Por que a China estará na frente em uma Guerra Comercial

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Opinião

Por que a China estará na frente em uma Guerra Comercial

As ameaças comerciais de Trump podem prejudicar muito mais os Estados Unidos do que a sua concorrente asiática


17 de março de 2017 - 16h28

Crédito: ReproduçãoDurante sua campanha eleitoral, o presidente norte-americano Donald Trump ameaçou impor tarifas de 35% a 45% nas importações chinesas para forçar a China a renegociar sua balança comercial com os Estados Unidos. O resultado imediato dessa ação seria uma acirrada guerra comercial na qual os EUA provavelmente perderiam. E, enquanto não sabemos ainda se Trump seguirá com essa ameaça, o abandono dele do Tratado Transpacífico nos seus primeiros dias de governo é uma indicação que ele não está desviando das suas promessas eleitorais.

Trump está entrando em águas desconhecidas. Ele já demostrou sua ignorância sobre negócios da Ásia quando publicamente aceitou uma ligação da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, em dezembro, e logo depois, anunciou que ele não entendeu a política de “Uma China”, ou o porquê deveria respeitá-la. Seu abandono do Tratado Transpacífico vai simplesmente acelerar o distanciamento da China com os EUA como a potência econômica mundial.

Até o momento, a China decidiu esperar os EUA darem o primeiro passo. Uma guerra comercial seria problemática para a região, sem descontar o Sudeste da Ásia, que seria mais suscetível a sofrer uma queda negativa como maior parceiro de negociações com os Estados Unidos e a China. Mas isso não seria um desastre para a China, principalmente porque os Estados Unidos precisam da China mais do que o contrário.

Enquanto o mercado americano pareceu sedutor há algumas décadas atrás, ele amadureceu relativamente e, hoje, os mercados dos países emergentes tem se tornado muito mais interessante para Beijing.

Infelizmente para Trump, não estamos mais nos anos 1980. Vinte anos atrás, a situação poderia ter sido diferente. A China era dramaticamente subdesenvolvida e queria acesso a tecnologias e técnicas de manufatura do Ocidente. Hoje, a China tem a maioria das coisas de que precisa e o que não pode obter facilmente, consegue por fornecedores fora dos Estados Unidos. Enquanto o mercado americano pareceu sedutor há algumas décadas, ele amadureceu relativamente e, hoje, os mercados dos países emergentes têm se tornado muito mais interessante para Beijing.

Os mercados que mais crescem para os melhores itens produzidos pela China, como laptops e celulares, estão em regiões em desenvolvimento como a Índia, a América Latina e a África. Por outro lado, a própria China é um mercado que os Estados Unidos não podem ignorar. Ao final de 2015, consumidores chineses compraram 131 milhões de iPhones. As vendas totais para os consumidores americanos durante o mesmo período ficou em 110 milhões. E iPhones são apenas uma pequena parte das exportações americanas. A Boeing, que emprega 150 mil trabalhadores nos Estados Unidos, estima que a China vai comprar cerca de 6.810 aviões nos próximos 20 anos, e esse mercado sozinho vai valer mais de US$ 1 trilhão.

O resultado seria uma guerra econômica de atrito na qual a China é infinitamente mais qualificada para ganhar.

Se Trump iniciasse uma guerra comercial, o efeito mais imediato cairia sobre companhias como o Walmart, que importa bilhões de dólares de itens baratos que são comprados pela maioria das pessoas que votaram em Trump para presidente. Os preços na maioria desses itens provavelmente subiriam rapidamente para além do alcance de extratos econômicos inferiores – não por causa dos custos de manufatura, mas por causa das tarifas. O resultado seria uma guerra econômica desgastante a qual a China é infinitamente mais qualificada para ganhar.

A reserva de moeda estrangeira da China está em mais de US$ 3 trilhões no momento. Em contraste, os Estados Unidos têm reservas cambiais que pairam em US$ 120 bilhões. As tarifas de Trump iriam gerar automaticamente sanções contra os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC) e poderia causar o colapso da OMC, o que aumentaria as tarifas contra as exportações dos Estados Unidos. Enquanto pode demorar um pouco para isso acontecer, o tumulto seria uma catástrofe para os negócios e empregos para a América. A China, no entanto, iria imergir relativamente ilesa.

Na verdade, a importância da relação entre os Estados Unidos e a China já está sendo desafiada por outros players. As vendas do iPhone da Apple na China estão enfrentando uma competição dos produtos chineses locais, e a Samsung está mais do que feliz em preencher qualquer vazio com que os chineses não saibam lidar. Da mesma forma, os chineses trocariam com prazer seus trilhões de dólares em compras futuras de aeronaves para a Airbus, uma empresa europeia que já está construindo uma filial na China para fabricar jatos gigantes. Já em automóveis, a maioria dos chineses dirigiria um Mercedes, um BMW ou Lexus tanto quanto um Ford.

Tanto a China quanto especialistas em economia esperam que uma guerra comercial não aconteça. O sistema político americano é relativamente maduro com seus pesos e contrapesos, mas com um presidente que normalmente age baseado somente em suas próprias crenças em relação a assuntos complexos, quase tudo é possível.

Tradução: Thais Monteiro

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