Da Europa, com rigor

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Opinião

Da Europa, com rigor

Nova regulação para coleta e uso de dados no Velho Continente impactará empresas do mundo todo


21 de maio de 2018 - 11h54

Crédito: Pe3check/iStock

Entra em vigor, na próxima sexta-feira, 25 de maio, a regulação geral de proteção de dados da União Europeia (GDPR, sigla em inglês para General Data Protection Regulation). Dentre uma série de restrições ao uso de informações pessoais acessadas por meio do rastreamento das atividades online, a lei determina que qualquer empresa com negócios nos países do bloco — ainda que sua sede esteja instalada em outro continente — esclareça ao consumidor como são coletados dados pessoais, de que forma são utilizados e por quanto tempo ficam armazenados.

E como, há algum tempo, o propósito de um veículo semanal deixou de ser o resumo da semana, pois é preciso antecipar os temas com maior impacto sobre os dias e meses que virão, a última edição impressa de Meio & Mensagem, caro leitor, foi produzida sob esse conceito, e os dois principais pontos da implementação da GDPR são abordados em diferentes reportagens e sob variados ângulos ao longo das páginas do jornal.

A preocupação com o gigantismo, tanto em capacidade financeira quanto de influência, das empresas líderes em transformar o acúmulo e análise de dados dos ambientes digitais em ofertas e receitas polpudas (leia-se Facebook, Google, Amazon e Microsoft, para citar as maiores representantes deste grupo) norteia o acirramento no vigor da fiscalização aos ambientes de negócios nos quais tais companhias estão inseridas — vide o recente escrutínio público ao qual o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, foi submetido durante a investigação do caso Cambridge Analytica. O tema aparece na entrevista do empreendedor Ricardo Semler ao editor Igor Ribeiro, publicada na edição impressa, na qual o empresário ícone da cultura horizontal de gestão corporativa no Brasil compara a concorrência desleal dos dias de hoje à era da fundação das indústrias ferroviária, metalúrgica e financeira nos Estados Unidos.

O foco principal do GDPR remete a ampliar o direito à privacidade digital e em como tornar totalmente transparente o uso de dados do consumidor como moeda corrente. A coleta de dados de quem navega pela internet cresceu de maneira exponencial nos últimos anos sem uma homogeneidade nos critérios para seu uso, num ambiente muitas vezes comparado a uma terra sem lei em que empresas agem nos vácuos da ainda incipiente legislação — direção oposta à trilhada por empresas de vanguarda em setores mais tradicionais, que buscam ampliar o rigor de suas governanças e o leque de boas práticas para seguirem merecendo a confiança do consumidor e trabalharem sempre à frente do que pode ser imposto por autoridades públicas.

Sob essa ótica, a reportagem de Luiz Gustavo Pacete e o artigo escrito a quatro mãos pelo CEO da Fbiz, Roberto Grosman, e a diretora de planejamento da agência, Julie Philippe, na seção Forum, ajudam a elucidar os desafios nessa seara. As multas para quem descumprir as regras são milionárias. Mas prejuízos financeiros operacionais em companhias sólidas são como acidentes de percurso e podem ser recuperados nos trimestres seguintes. Já a confiança, quando estremecida por desavenças de cunho ético, quase sempre leva muito mais tempo e tem um custo maior para ser restabelecida. Uma boa referência são os escândalos envolvendo empresas do setor automobilístico nesta década, com a reputação de grandes marcas globais do setor colocadas em xeque e o dispêndio de bilhões de dólares em multas e indenizações.

O principal impacto para aqueles que insistirem em se manter à margem da GDPR certamente será a perda de credibilidade junto à sociedade em seus mais diferentes agentes — individuais, comunitários e corporativos —, uma vez que as novas diretrizes devem ampliar o debate e criar uma divisão mais nítida na percepção pública entre, digamos, “empresas do bem” e “empresas do mal” — e os tempos, temos visto, são propícios ao binarismo em questões macro, como essa.

 

*Crédito da imagem no topo: ilustração: Diego Bianchi – Imagens: Cnythzl – FL-Photography – Mixmagic – Ollo – Peskymonkey – Tanaonte – Tero Vesalainen – Trinetuzun – Zapp2photo – Jordideldago – Olegalbinsky – Serts – Ikars/iStock e Olivier Douliery – Adam Berry – Mark Renders -/Getty Images

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