O líder do futuro? Está em La Casa de Papel

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Opinião

O líder do futuro? Está em La Casa de Papel

Geração Z vislumbra times mais diversos, com espaços para expor vulnerabilidades e emoções


28 de janeiro de 2019 - 11h07

Crédito: divulgação

No final de 2018 tive o privilégio de colocar em prática um projeto muito especial sobre a liderança do mercado publicitário no futuro. Em conjunto com o Meio & Mensagem e Diego Selistre, da Histórias de Comportamentos, além da Cia de Talentos e outros importantes parceiros, a ideia que estava na gaveta ganhou as ruas, depois se transformou em conteúdo jornalístico, publicado na edição de 7 de janeiro.

Chamado “Líderes do futuro”, o projeto foi um estudo investigativo de como os jovens, estudantes de publicidade e ingressantes no ambiente de trabalho das agências se imaginam liderando nosso mercado em 2040. O que deixam para trás? O que trarão de novo? O que incomoda? O que fascina? O que temos a aprender com os valores e sonhos desta geração? Essas eram algumas das inquietações que me vinham à mente ao idealizar o estudo e, confesso, este foi um daqueles projetos que terminei, como profissional e como pessoa, diferente de como comecei.

As entrevistas foram feitas com jovens nascidos entre 1995 e 2010, a chamada geração Z. De tudo o que aprendi, entendo que três aspectos fundamentais moldam suas características:

1. Nasceram em um ambiente altamente tecnológico. São conectados, mas não necessariamente dependentes da tecnologia, vivem com ela e entendem que podem, inclusive, desenvolvê-la. Demoram não mais do que cinco minutos para descobrir se uma fake news é mesmo fake. Transparência é, portanto, um valor-chave para eles. Isso quer dizer que, como líderes de organizações, não temos espaço para adotar um discurso bonito na teoria e que não acontece na prática. Para eles, mais importante do que “o que” entregamos como empresas, está o “como” e o “por que” fazemos.

2. Cresceram com a crise econômica no Brasil e no mundo, em meio ao terrorismo e desastres ambientais. São, portanto, mais realistas e críticos. Encontrar uma empresa que compartilhe valores semelhantes aos seus é importante, mas não suficiente. Esperam reconhecimento. Entendem que as empresas têm a contribuir valorizando-os financeiramente, mas, além disso, colaborando para seu desenvolvimento com feedbacks, treinamentos e oportunidades.

3. Vêm de ambientes familiares menos convencionais. Têm cada vez menos irmãos biológicos e mais meios-irmãos e amigos-irmãos. São o grupo racial e etnicamente mais diverso da história e, por isso, diversidade e inclusão não é algo a ser discutido, é incondicional. Um estudo recente da consultoria EY feito em diferentes países mostra que 86% dos jovens considera como critério decisivo para escolher uma empresa se há ou não igualdade de oportunidades nela. No estudo realizado com o Meio & Mensagem, eles apontam que esperam muito mais do mercado publicitário neste sentido. Antes de trabalhar nas agências, 55% deles acreditam que existe diversidade no ambiente publicitário, mas após ingressarem, este número cai para 35%. Independentemente do nível social, os entrevistados destacam a distância que jovens das universidades têm das agências (ou vice e versa). Não foi fácil ouvir deles as inúmeras tentativas frustradas de aproximação. Sinal de que precisamos falar menos e agir mais.

Outro aspecto fundamental, com certeza decorrente dos contextos tecnológico e familiar: para eles a liderança é plural e não singular. Diferenciam com exatidão o líder do passado e do futuro, e não perdem em nada para livros e teóricos que abordam o tema.

Trouxeram como referência de uma liderança passada, a personagem Miranda Priestly, de O Diabo Veste Prada. Não aceita questionamentos, mobiliza o time pela autoridade e coloca o “eu” na frente do “nós”. E o do futuro? Professor, de La Casa de Papel. Um exemplo que contempla, na visão deles, características fundamentais, como saber compor e fazer funcionar um time com diferenças, tem um propósito claro, que emociona e mobiliza, e expõe suas vulnerabilidades e emoções, abrindo espaço para a verdade do outro.

Enfim, diante de tudo o que vi e ouvi neste projeto, me parece que não cabe mais usarmos verbos no tempo futuro dentro das empresas. Nossas culturas, pela influência destes jovens, já não são mais as mesmas. A mudança está bem na nossa frente, basta deixarmos de lado nossos pré-conceitos e antigas verdades, e partirmos para o novo.

*Crédito da imagem no topo: Rawpixel/iStock

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