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Opinião

Tomando o pulso

O recebimento do 13º, as promoções da Black Friday e as festas de fim de ano compõem um cenário interessante para a observação do comportamento do consumidor e seu nível de otimismo quanto aos dias que virão


19 de novembro de 2018 - 10h58

Crédito: Bee32/iStock

O mercado financeiro entrou de vez em compasso de espera. A Bolsa de Valores acumulou quedas consecutivas e o dólar subiu, reflexo dos sinais contraditórios emitidos por altas patentes do novo governo para o campo da economia e outras áreas com influência direta na geração de riquezas a médio e longo prazos, como o Meio Ambiente e o Trabalho.

Olhando para trás, a euforia inicial registrada pelos indicadores logo após o final da campanha eleitoral, quando o Ibovespa bateu recordes históricos e o dólar recuou aos níveis mais baixos dos últimos meses, representava muito mais um movimento ligado à derrocada do projeto petista do que a confiança no novo grupo político a comandar o País.

A boa vontade dos mercados incluía também a expectativa da proposição e aprovação de um pacote mínimo de reformas, a começar pela da Previdência, se possível ainda este ano — o que parece, cada vez mais, um objetivo distante, diante da disposição de Congresso e Senado em mostrar força para as futuras negociações com o presidente eleito e sua equipe. O custo dessas incertezas já começa a ser precificado nas negociações públicas de títulos e papéis.

Se no campo financeiro os indicadores medem praticamente em tempo real o poder de atração do novo governo junto a investidores, nas próximas semanas será possível também tomar o pulso, pela primeira vez desde as eleições, da chamada economia das ruas — aquela cujos indicadores são o movimento nas lojas, o grau de dificuldade para achar vagas no estacionamento do shopping e a troca de placas de aluga-se pela fachada de um novo comércio.

O recebimento do 13º salário, as promoções da Black Friday (muitas já em vigor desde o começo do mês) e as tradicionais compras de Natal e fim de ano compõem um cenário interessante para a observação do comportamento do consumidor e seu nível de otimismo quanto aos dias que virão. Será um teste de fogo para o varejo, que registrou seu pior desempenho para o mês de setembro em 18 anos, com um recuo de 1,3% em relação a agosto, segundo o IBGE informou na semana passada.

Há bons motivos, porém, para acreditar numa retomada: medido pela Fundação Getúlio Vargas, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) voltou a ganhar um viés positivo em outubro, após dois meses consecutivos de retração. É verdade que as estatísticas seguem em patamares baixos, se levarmos em conta os valores históricos. Estamos em níveis próximos de maio e muito distantes do ápice de 2018, medido em março, antes que a Greve dos Caminhoneiros jogasse para o acostamento a possibilidade de uma recuperação mais forte da economia ao longo do ano. A novidade é que, de acordo com a FGV, o aumento no ímpeto de compras foi o principal motor da alta do índice de confiança — o indicador que mede a intenção de compras de bens duráveis, por exemplo, chegou ao seu nível mais alto desde outubro de 2014.

Ao acreditar no futuro melhor, vivemos (e consequentemente consumimos e investimos) como se o amanhã fosse ser mais seguro e farto do que hoje. Numa espécie de profecia que se autorrealiza, o aumento da demanda gira o capital na praça e cria-se um ciclo virtuoso.

A capacidade de consumo, claro, depende da disponibilidade de renda — e esse é um fator sujeito fundamentalmente à melhora de índices como os que medem a produtividade e o nível de emprego, cuja reação segue ainda em ritmo lento. Mas a confiança de que o bolso voltará a se encher, após o consumidor esvaziá-lo, sempre será a principal ferramenta de conversão de vendas de qualquer setor.

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