Opinião
Conteúdo não é mais rei
A forma como nós criamos conteúdo tem que mudar. Em um mundo ultra conectado, ignorar os dados que temos a nossa disposição e a jornada do usuário é uma grande falácia
A forma como nós criamos conteúdo tem que mudar. Em um mundo ultra conectado, ignorar os dados que temos a nossa disposição e a jornada do usuário é uma grande falácia
10 de agosto de 2018 - 12h16
No fim de semana passado, ocorreu em São Paulo o Content Summit 2018, reunindo profissionais de diversas áreas e empresas para discutir o futuro da criação de conteúdo. Liderando a mesa redonda, da qual eu participava, esteve Galileu Nogueira (brand manager da 99) e, ao meu lado na discussão, estiveram Gustavo Franco (growth & analytics manager da CI&T), Bruna Esteves (UX insight manager da Empiricus) e Letícia Milião (BI na Fbiz). O tema foi “Inovação na produção de conteúdo”. Passamos por diversos assuntos, falamos sobre a exploração de novos formatos, endosso de marcas e pedido de desculpas de jogadores de futebol. Em um certo momento, determinado a criar uma polêmica, Galileu Nogueira lançou a pergunta: conteúdo ainda é rei?
Não, conteúdo não é mais rei. A resposta estava muito clara para mim e para os meus colegas. Vivemos em uma guerra não declarada pela busca de um espaço na mente do cliente e com investimentos de mídia cada vez mais consideráveis, pois cada segundo da atenção do usuário é sagrado. Nessa louca busca por audiência, fomos condicionados a acreditar que o conteúdo era rei. Tudo girava em torno dele e acreditava-se que se você tivesse um bom conteúdo, o cliente ia te consumir. Depois era só investir em mídia para chegar até o usuário e, se o conteúdo fosse bom, ele iria engajar. Mas na era em que vivemos, onde a big data não é mais o buzz word, os “se”, “e se” e “se for bom” não têm mais espaço. A inovação na produção de conteúdo vem, justamente, para abolir essas incertezas. É necessário se apoiar nos dados do usuário para entender o seu comportamento e sua jornada e, assim, criar um conteúdo altamente pertinente para ele em cada touch point.
A frase “façam conteúdo com conteúdo, e não conteúdo por conteúdo”, dita por Letícia Milião durante o evento, me marcou. Durante muitos anos em agência, vivemos o estigma de ter que entregar conteúdo por entregar. Muitos clientes simplesmente nos procuravam dizendo que precisavam ter um Facebook, e para muitos deles me pergunto o porquê até hoje.
Conteúdo sem propósito é propaganda. Conteúdo de verdade tem que entregar algo para o usuário e não só ser um asset de construção de marca ou um feature do seu produto descrito de maneira engraçadinha.
Quando nosso debate chegou à inovação e ao futuro da produção de conteúdo, não podíamos deixar de fora os influenciadores. Bruna Esteves fez uma colocação muito pertinente sobre micro influenciadores, dizendo o seguinte: “prefiro trabalhar com micro influenciadores, por meio de estratégias segmentadas, pois o alcance de um influenciador muito conhecido é muito grande, mas dificilmente oferece o engajamento que os micros têm a oferecer”.
O conteúdo sem profundo conhecimento do usuário e de sua jornada, não passa de propagada
Além disso, outro ponto levantado, que fez todo sentindo para mim, foi o de Gustavo Franco, que sugeriu: “traga o influenciador para dentro da marca. Faça ele ser o conteúdo e não apenas transmitir o conteúdo”. Acredito que a marca não deva ser apenas um sponsor de conteúdo, mas deva levar o usuário para dentro de seu universo, tornando-se uma plataforma. Desta forma, o usuário terá a oportunidade de construir uma relação com a marca.
Por fim, Galileu Nogueira nos guiou para uma reflexão muito valiosa sobre a importância das plataformas proprietárias e como a instabilidade de confiança que vivemos hoje dentro as redes sociais pode afetar toda a construção de uma marca. Com isso, concluímos que conteúdo é importante, mas ele não é mais o rei. O conteúdo sem profundo conhecimento do usuário e de sua jornada, não passa de propagada.
Fechamos a discussão dizendo que o “conteúdo é o príncipe, filho da união de dados com a jornada”.
Compartilhe
Veja também
Técnica e estratégia
Ambiente estressado pela pulverização de opções de mídia e pelas mudanças de comportamento da audiência valoriza os profissionais especialistas na atividade, mas exige desempenhos mais fundamentados
Premiunização para avançar
Fazer leituras rasas dos cenários econômicos pode restringir oportunidades de negócios