O que revela o hacking do M&M

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Opinião

O que revela o hacking do M&M

Hacking é mais do que apenas um crime digital, passou a ser a própria internet em si, uma das naturezas originais primeiras do ambiente digital, um câncer em estado de metástase, que se alojou no corpo social global e que não tem, no momento, nenhuma perspectiva remota de cura


3 de setembro de 2018 - 14h14

Crédito: Iaroslava Kaliuzhna e Marylb/iStock

Como o leitor possivelmente tomou conhecimento, os sites www.meioemensagem.com.br e www.proxxima.com.br foram hackeados na semana passada.

Milhares de sites por segundo são hackeados mundo afora. Bilhões de dados por ano são invadidos e assaltados. Não fomos exceção, somos a regra.

Mas que regra é essa e o que ela nos revela sobre o mundo em que vivemos?

Aproveito o (infeliz) gancho do hacking, para falar sobre o que de fato é a internet hoje. O que é o hacking e o que nossa vida digital e a vida das nossas empresas têm a ver com isso.

Começo dizendo que no parágrafo aí acima tem um grave erro: não existe vida digital. Existe vida, e o digital embedado profundamente nela, já que não existe praticamente nada hoje que não esteja ligado ao mundo digital. Presencial e virtual andam co­lados, são lados de uma mesma existência e então, quando invadem qualquer site no mundo, estão invadindo a vida real de alguém. Como um assalto a sua casa. Igual.

Depois, como disse, a invasão da privacidade, via hacking clássico como foi o das propriedades digitais do Grupo M&M, ou via manipulação indevida e não permitida dos nossos dados pessoais e empresariais, são hoje regra, e não exceção, na web. É como se estivéssemos todos morando na Rocinha, onde infelizmente o crime mora ao lado e faz vítimas diárias, parte relevante delas inocentes que nem sabem por que foram vitimadas.

Analogicamente, isso somos todos nós, na internet, hoje.

A história do lado mau da internet começa quando a internet começa, assim como hackear computadores existe desde que apareceram os primeiros computadores. O lado negro da força nasce com a força. Portanto, longe de ser novidade, essa história de hacking é o espelho permanente e inerente do amplo espectro humano no ambiente virtual, em que cabe apreciar gatinhos cuti­cuti no YouTube, assim como fomentar guerras reais em qualquer parte do mundo, hoje essencialmente promovidas e providas pelo mundo digital. E exatamente pelo tal do hacking.

O que é novo é a dimensão, a profundidade e o alto grau de excelência do hacking hoje.

Isso nos coloca diante da seguinte situação: nossa vida pessoal e profissional, nossos dados pessoais e profissionais, nossas finanças e as finanças das nossas empresas, nosso trabalho, nossas famílias, nossas intimidades, bem, nossa existência, de um modo geral, estão hoje regidas pela certeza da incerteza e da violência do hacking.

Hacking é mais do que apenas um crime digital, passou a ser a própria internet em si, uma das naturezas originais primeiras do ambiente digital, um câncer em estado de metástase, que se alojou no corpo social global e que não tem, no momento, nenhuma perspectiva remota de cura. Antes ao contrário.

O cálice sagrado dessa dominação é tecnologia pagã. Aliás, vale chamar a atenção aqui, tecnologia pagã é pleonasmo, porque toda tecnologia é pagã. Serve a qualquer deus ou a qualquer demônio.

O hacking é só a face mais muderna e conectada desse Inferno da álgebra, do algoritmo e das nossas infinitamente engenhosas sinapses, que em sua mais tenra essência são, libertariamente, amorais. Depende do uso que fazemos delas cada um de nós.

Portanto, estejamos prontos para o convívio com mal digital como se ele fosse um gás carbônico onipresente e inevitável. Vamos respirá-lo sempre e cada vez mais.

O que nos resta é confiar que há também inteligência e tecnologia do lado de cá. Que esse espírito dos tempos ruins vai ocupar nosso corpo de vez. E que vamos combatê-lo sempre, em toda parte, de todas as formas e com todas as nossas forças.

É o que pode, quem sabe, nos diferenciar dos ratos.

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