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Novos barões

Para a garantia de independência editorial, é melhor que empresas jornalísticas sejam abertas ou tenham apenas um dono?


24 de setembro de 2018 - 11h08

Crédito: Yongyuan Dai/iStock

Em newsletter para promover a edição comemorativa de seus 25 anos, a Wired, publicação especializada em inovação, abusou da sinceridade e adicionou um toque de ironia ao analisar os efeitos que o sucesso dos players protagonistas de suas páginas tiveram sobre o ambiente de negócios no qual a própria revista está inserida.

“Cobrimos a história da tecnologia enquanto seus heróis escalavam a hierarquia do status, de bobos da corte e párias a rainhas e reis. Isso foi conduzido com a complexidade de sermos parte de uma organização de mídia que cobre de maneira otimista as forças a destruir a mídia”, relata o texto.

Dois dias antes do disparo do e-mail para os assinantes, uma nova movimentação de mercado poderia ter suscitado a inclusão de mais uma linha na carta ao leitor da Wired: alguns dos heróis aos quais o texto se refere estão agora se tornando donos das empresas de mídia que sobreviveram à seleção digital — ao menos até aqui. No domingo 16, o fundador da Salesforce, Marc Benioff, anunciou a aquisição da revista Time. Em sociedade com sua esposa, Lynne, pagou US$ 190 milhões por um dos títulos mais influentes do jornalismo internacional.

Com a aquisição, Benioff se une a um grupo cujo integrante proeminente é o dono da Amazon e homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, que há cinco anos comprou o The Washington Post por US$ 250 milhões. Desde então, o jornal tem se transformado em termos de foco, estrutura e processos. Há um ano, o veículo ultrapassou a marca de um milhão de assinaturas digitais. Dentre os novos negócios estão ferramentas proprietárias desenvolvidas internamente e comercializadas globalmente, como a plataforma de publicação Arc Publishing.

Em julho de 2017, foi a vez de Laurene Powell Jobs, viúva do fundador da Apple, Steve Jobs, adquirir o controle acionário da The Atlantic, por meio da Emerson Collective, da qual é a fundadora. Os valores não foram revelados, mas não é segredo que a tradicional revista, agora com sede em Washington DC, como o Post, segue firme e forte em sua bem-sucedida tríade de relevância editorial, inovação digital e atratividade para os anunciantes.

Os dois exemplos são considerados laboratórios do jornalismo do futuro e servem como alento para a Time: são projetos com um olhar nos anos que virão e capitalizados para aguentarem os possíveis solavancos até que o modelo de negócio se torne sustentável e prove-se longevo. O senão envolve uma discussão não tão nova assim para empresas de mídia: para a garantia de independência editorial, é melhor que sejam empresas abertas ou tenham apenas um dono, como uma espécie de mecenas moderno?

Um artigo escrito pelo repórter David Gelles, do New York Times, recordou outros casos em que o casamento entre bilionários e empresas jornalísticas tiveram caminhos opostos aos citados acima. Dentre as fontes ouvidas, os principais questionamentos eram relacionados aos verdadeiros objetivos a motivar as aquisições. Não é exatamente o setor mais eficiente para gerar lucros de curto prazo. Também não pode ser apenas caridade, uma fonte de moeda social para melhorar a imagem junto ao público, a qual muitos recorrem, como construir hospitais e universidades. Pior ainda quando o interesse é unicamente ganhar influência política, especialmente com títulos locais.

Todas as opções acima são basicamente inférteis, pois seus propósitos não estão conectados com a essência do jornalismo como um serviço ao público — uma missão cada vez mais nobre e necessária quando praticada dentro de sua excelência, especialmente neste contexto de posições polarizadas em que a tentação autocrática mora ao lado.

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