo, que tinha levado seus pais ao completo esgotamento.

Nos primeiros passos da geração pósconsumo, nos anos que se seguiram a 2018, legiões de jovens passaram a exigir de empresas, marcas e governos transparência radical e engajamento a causas transformadoras do cenário socioambiental

Esse esgotamento das mentes se expressava também por meio do esgotamento dos recursos naturais. Eventos climáticos se aceleraram, revelando no mundo exterior as dores agudas do interior humano. Enfim, a situação havia chegado a tal ponto que, durante os anos 20 deste século, a chamada geração pós-consumo tornou-se uma força, polarizando-se, naquele momento, dois modelos mentais: os conscientes e os dormentes. Os dormentes se anestesiavam com drogas e frivolidades, enquanto os conscientes formaram o pilar desta nova História que hoje vivemos, em que a realidade espiritual do “Eu Sou”, presente em eras quase imemoriais, veio substituindo em larga escala a ficção materialista do “eu tenho”.

Nos primeiros passos da geração pós-consumo, nos anos que se seguiram a 2018, legiões de jovens passaram a exigir de empresas, marcas e governos transparência radical e engajamento a causas transformadoras do cenário socioambiental. Foi assim que a magia do viver foi retornando, felizmente, às nossas vidas.

2 – A imaterialidade 

Naquele 2018, 40 anos atrás, era comum palestrantes elencarem, em seus discursos, uma série de fatos mostrando que a imaterialidade, já naquela época, estava tomando conta das escolhas humanas. A lista era extensa e alguns exemplos eram monotonamente repetidos: a maior rede hoteleira do mundo não tinha nenhum quarto de hotel (já existia um ambiente virtual em que as pessoas alugavam, pelo tempo que quisessem, espaços em imóveis de outras pessoas); os jovens já não sonhavam ter carros, queriam apenas mobilidade; moradias com espaços reduzidos e serviços coletivos se multiplicavam; idem para ambientes de trabalho etc. etc.

A lista era longa, considerando que estávamos naqueles tempos precários, mas mínima comparada ao salto quântico dos hábitos e costumes que trouxeram a imaterialidade para o centro do viver nestas duas últimas décadas, mais fortemente a partir de 2030. No início deste século, consumíamos sem perguntar claramente por quê. Agora, consumimos apenas o que faz sentido, então não há de se estranhar o espaço imenso que ocupam em nossas vidas as empresas de serviços úteis e inteligentes. (Importante lembrar que o significado das palavras “útil” e “inteligente” mudou muito nas últimas décadas.)

3 – Sustentabilidade, o senso de unidade com o Todo 

Na primeira década deste nosso século 21, despontou um conceito que vinha timidamente tentando se expressar desde as últimas três décadas do século anterior. O conceito — Sustentabilidade — basicamente preconizava a urgência de construir um mundo sustentável para o Planeta e todas as suas espécies, incluindo a espécie humana, que naquele momento se via separada e não se percebia como parte intrínseca da natureza. O tema da Sustentabilidade ganhou expressão nos circuitos das mentes despertas daquele início de século. Criou-se uma espécie de passo a passo para a realização de atividades sustentáveis no universo corporativo, incluindo o chamado triple bottom line, uma mensuração do lucro empresarial que contemplava igualmente três tipos de resultado: o financeiro, o social e o ambiental.

No mundo corporativo, o tema foi tratado, na maior parte dos casos, de maneira superficial ou até mesmo inexistente. Empurrado para o RH ou nas mãos de alguém que atuava à parte da operação, sem qualquer influência junto aos acionistas ou tomadores de decisão, que muitas vezes o consideravam um modismo passageiro, coisa dos então pejorativamente chamados “verdinhos”: jornalistas, consultores e estrategistas preocupados com um cenário em deterioração.

Pressionadas pelo crescente poder de grupos conscientes e de sua atuação nas redes sociais, corporações construíam discursos dissimulados e “sustentáveis” enquanto mantinham uma realidade destrutiva. Desesperados, os então disseminadores da urgência da Sustentabilidade buscaram os mais inusitados mecanismos para convencer corporações a adotar princípios e práticas sustentáveis. Um desses mecanismos, de pouco sucesso, foi a adoção do único vocabulário que grande parte das corporações entendiam naquela época: o do lucro financeiro.

Criaram-se então listas de práticas sustentáveis que, quando aplicadas, aumentavam o lucro, interesse único do universo corporativo no macrossistema de então; um modelo que pressionava as próprias corporações a focar no resultado financeiro qualquer que fosse o caminho para isso, não importando as consequências. Apesar do descaso e até mesmo do senso de ridículo que perpassava a reputação dos envolvidos com Sustentabilidade, havia sim empresas legitimamente interessadas em assumir a responsabilidade por seus impactos sobre indivíduos, coletividades e o meio ambiente. Empresas que queriam fazer de seus produtos e marcas verdadeiros elos de união entre seres humanos e a Vida do Todo.

Na liderança dessas empresas, destacavam-se grandes talentos, pessoas que declaravam publicamente seu amor ao ser humano, à Terra e a todas as formas de vida, e seu compromisso com a construção de um mundo onde todos pudessem viver mais e melhor. Não por acaso, são essas as poucas empresas daquela época que sobreviveram até hoje. As outras todas morreram, flagradas em sua indiferença. Inclusive empresas de mídia que abraçaram seriamente seu papel na estimulação de modelos mentais amigáveis com o Todo — e educaram populações inteiras nessa direção — são as que hoje permanecem. Ou seja: neste 2058, se mantêm vivas as empresas e marcas comprometidas com a Vida. Bastante óbvio, não?

Quando me lembro de tudo que passamos desde 2018 e vejo o quanto, juntos, conseguimos despertar e avançar para o cenário fértil deste 2058, agradeço infinitamente a Deus pela oportunidade de atuar, pelo mágico poder das ideias criativas, não apenas como ator, mas como um dos tantos autores conscientes da História reescrita.

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