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O desafio dos dez anos aplicado a influenciadores, media social e mobile, e a dificuldade de as agências abraçarem a diversidade, por Ian Black


12 de fevereiro de 2019 - 11h23

(crédito: vgajic-iStock)

Entrei na propaganda tarde, com 29 anos, sem nenhum diploma na mão e nenhuma perspectiva na cabeça. Mas foi no meio publicitário que eu me encontrei como profissional e pude prosperar em várias frentes. Passei de funcionário ingênuo para dono de uma agência com propósitos sólidos e com uma longa estrada pela frente. O desafio dos dez anos me fez olhar pra trás e comparar o que de mais significativo mudou dentro do nosso mercado (e o que ainda podemos e devemos mudar).

1 – O que os blogueiros viveram foi apenas um ensaio para os youtubers. Os blogueiros deram as caras com certa relevância entre 2000 e 2009 e influenciaram bastante a forma como consumimos notícias hoje em dia. Contudo, a relação dos mesmos com a publicidade foi relativamente curta e pouco próspera. O último grande suspiro de relevância publicitária da blogosfera brasileira aconteceu com a ação “Porto Cai Na Rede”, onde blogueiros de todo o Brasil foram convidados para um festerê sem precedentes em Porto de Galinhas, cuja ação terminou em suposto calote do secretário de turismo da região. Hoje, a blogosfera vive de lembranças dessa breve época de bonanças que é desfrutada quase que unicamente (e em potências muito mais elevadas) por instagrammers e youtubers. São mimos diários, festas, eventos, viagens, anúncios, livros e uma série de coisas que servem de incentivo para que muita gente mesmo se arrisque a ser um “digital influencer”.

2 – Mobile e Social Media já foram departamentos de inovação . As agências “clássicas” mais ~antenadas~ montavam seus departamentos de social media e mobile, com seus respectivos especialistas, que basicamente tentavam emplacar algum suspiro de originalidade e inovação que agradasse ao cliente, mas sem comprometer os milhões de mídia investidos em TV ou mídia display. Foi o começo do que muitos ali metidos sonhavam em transformar “departamento em conhecimento” (compartilhado com todos). Hoje, Facebook e Google dominam grande parte dos investimentos em digital justamente por aliar conteúdo de mídia social veiculados na plataforma mobile. As agências clássicas continuam investindo em TV, financeiramente e criativamente, como dez anos atrás.

3 – Racismo estava só na minha cabeça (ou nem ali). Lembro-me de ter passado por algumas poucas agências e ser o único cara preto do rolê. Para a minha sorte, das duas, uma: ou a minha bi-racialidade me garantiu certa passabilidade ou eu apenas ainda não estava maduro politicamente para ter uma postura mais combativa. Se feminismo ainda era uma pauta que estava surgindo aos poucos, raça (e racismo e o reconhecimento da responsabilidade da publicidade e seu compromisso em mudar o cenário) era algo simplesmente inexistente. Hoje vemos algumas poucas empresas e agências se movimentando de forma tímida para terem espaços mais acolhedores e incentivadores e times mais diversos e prósperos. É possível começar a ver mais pessoas pretas nas agências, mas estamos muito, mas muito longe mesmo de qualquer situação que ainda não provoque desconfortos.

4 – Os inimigos dos influenciadores eram os jornalistas, hoje são os publicitários. Como o blog era um meio muito mais textual do que qualquer outra coisa e por muitos blogueiros serem jornalistas ou conseguirem furos ou audiência de fazerem frente a grandes veículos que ainda engatinhavam digitalmente, a grande treta da época era entre blogueiros e jornalismo, o que levou a Talent a criar uma campanha para o Estadão comparando blogueiros a macacos. Foi uma das primeiras vezes em que os publicitários entraram na mira do fogo incansável da social media (embora a treta ainda fosse com os jornalistas). Hoje a mídia social está muito mais politizada e seus influenciadores, principalmente no Twitter, YouTube e Facebook adoram problematizar campanhas machistas, racistas, homofóbicas e transfóbicas e garantem que muitas nem sequer continuem no ar. O mercado de agências e anunciantes é constantemente colocado em cheque quanto a sua incapacidade de abraçar diversidade em seus espaços e suas criações.

5 – User Generated Content era difícil de gerar. Há alguns anos o Dudu Camargo, da Mutato, falou de uma ótima ideia para palestra: Como Cases de User Generated Content do Passado Seriam Resolvidos Hoje. Faz todo sentido. Em 2009, vídeo gravado pelo usuário comum era coisa rara e cara. Os celulares eram péssimos em performance, armazenamento e resolução e ainda havia poucas pessoas com laptop, que normalmente vinha com uma câmera de fácil utilização. Campanhas de UGC em vídeo nasciam fadadas ao fracasso e é justo classificar os criadores de campanhas assim como visionários. E irresponsáveis. Hoje, com youtubers e toda uma geração completamente acostumada a gravar e editar vídeos, nosso maior desafio se tornou manter a relevância num cenário em que influenciadores e outros fenômenos tomam quase toda atenção do público para si.

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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