Opinião
O medo que mobiliza
Enfrentar e discutir o medo a cada instante é diminui-lo e aceitá-lo
Enfrentar e discutir o medo a cada instante é diminui-lo e aceitá-lo
22 de agosto de 2018 - 17h42
Há dois anos, li o livro Organizações Exponenciais e meus cabelos ficaram em pé. Há um mês, estive no curso da Singularity e meus cabelos voltaram engomados em pé. Explicita ou implicitamente, o recado de todas as aulas era que tudo está virando de cabeça para baixo e rápido.
Sediado em uma antiga base da NASA, com noventa e dois alunos de diferentes idades, oriundos de 38 países e com posições de liderança nas indústrias de educação, energia, comunicação, bancária, transporte e outros, o curso instiga que como líderes, propaguemos que o pensamento exponencial transformará o mundo para melhor.
Sem dúvida, exemplos como a possibilidade da energia solar e eólica valer um centavo de KwH e que elas predominarão em 2028; que a vida se estenderá em trinta a quarenta anos até 2036; que softwares criarão outros softwares independentemente do ser humano; que a inteligência artificial conseguirá prever um potencial criminoso com 85% de acerto por meio de imagens de rostos; que aparelhos manterão o coração batendo para sempre; que teremos nosso genoma mapeado através da saliva deixada em uma esquecida xícara de café, sem necessariamente o nosso consentimento, são alguns exemplos de iniciativas que já estão em curso.
No nosso discurso final de “formatura”, todos os colegas transmitiram mensagens positivas e esperançosas sobre o futuro e que, como líderes, seríamos os porta vozes do pensamento exponencial. Porém, ao contrário de todos, fui o único que tocou na palavra medo. Naquele momento, não era especificamente o medo de ver uma carreira inteira substituída pela tecnologia e o temor da obsolescência, mas o medo interno que embaralha sentimentos, isto é, o medo da transformação interna que ele pode causar se eu me permitir.
Dizem que o medo paralisa, mas estranhamente ele me mobiliza. Assim como não falar dele, é como jogá-lo debaixo do tapete sabendo que ele voltará com influência redobrada. Para mim, o medo é como um balde de água gelada, é uma oportunidade de uma tomada de consciência e é a hora para repensar valores, condutas, redirecionar o futuro e enfrentar o novo. Enfrentar e discutir o medo a cada instante é diminui-lo e aceitá-lo.
Basicamente, foi com esse sentimento que voltei do curso. Cheio de incertezas, mas ávido por novas informações e ciente de que o primeiro grande desafio está dentro de mim. Já que entender a causa dos nossos sentimentos significa 90% da solução do problema, então que venha a transformação tecnológica.
*Crédito da foto no topo: Pixabay/Pexels
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