Sobre vida e revistas

Buscar
Publicidade

Opinião

Sobre vida e revistas

Por tudo o que ainda significam, a notícia do fechamento de várias revistas esta semana me deixou especialmente triste


10 de agosto de 2018 - 15h25

Cresci querendo ser a Garota Capricho.

Comecei cedo a me encantar com as fotos de mulheres lindas, roupas e lugares maravilhosos que as revistas traziam. E também a mergulhar escondida em algumas páginas indecorosas, como dizia meu pai. Já gostava e tanto de revistas, que sabia de cor o nome de todas as editoras nacionais e das poucas internacionais às quais tinha acesso na época. Gosto até hoje das pessoas que assinam e deixam impressas suas opiniões.

Gosto do cheiro, da textura, da forma e do conteúdo das revistas.

Gosto da vida em 4D. Foi o que as revistas sempre me trouxeram. Ampliaram minhas dimensões. Revelaram o novo, desnudaram o belo. Através das suas capas e páginas, aprendi a arquitetar, inventar moda, a me passar por cozinheira e me aventurar por outros mundos. Também me aproximei dos dramas humanos.

As revistas quebraram tabus e, sem vergonha, escancararam suas páginas com temas perturbadores: prazer, sedução, fetiches, orgasmo, aborto, trabalho, medos, violência, discriminação. Trouxeram práticas e políticas sociais para a pauta do nosso dia.

Através das revistas, o mundinho das mulheres virou o universo feminino.

Também foram elas que trouxeram as mulheres mais desejadas do mundo para dentro dos quartos, armários e banheiros masculinos.

Por tudo o que ainda significam, a notícia do fechamento de várias revistas esta semana me deixou especialmente triste. E dessa vez, não era o fechamento da edição do mês ou da semana. Era o fechamento de portas e de páginas da nossa história, o que me leva a refletir.

Enquanto pregamos a inclusão de pessoas, praticamos a exclusão de meios. Agradeço todos os dias, a existência do meio digital e das novas tecnologias. Não consigo pensar a vida sem eles. Apontados como causadores de todo o bem e todo o mal,  só somam à minha vida. Não subtraem. Nem substituem. Cada ferramenta tem sua função, cada canal é mais uma maravilhosa forma de se expressar e de se comunicar. Isso vale para o trabalho, vale para a vida. Portanto, que surjam cada vez mais meios e canais e que nunca desapareçam as revistas.

Editores, jornalistas, fotógrafos, repórteres, turma imensa de profissionais e moço da banca: Obrigada e não desistam.

Vocês foram e sempre serão referência e inspiração.

*Crédito da foto no topo: Fotolia

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Menos robôs, mais criatividade

    Saindo de uma visão apocalíptica, podemos pensar a IA como base para uma nova era de desenvolvimento tecnológico, impulsionada pela criatividade e inovação

  • Longe do fim

    A luta pela equidade de gênero e raça no mercado da comunicação e do marketing